21 de janeiro é o Dia Mundial das Religiões, assumido pela ONU para se promover o respeito à religião e entre as religiões, animando a possibilidade delas dialogarem em torno de princípios místicos e éticos que estão entre e para além das crenças, colaborando assim para a promoção da paz mundial. Religião tem a ver com justiça e paz, entre as pessoas e os grupos e povos. Religiosidade é descentramento de si e conexão com o outro e o Outro, re-ligação ao mistério da vida em tudo e em todos. Mas como é uma experiência humana, na prática às vezes a teoria é outra. Por isso, 21 de janeiro é também o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, por causa da morte de Mãe Gilda, do candomblé da Bahia, vítima de agressões por cristãos. E o Brasil segue marcado por essa intolerãncia, que é muito classista e racista, sendo que cristãos chegam a transformar a “liberdade religiosa” em direito de fazer proselitismo violento nos Terreiros Afroindígenas.
No ano passado, aqui em Pernambuco, o nosso Fórum Diálogos, de promoção do respeito à diversidade religiosa, celebrou o 21 de janeiro no aldeamento indígena Marataro Kaeté em Igarassu e, neste ano de 2024, vamos ser acolhidos por Mãe Elza de Iemojá no Terreiro Ilé Àse Egbé Awo (Rua Felismina Pereira, 305, Salgadinho), em Olinda. O encontro começa às 10h com acolhimento dos participantes e segue com defumação e cânticos para a divindade Malunguinho. As lideranças religiosas presentes vão, então, conversar sobre a paz e será assinada uma Carta Aberta do Fórum Diálogos pela Paz entre Israel e Palestina: os primeiros a assinar serão praticantes do islamismo e do judaísmo – as religiões mais implicadas na guerra que hoje aflige o Oriente Médio e desafia a paz no mundo.
O Projeto de Ética Mundial de Hans Kung, apresentado nas Nações Unidas, diz que “não há paz entre as nações sem paz entre as religiões; não há paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões; não há diálogo entre as religiões sem padrões éticos globais; não há chance de sobrevivência para nosso planeta sem uma ética global, uma ética mundial, apoiada por pessoas religiosas e não-religiosas”. Estamos, então, muito comovidos com o fato do Fórum estar celebrando o 21 de janeiro nos espaços sagrados de indígenas e do Povo de Terreiro, que mais sofrem intolerância por aqui mas com simplicidade e sabedoria, em sua pedagogia das encruzilhadas, conseguem reunir representantes de várias religiões e promover a coexistência de gente que está em guerra mundo afora – desarmando tanto a islamofobia quanto o antissemitismo. Isso lembra a filósofa e feminista Simone de Beauvoir, que em 1960 esteve no Recife e visitou um Terreiro: em “A força das coisas” ela narra a visita ao paradoxal Xangô, “essa religião que serve aos pobres, onde a lama toma o lugar do mármore, o barro toma o lugar do ouro”. Domingo, venha compartilhar dessa aprendizagem de fineza espiritual com a gente e degustar do almoço comunitário servido pelo Terreiro: afinal, “o Xangô é bom pra rezar, e pra comer bem”!
Bom dia professor Gilbraz.
De fato, precisamos avançar nessa cultura de paz e armonia entre as religiões. Violência, não condiz com os ensinamentos sagrados.
Eu confirmo presença. Gratidão pelo convite.