ARTICULANDO A JUSTIÇA EM TEMPOS DE VIOLÊNCIA

“É preciso revigorar a consciência de que somos uma única família humana. Não há fronteiras nem barreiras políticas ou sociais que permitam isolar-nos e, por isso mesmo, também não há espaço para a globalização da indiferença” (Laudato Si).

 

Os desafios sociais e ambientais estão se agravando com a globalização do neoliberalismo econômico, que espalha dinâmicas de exploração e violência em nossas culturas, que ameaça os processos democráticos com políticas fascistas. Nesses tempos de retrocesso dos direitos humanos e de carência de justiça e paz na sociedade, as pessoas que cultivam alguma espiritualidade são chamadas a testemunhar publicamente a fé em um mundo no qual todas as pessoas e toda a natureza sejam reconhecidas como criação divina, em uma maneira de existir que considere a interligação entre todos os processos de vida e o respeito pelo outro como irmão – inclusive o irmão sol, a irmã lua…

O Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) surgiu nesse contexto desafiador, para potencializar o testemunho dos jesuítas e dos seus colaboradores na missão cristã. O OLMA é uma articulação de instituições e iniciativas focadas na promoção da justiça socioambiental dos Companheiros de Jesus no Brasil, para observar em profundidade as grandes questões emergentes da realidade conflitiva do país. Ele propõe-se a desenvolver ações de documentação, sistematização, reflexão, formação e articulação, de modo a colocar em sinergia todo o potencial da Rede Jesuíta, buscando interlocução com os diversos atores dentro e fora da Igreja, em vista da maior humanização de nossa história.

O Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife está situado na UNICAP, a Católica de Pernambuco, que é uma Universidade da Rede Jesuíta, e por isso foi convocado a colaborar na área das Relações Étnico-raciais e Diálogo Inter-religioso do OLMA, que é um dos seus diversos campos de atuação, incluindo Amazônia e Povos Tradicionais, Políticas Públicas, Economia Solidária e Educação Popular, Gênero e Juventudes, Migrantes e Refugiados.

Por isso, nos dias 27 e 28 de fevereiro, junto com o padre Marcos Augusto e a professora Valdenice Raimundo, autoridades da UNICAP, o professor Gilbraz, enquanto coordenador do Observatório das Religiões da Universidade e pesquisador do diálogo inter-religioso, e a advogada Thaís Chianca, mestranda em ciências da religião e membro do grupo de estudo do nosso Observatório, participaram no Centro Cultural de Brasília da V reunião do Conselho de Coordenação do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental.

O encontro permitiu uma troca de experiências entre os parceiros e colaboradores do OLMA, bem como a construção de agendas compartilhadas nas suas diversas áreas de ação. Na seção “Conhecendo Melhor” da pauta do evento o nosso Observatório das Religiões no Recife apresentou sua trajetória e âmbitos de atuação (veja os slides abaixo), buscando ampliar a rede de interação com grupos homólogos. Temos certeza de que o diálogo inter-religioso e intercultural pode criar uma ambiência mística de compromisso, entre e para além das tradições de fé, com essa frente ecumênica e ecológica da justiça socioambiental, desfraldada pelos jesuítas do Brasil. Ao mesmo tempo, todo diálogo autêntico deve incluir um Terceiro, como o respeito à integridade da Criação, anterior e exterior, entre e além das diferentes identidades e tradições.

Thaís Chianca, que foi compartilhar na reunião o nosso protagonismo na última ação do Observatório, a intervenção pelo respeito à diversidade religiosa no entorno do Terminal de Xambá, voltou com o seguinte depoimento: “o que eu vi foi a reunião de diversos observatórios, grupos e núcleos de todo o país, com envolvimento em temáticas referentes desde o diálogo inter-religioso, passando por questões de gênero, até políticas de atuação em favor da apropriação dos espaços, por povos historicamente marginalizados, como os povos indígenas, africanos e afro-brasileiros, migrantes e refugiados. Opera-se, nesse grande Observatório Nacional, mediante análise da conjuntura política atual, a elaboração de estratégias conjuntas, em prol de uma agenda comum, para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Um trabalho magnífico em desenvolvimento!”.

E uma ação imediata viabilizada pela articulação com o Observatório Nacional é a vinda de um grupo do Quilombo Morada da Paz ao Recife. Trata-se de uma comunidade quilombola do Rio Grande do Sul, que participará da Semana da Mulher da UNICAP,  realizará uma roda de conversa sobre espiritualidades tradicionais afro-brasileiras na reunião do Grupo de Estudo do nosso Observatório (na quarta 7 de março, das 17 às 18 horas, no salão das ciências da religião, 8º andar do bloco G4 da Universidade) e desenvolverá uma sessão de “Terreiro de Chão Batido”, um encontro inter-religioso a partir de brincadeiras compartilhadas, justamente em um espaço da cidade que sofre muita intolerância e violência, o Terreiro Xambá de Olinda (no domingo 11, das 17 às 19h). Com isso, vamos ajudando a criar laços de empoderamento entre o Povo de Santo, laços de solidariedade com as pessoas de boa vontade.

 

 

Saiba mais:

Intercâmbio pelo Diálogo Inter-religioso.

 

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