NOSSO CAMPUS É A GALÁXIA

O nosso Observatório das Religiões pulsa forte nas reuniões (virtuais, desde a pandemia) que o seu Grupo de Estudo sobre “Transdisciplinaridade e Diálogo” realiza toda quarta à tarde, desde 2005 (veja aqui a programação). Na última semana, alguém se deu conta de que cinco participantes estavam conectados na reunião desde o estrangeiro e isso causou enorme satisfação, por percebermos que vamos construindo uma escola de promoção do diálogo em nossos estudos de religião, que está se espalhando pelo rizoma acadêmico mundo afora.

Claro, o Brasil já é um mundo e, além dos mebros da Região Metropolitana do Recife, também temos gente participando desde Manaus, Rio de Janeiro, Fortaleza, João Pessoa e Garanhuns. Mas estamos indo mais longe: de fato, começamos a publicar no exterior, a participar de eventos e redes internacionais, bem como a promover encontros transnacionais. E o resultado começa a aparecer: até colegas que nem estão mais na UNICAP, e agora estudam ou trabalham em outros países, continuam ligados ao Observatório. Então, pedimos aos membros do Grupo que estão viajando um pequeno relato das suas andanças, que servem de emulação para todos nós: rumo a um campus sem fronteiras (a foto ao lado é do Guia do Mochileiro das Galáxias)…

Estou em meio a um desafiador caminho acadêmico que me levará ao título de doutora em comunicação. Neste semestre estou estudando na instituição de ensino Paris Lodron Universitat Salzburg, na Áustria, através do Programa Erasmus Plus. Aqui faço um estágio supervisionado no departamento de comunicação. O objetivo do estágio é contribuir com a ampliação dos dados sobre proprietários de veículos de comunicação na plataforma Euromedia Ownership Monitor. Podemos traduzir como uma plataforma de transferência de quem são os proprietários dos conglomerados midiáticos na Europa. 

Com essa oportunidade, estou trabalhando no desenvolvimento da minha pergunta de tese, que visa compreender as relações de poder econômico, político e religioso na formação de conglomerados midiáticos no Brasil. Além disso, curso algumas disciplinas curriculares, como Political economy of the Internet e Deutschkurs (Alemão). Tem sido uma experiência muito valiosa, uma vez que estou conhecendo outras perspectivas de estudo, pessoas de outras culturas e ao mesmo tempo observando a escassez de pesquisas como essa desenvolvida no departamento de comunicação daqui direcionadas às interfaces do contexto midiático no Sul global.  

Para vivenciar essa experiência tenho na minha trajetória a contribuição do Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife. Nele iniciei como pesquisadora no Pibic e fui até ao Mestrado e mesmo agora continuo aperriando, ganhando espaço para desenvolver e ampliar discussões em um ambiente intelectualmente instigante. E, com bons ensinamentos, estou indo… ao infinito e além!

Com carinho, Ray (Rayane Marinho).

Fiz mestrado na UNICAP mas atualmente estou em Nova Iorque, nos Estados Unidos, cursando o primeiro ano do doutorado em Teologia Sistemática na Universidade de Fordham. Gosto de pensar que o que me trouxe para o centro do capitalismo global, com apenas uma idealização e um pouco de inglês no bolso, foi uma pergunta em chave decolonial para o que/fazer teológico no Brasil, também marcado pelo que Aníbal Quijano chama de “colonialidade do poder”. Com uma cabeça do Sul do mundo e um corpo que herda uma herança ancestral “desajustada” da sua matriz original pelas forças da colonização, quero entender melhor, em tom de reconciliação/reparação, como é possível insistir num projeto decolizador a fim de que a comunidade negra no contexto do Brasil possa ser central à reflexão teológica. 

Embora reconhecendo que já temos e até sejamos referência no pensar/fazer teologia que considera a situação dos últimos, vim entender como a teologia do lado do Atlântico Norte tem pensado sobre a questão racial e decolonial em relação a religião e a teologia e se ela pode ser útil na elaboração de uma reflexão para o contexto brasileiro.

Sendo estranho no ninho dos outros, a gente acaba achando que a vida se movimenta com maior pressa e isso nos deixa por vezes desorientados, quando precisamos de tempo para melhor nos ajustar. No meio dessa desordem de “ajustamento”, abacamos aprendendo que a busca de respostas ou métodos de lidar com os problemas teológicos, que são problemas reais, acabam por nos colocar na mira de solução dos problemas e dificuldades que nem achávamos que tínhamos. Pensar nas categorias decoloniais exige também uma descolonização interior.

Faustino dos Santos.

Há nove anos e meio minha jornada me trouxe à Irlanda, um lugar que me acolheu calorosamente e me inspirou a mergulhar nas práticas druídicas. Sou jornalista, fotógrafa e escritora, e minha experiência se enriquece a cada dia. Estudei na UNICAP e tenho a honra de continuar fazendo parte do Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife, onde a troca de experiências e o estudo das diversas manifestações de fé têm enriquecido profundamente minha vida e trabalho. Isso me permite explorar o significado espiritual que permeia nossa existência, não apenas na Irlanda, mas em todo o mundo.

