21 de janeiro é Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, por causa da morte de Mãe Gilda, do candomblé da Bahia, vítima de agressões por cristãos. É também o Dia Mundial das Religiões, assumido pela ONU para se promover o respeito à religião e entre as religiões, animando a possibilidade delas dialogarem em torno de princípios místicos e éticos que estão entre e para além das crenças, colaborando assim para a promoção da paz mundial.
Enquanto avança essa fé no respeito, a intolerância cresce mundo afora e, no Brasil, ela é racista e classista. Por isso, no campo religioso, quem mais sofre são as tradições afro-indígenas. É assim também em Pernambuco, razão pela qual vamos comemorar o Dia de Combate com uma manifestação das religiões promovida pelo nosso Fórum Diálogos lá no Terminal de Integração do Xambá (mapa por aqui), em Olinda, onde ocorrem muitos atos de intolerância com o Povo de Terreiro (conheça por aqui o Terreiro/Quilombo de Xambá).
O evento será no domingo 21, começando com um Acorda Povo já às 9h40. E todo mundo está convidado para a manifestação das 10 às 11 horas. Teremos sons diferentes para sonhos iguais da meninada: o Boi Quebra Coco do Grupo Bongar, a Orquestra de Câmara do Alto da Mina, da Igreja Batista dos Bultrins, e a Orkestra Tambores do Xambá. Além de alguns testemunhos, as lideranças das diversas tradições religiosas e filosóficas farão uma roda de compromissos e plantarão uma paineira africana, em sinal do cuidado pela nossa casa comum, que é a cidade… E o universo, que abriga uma mesma e diversa família humana!
Vamos celebrar o nosso espírito republicano, laico e cidadão: no campo das ideias, não gostar de religião, ou desta ou daquela religião, é um direito humano, tanto quanto não gostar do ateísmo ou do agnosticismo. Agora, ofensa e tratamento diferenciado a uma pessoa concreta em função de sua crença ou descrença é crime inafiançável e imprescritível: pena de reclusão de um a três anos e multa (Lei n. 9.459, de 1997). Uma coisa é a liberdade para se debater crenças e filosofias, outra é tentar impor sua convicção a alguém pela força ou pressão política, pela intimidação no espaço público. Uma coisa é a minha igreja, outra é o ônibus ou a escola, onde devemos cultivar o respeito à diversidade religiosa.
Vamos também aprofundar a (re)educação para uma cultura de paz. Em colaboração com o Fórum Diálogos e em parceria com o Consórcio de Transportes do Grande Recife, a nossa equipe do Observatório das Religiões já realizou intervenções pedagógicas nas escolas do entorno do Xambá, sensibilizando a comunidade para o fato de que aquilo que uma religião descobre como divino é sempre por causa das outras e é para todas as outras religiões também. Então, se alguma crença serve para discriminar alguém, é porque está sendo mal interpretada. Afinal, nossos templos apontam todos para o além: se ficarmos apenas olhando e comparando os templos, perderemos o céu estrelado e o seu reflexo: em nosso interior, na natureza e na história, nos olhos do outro!
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