O TRANSUMANO E O FUTURO DA RELIGIÃO

No próximo dia 26 de fevereiro, a partir das 14h, no auditório da Pós-graduação (3º andar do bloco G4) e com acesso também pela internet (Microsoft Teams, ID da reunião: 216 515 819 877, Código de acesso: CfsT5P), vamos ter a defesa do doutorado, no Programa de Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco, de José Fabrício Rodrigues dos Santos Cabral, participante do nosso Observatório Transdisciplinar das Religiões e orientando do professor Gilbraz Aragão. Por aqui já acompanhamos várias pesquisas sobre espiritualidades nas fronteiras religiosas, sobre o sagrado nos entrelugares da internet e dos jogos digitais, e agora temos uma leitura da síntese filosófica que vislumbra o transumano na interface das tecnologias com a teologia das religiões (Josué de Castro já dizia que “a tecnologia é a teologia dos nossos tempos”). Para avaliar o trabalho de fôlego, a banca será composta pelos professores doutores José Tadeu Batista de Souza e Sérgio Albuquerque Damião (da UNICAP), Julian Alexander Brzozowski (UFSC) e Erico João Hammes (PUCPR).

Fabrício Cabral, cuja tese intitula-se “Crenças transumanistas: a superação do envelhecimento, o fim da morte e o advento do fibiogital”, já trabalha na Católica de Pernambuco como professor de filosofia e teologia. É Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma-IT (2013), teve a formação teológica reconhecida pela Faculdade Católica de Fortaleza (2011) e a formação filosófica, com licenciatura, reconhecida pela Faculdade Entre Rios do Piauí (2017). Fabrício é Especializado em Filosofia e Ensino de Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais-SP (2021), é Membro do Grupo de Pesquisa Espiritualidades contemporâneas, Pluralidade religiosa e Diálogo (CNPQ), desde 2020, e Coordenador do Projeto de Pesquisa sobre transhumanismo e religião, desde 2022. Busca conteúdos e estratégias para desenvolver a Inteligência Espiritual, com foco na promoção da Espiritualidade Laica.

Na tese, Cabral enfrenta o desafio de mapear os contornos da religiosidade que surge do transumanismo, um movimento filosófico que visa transformar a condição humana com o uso de tecnologias emergentes, alcançando as máximas potencialidades em termos de evolução, deixando em segundo plano a biologia para atingir o patamar de pós-humano. Fabrício defende que o transumanismo – transignificado em religião das soluções – é um signo porque, ao evocar a engenhosidade da vida como código, desvela possíveis existências vindouras prenunciadas pela práxis soteriológica NBIC (nanotecnologia, biotecnologia, informática, cognitivismo) – o “deus por vir” ou o sagrado disruptivo. O espírito noosférico – o impulso criativo que habita o mais íntimo da interioridade humana – se “extrojeta” e enseja a IA (inteligência artificial), uma criatura (o fibiogital) que se desvencilha do criador porque capaz de autonomia, liberdade e decisão. As forças incomensuráveis, as estratégias focadas e as ferramentas eficazes da bionanotecnologia engendram um novo paradigma, o cibernético; uma nova crença, a tecnofilia; uma nova religião, o solucionismo; um novo ser superior, o vazionado; uma nova cosmovisão, a beatitude terrenal; uma nova aspiração, a amortalidade.

Tá ligado nisso? Não é mais volta para os antepassados, reencarnação ou ressurreição, mergulho em um nada místico: é amortalidade! O transumanismo – o movimento que aglutina saberes, investimentos e polímatas – se faz resposta ao anseio mais arraigado dos bípedes consciência do universo, o de superação da morte; já que a questão não é morrer, mas “deixar de viver”. A religião das soluções promete no mundo do aquém o que as religiões escatológicas prometem no mundo do além. Apesar de a pregação das realidades invisíveis cativar uma miríade de pessoas, a escatologia secular se impõe como horizonte de sentido e significados, uma vez que o envelhecimento é superável e a morte é evitável. O que se afirma não é ficção, mas ciência da ficção. Então, se você leu Isaac Asimov e quer saber o quanto ele foi profeta, se você estiver preparado para descobrir um possível futuro para a religião – ou, quem sabe, a religião do futuro – pode aparecer na defesa do doutorado de Fabrício Cabral.

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