Recentemente, tive a oportunidade de participar de um Simpósio organizado pelo grupo do Observatório, sobre o Eco Parque das Religiões, mostrando através de fotos um pouco do universo espiritual que vivencio aqui na Irlanda. Meu próximo trabalho, atualmente em processo de finalização, também está relacionado à transdisciplinaridade discutida no grupo. É um livro infantojuvenil que aborda a partida deste mundo de maneira lúdica, reflexiva, imaginativa e repleta de questionamentos. O livro se chama “A Rosa que Desabrochou”, e eu busquei oferecer uma visão singular sobre o tema, cativando o leitor a mergulhar em reflexões profundas de uma forma criativa e inspiradora.

Neste livro, mostro a morte como reencontro, um ato político, de liberdade, amor e conhecimento. E foi uma homenagem a uma pessoa muito querida que partiu repentinamente. Só tenho a agradecer ao grupo. O Observatório tem sido crucial em minha jornada, não apenas pela aquisição de conhecimento, mas também pelo incentivo para seguir com meus estudos e na arte. O ambiente enriquecedor e o constante aprendizado têm sido fundamentais para o desenvolvimento das minhas obras, tornando-as mais impactantes e significativas.

Janine Meira Henriques.

Estou morando em Maputo, capital de Moçambique, e servindo como Reitor do Seminário Teológico do Exército de Salvação (na foto à esquerda vê-se um mutirão solidário de seminaristas). Também estou envolvido nas relações ecumênicas, junto ao Conselho Cristão de Moçambique, e com o Conselho das Religiões de Moçambique. Além disso, colaboro com a formação de líderes no e para o contexto africano, visando o desenvolvimento integral da África.

De 30 de setembro a 5 de outubro agora, participei em Nairobi, Quênia, do Conferência Mundial para diretores de instituições de educação teológica (como se vê na foto à direita), onde palestrei sobre “Passion for learning: The benefits of a lifelong commitment to continuing education”. Aqui tenho aprendido, na prática, sobre a necessidade de mais cooperação para o desenvolvimento humano, bem como o quão desafiante é viver em outra cultura. Mas queremos continuar juntos!

Meu mestrado na UNICAP foi sobre as possibilidades e limites de uma teologia pluralista transreligiosa e sigo pesquisando. Nesses dias tive o prazer de publicar aí na Paralellus, junto com Gilbraz, o artigo “O sentido e o fim das religiões“, que apresenta aos estudiosos de língua portuguesa a riqueza das contribuições de Wilfred Smith, professor de religião comparada muito importante para pensarmos a diversidade das religiões não como um castigo, mas como uma bênção das origens. Ele propôs uma teologia fundamental das religiões do mundo, tomando por base todos os seus textos e narrativas sagradas e aprofundando a experiência transreligiosa que aí aparece. Essa interpretação é bastante adequada para falarmos das religiosidades que se reconfiguram na Aldeia Global contemporânea. Então é isso: estamos unidos pela pesquisa e pela amizade!

Abraços, Maruilson Souza.

Estou fazendo doutorado em Ciências da Religião na UNICAP, mas minha vida é andar por este país, e também por outros países, em busca das manifestações de sagrado. Agora ando por Singapura, de onde gostaria de compartilhar três devoções e registrar uma Presença. Na foto à esquerda está a Cerimônia Budista no Buddha Tooth Relic Temple: a atmosfera pacificante, sonora e visual, coloca-nos em sintonia com a nossa essência espiritual. Cada tonalidade entoada nos mantras marcados pelos sons dos instrumentos, no ritmo dos passos cadentes, nos faz subir às nuvens da nossa mente e ficamos na paz. O cheiro dos incensos nos abastece para a viagem à nossa imanência, como prefácio da máxima “Seremos Buda ao estar em sintonia com Sidarta Gautama Budah”, onipresente no mundo asiático.

Na foto do centro está o Templo Hindu – Sri Veeramakaliamman Temple: “Rogai por nós viventes carentes. Oh deusa Lakshmi! Que seus três olhos onipotentes e suas dezoito mãos tragam proteção, paz, prosperidade e felicidades, Oh grande mãe, olhai por nós”. Devoto em prece, com suas rogativas, ora na busca de suavizar a vida áspera. Em todos os cantos e recantos o pedido de socorro às mães-deusas, sob qualquer manto e aparência, apresenta a mesma essência, um rosto intercessor da esperança.

Na foto à direita está a Mesquita Masjid Sultan: De postura genuflexa e submisso incondicionalmente, clama o crente: “Allahu Akbar!”… Vê-se o espaço vazio de estatutária, mas repleto da imagética pictórica dos noventa e nove nomes sagrados do Misericordioso. Aqui, a sonoridade é silenciosa, a oração, os pedidos, a leitura do Corão faz-se na intimidade do mulçumano. Sua relação como o Clemente é total, individual, consciencial, sem intermediação, do Um para um.

Gasshô, namastê, salaam aleikum…

Luís Jorge Lira Neto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *