CAMINHANDO COM ABRAÃO

No sabado 31 de maio teremos uma manhã de caminhada pelo Recife, com concentração às 9h na capela da UNICAP. Trata-se da tradicional “Peripateia das Religiões”: uma experiência de aprender andando e conversando, uma caminhada rumo ao diálogo com as tradições espirituais no entorno da cidade, em vista de uma cultura de paz no Recife. Aproveitando as curiosidades que os estudantes manifestam, decidimos visitar cada semestre alguns centros religiosos de nossa Região Metropolitana, para compartilhar e discutir visões do sagrado pelas suas ruas, procurando superar preconceitos e aprofundar conceitos sobre os “caminhos” religiosos dos outros.

Tal vivência formativa, com os estudantes e professores dos cursos de estudos da religião na UNICAP, mas também aberta a pessoas interessadas da comunidade, já foi realizada várias vezes e para muitos templos. A experiência é coordenado pelo professor e doutor Artur “Peregrino”, com seu grupo de “Amigos no Caminho” (AMICA). A edição deste primeiro semestre de 2025 vai transcorrer com visitas guiadas ao Centro Islâmico da Boa Vista e ao Convento Católico da Glória (desta vez a Sinagoga do Recife Antigo não entra no roteiro).

Mas a escolha por esses centros das religiões abraâmicas, tradições “bíblicas” que remontam a Abraão, tem a ver com a guerra Israel-Palestina, acirrada desde 2023 pelo ataque do grupo Hamas e reação dantesca do atual governo israelense. O nosso Observatório das Religiões tem se envolvido em ações assim, de promoção da paz em meio a essa guerra e seus reflexos também no Recife e região. Seguimos o exemplo do Papa Francisco, que reuniu o cristianismo com lideranças islâmicas e judaicas em torno do documento sobre a Fraternidade Humana, incluindo a formação de um Comitê Superior para promovê-lo a partir da Casa da Família Abraâmica.

Então, a Peripateia deste sábado vem somar com tais iniciativas: esse passeio por espaços representativos das religiões abraâmicas, cujo profetismo aponta para uma mesma aliança divina em vista do shalom/salamaleico/paz do Senhor, mas que tem histórias de violências e intolerâncias sem paralelo na história, nos faz pensar sobre o que pode mesmo favorecer o encontro entre as pessoas, com suas diferenças religiosas e culturais. É preciso disposição para ir ao encontro do outro e conhecê-lo, fazer-se próximo; é necessário deslumbramento com o rosto da alteridade que nos interpela com seu jeito de viver e acreditar; é urgente focar na cura das feridas humanas e na cultura de compaixão, mais do que sobre a pregação de salvação.

A tradição abraâmica de religião, que se originou na Palestina, abarca o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, com todas as suas ramificações e desenvolvimentos, como os drusos e a fé baha’i. Ela tem como base comum a imagem de Deus apresentada na bíblia hebraica, que tem muita influência do zoroastrismo da Pérsia/Irã, buscando a sua adoração ou aliança como caminho salvífico, de saúde integral. Essa matriz acredita que existe um ser supremo que é o Criador e supervisor moral da vida e da história e a mais elevada atividade humana é a adoração e obediência a esse Deus, que estabeleceu comunicação com a humanidade por emissários históricos especiais e proféticos, como Abraão, Moisés, Jesus, Maomé, Bahá’u’lláh.

Então, além de uma origem comum, as religiões abraâmicas compartilham muitos valores fundamentais, como a importância da justiça, compaixão e dignidade humana: faça ao outro o que deseja que ele lhe faça. Colaborar em questões sociais pode ter um impacto significativo na vida espiritual desses caminhos religiosos, pois todos reconhecem uma causa comum ligada à justiça socioambiental, ao cuidado da Casa Comum que o Criador nos pede para ajardinar.

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