OS CANTOS SAGRADOS E O RESPEITO AO OUTRO

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“A tolerância deve ser uma fase transitória. Deve conduzir ao respeito. Tolerância é ofensa” (Johann W. Goethe).

 

As “Máximas e reflexões” do poeta ajudam a pensar e agir no sentido de superarmos a fase em que nem tolerar a gente tem conseguido na cultura brasileira. Na verdade, como se pode ver no documentário da ONU abaixo, cresce a intolerância religiosa no Brasil. E, segundo a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Disque 100 recebe uma denúncia a cada três dias por intolerância religiosa. Entre os anos 2011 e 2014 foram registradas 504 ocorrências pelo serviço disque denúncia, a maioria envolvendo o Povo de Santo das religiões afro-brasileiras, com cultos de imprecações cristãs contra os seus Terreiros e agressões aos seus símbolos e aos seus membros.

Esse quadro se reproduz na região da gente e, por isso, o nosso Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife tem intensificado os momentos de reflexão sobre esse fenômeno, mas também colaborado em ações culturais para o enfrentamento da violência religiosa. Nesse sentido, em parceria com o Diálogos – Fórum da Diversidade Religiosa em Pernambuco, os Programas de Estudos da Religião e o Instituto Humanitas da UNICAP, vamos participar de um encontro da arte com as tradições de fé e sabedoria, uma tarde de vivências sobre os “Cantos sagrados e o respeito pelo outro”, em que cantar e dançar embalarão a abertura para caminhos alterativos de transcendência.

O evento, dentro da Semana de Integração Universidade Católica e Sociedade, será no dia 22 de outubro, das 16 às 18h30, no hall térreo do bloco G da UNICAP. Com efeito, nessa mesma época, em 1965, o papa Paulo VI assinava a declaração Nostra Aetate, que assim concluía: “A Igreja reprova, como contrária ao espírito de Cristo, toda e qualquer discriminação ou violência praticada por motivos de raça ou cor, condição ou religião. Consequentemente, o sagrado Concílio, seguindo os exemplos dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, pede ardentemente aos cristãos que observem uma boa conduta no meio dos homens. E tenham paz com todos, de modo que sejam na verdade filhos do Pai que está nos céus”.

Mas ainda estamos longe de alcançar essa colaboração efetiva para a cultura de paz, seja da parte dos católicos ou de cristãos de outras igrejas ou dos devotos das demais religiões. A tarde artística na UNICAP, então, quer ensaiar essa possibilidade, reunindo representantes das várias tradições participantes do Fórum Diálogos, compartilhando testemunhos de mães-de-santo, pastor e padre em uma Aula Pública sobre a defesa da diversidade religiosa e da inclusão social, mas, sobretudo, dividindo as danças e os cantos sagrados das diversas experiências espirituais para criar um clima de serenidade e atenção ao outro em nosso campus.

Precisamos aprender a tolerar comportamentos humanos e expressões simbólicas diferentes e, mais que isso, somos chamados a nos educar para a passagem do mero suportar ao compreender e respeitar. As visões de mundo e rituais religiosos são como um arco-íris, em que cada um pode embelezar a sua cor, mas consciente de que ela vai aparecer ainda mais bonita dentro do espectro das colorações do mundo. Quem sabe, em meio a um hino evangélico, através dos afoxés e do toré, a gente não se abre para ouvir uma palavra diferente e que cause diferença em nossas vidas, na direção do respeito cuidadoso pelo irmão – “de todas as raças, de todas as religiões”, como dizia Dom Helder!

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