MÚSICA RELIGIOSA COMO PONTE

O professor e músico Mtafiti Imara, da Universidade San Marcos do Estado da Califórnia (EUA), visitou o nosso Observatório das Religiões da Universidade Católica de Pernambuco nos dias 28 e 29 de junho, para sedimentar um projeto de pesquisa em rede internacional, sobre música e diálogo entre religiões e culturas. Ele participou do evento Amalá de Xangô, exercício bonito de conversação com a religiosidade de matriz africana no Recife, acolhido na UNICAP pelo Programa de Ciências da Religião, e encontrou-se com autoridades da área de pesquisa, entre elas a professora Dra.  Valdenice José Raimundo, Pró-reitora de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade.

Mas o seu maior propósito foi estabelecer laços de amizade e cooperação acadêmicas com os participantes do Grupo de Estudo do Observatório, que já ensaiam algumas atividades e reflexões sobre a arte e as religiões, com destaque para a música religiosa. A música teve, com efeito, desde o início da história, um papel fundamental nos rituais humanos: os ritmos evocam transes em que o eu é transcendido em nome de um poder criador muito mais amplo, e a dança, então, dá realidade espacial à música, tornando-a concreta nas cirandas das comunidades. As religiões constroem, pois, os seus dosséis, fazendo variações com os símbolos artísticos, especialmente com música e dança.

Assim, o professor Imara está estabelecendo parceria para estudar as várias maneiras pelas quais a música tem sido usada para se desenvolver o principal objetivo do Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife, a saber, criar “entre lugares” de diálogo inter-religioso no espaço cultural recifense e brasileiro – cada dia mais conflitivo. Em meio às atividades previstas no projeto, o companheiro pretende também oferecer, em inglês, um curso sobre música ritual e religiões, para os estudantes da Católica de Pernambuco.

Estamos muito contentes com essa ponte que se vai criando, pois todos os povos e a terra inteira estamos ligados pela mesma origem em um quase-nada-caótico, de sorte que juntos é que devemos encarar nossa comum missão de salvar a vida, de espiritualizar o mundo, torná-lo mais consciente do – e consequente com o – espírito, o mistério vital da “dança” cósmica, entre a gente. Fora da caridade não há salvação. É inconcebível, então, que um só povo ou religião ou igreja, um só sexo ou “raça” ou classe sejam a luz do mundo. Todos somos luz e treva, em comunitária e mística evolução, pelo carinho e pela misericórdia que religam, em outros níveis, mesmo os aparentemente contrários.

Já dizia Teilhard de Chardin: “… As crises do nosso tempo estão desafiando as religiões do mundo a lançar uma nova força espiritual que transcende a fronteiras religiosas, culturais e nacionais para uma nova consciência da unicidade da comunidade humana e, assim, pondo em prática uma dinâmica espiritual em direção às soluções do problema mundial. (…) Reafirmamos uma nova espiritualidade, despojada de insularidade e dirigida a uma consciência planetária”. A passagem de Imara veio nos animar no estudo e envolvimento com esse caminho.

Pra saber mais:

Culturas musicais religiosas

Sons diferentes, sonhos iguais

Mostra arte e religião no Observatório

Internacionalização do Observatório da UNICAP

Observatório da UNICAP na América Latina

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