INTÉRPRETES PLURALISTAS

A Revista Paralellus, em seu v.12, n.29 (2021), trouxe um dossiê sobre a “interpretação pluralista das religiões”, composto de três partes: problematizações teóricas, estudos de casos e recensões de livros. Para além da constatação da pluralidade de fato, busca-se avançar na compreensão de um pluralismo religioso por princípio. O dossiê, então, selecionou artigos que trabalham as bases conceituais do Princípio Pluralista, fundamentando-as epistemológica e metodologicamente, para análise da diversidade espiritual do campo religioso brasileiro, dos espaços fronteiriços entre e dentro das religiões, em especial das experiências de diálogos interculturais e inter-religiosos, entre tradições de fé e de convicções.

O desenvolvimento desse Princípio Pluralista tem a ver com o Grupo de Pesquisa “Espiritualidades contemporâneas, pluralidade religiosa e diálogo”, que é formado pelos núcleos que trabalham diálogo inter-religioso com a organização de Cláudio Ribeiro (UFJF), Gilbraz Aragão (UNICAP) e Roberlei Panasiewicz (PUCMinas). Desde 2008 o pessoal vem se reunindo como grupo de trabalho nos principais congressos da área e, inclusive, já vai para a realização do terceiro Seminário próprio do Grupo, através do que tem articulado publicações para sintetizar e aprofundar os conceitos e autores que estão sendo estudados em comum.

Dentre essas publicações, destaca-se o “Dicionário do pluralismo religioso” (Editora Recriar, 2020), um valioso recurso com mais de trezentas páginas escritas por quase quarenta pesquisadores. E, especialmente, “O princípio pluralista” (Editora Loyola, 2020), um livro façanhoso de Cláudio de Oliveira Ribeiro, que registra a maturidade de sua reflexão em busca de novas margens para o diálogo humano e religioso: em quase 500 páginas, trata da pluralidade antropológica e religiosa, depois de apresentar bases teóricas e metodológicas para se desenvolver conhecimento nas fronteiras (Bhabha, Boaventura, Pui-Lan), ativando lógicas de uma visão complexa e transdisciplinar da realidade (Morin, Nicolescu).

Com isso vamos nos sensibilizando para a percepção de identidades reconstruídas nas bordas institucionais e mobilizando estudos sobre o diálogo alterativo que se desenvolve nos “entre-lugares”, éticos e místicos, das relações pessoais e culturais. Vamos nos permitindo pensar no pluralismo de fés, convicções e religiosidades, como resultante de um desenvolvimento processual. Assim, o diálogo inter-religioso deixa de ser um esforço formal e interesseiro das agências de sentido no mercado espiritual e passa a ser um avivamento das relações humanas pela inclusão de sonhos comuns em meio a sons diferentes.

Dessa maneira, vamos confrontando quem entende a diversidade humana como mera “pluralidade de fato” e por causa de um “pecado original”, com a perspectiva do “pluralismo de princípio” e decorrente de uma “bênção original”. Pois há quem pense na pluralidade de religiões como resultado da perversão humana e a gente está ousando pensar no pluralismo como resultante de uma bênção das origens e de uma evolução salutar do espírito humano (que é plural, por princípio). O respeito e mesmo devoção pela diversidade, pelos caminhos dos outros, resultam dos estudos de religião bem informados pela história, pela abordagem antropológica e psico-social. Isso muda tudo, das atitudes frente à alteridade no espaço público às teologias das religiões em todas as confissões.

EDITORIAL

INTERPRETAÇÃO PLURALISTA DAS RELIGIÕES

DOSSIÊ

ESTRATÉGIA DE INTERAÇÕES EFETIVAS TRANSABERES: UMA ANÁLISE COM BASE NA CIÊNCIA PÓS-NORMAL E NO PRINCÍPIO PLURALISTA

Claudio de Oliveira Ribeiro, Bobiquins Estevão de Mello             

PRINCÍPIO PLURALISTA E RECONHECIMENTO: PROVOCAÇÕES ÉTICAS E EPISTEMOLÓGICAS

Jefferson Zeferino, Raquel de Fátima Colet        

“DEUS TRANSCENDE SEU PRÓPRIO NOME”: PAUL TILLICH E O DESCORTINAR DE NOVAS FRONTEIRAS HERMENÊUTICAS

Gilbraz de Souza Aragão, João Inácio Bezerra da Silva    

PENSAR TEOLOGICAMENTE AS RELIGIÕES A PARTIR DA AUTOCOMPREENSÃO CRISTÃ

Paulo Sérgio Lopes Gonçalves, Felipe de Moraes Negro

SOBRE A PLURALIDADE RELIGIOSA NA OBRA “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”, DE GUIMARÃES ROSA: UMA LEITURA DOS CONCEITOS DE POLIDOXIA E TRANSRELIGIOSIDADE

Bruna Milheiro Silva     

A TRANSNACIONALIZAÇÃO RELIGIOSA BRASILEIRA NOS ESTADOS UNIDOS

Kelly Thaysy Lopes Nascimento, Fernanda Lemos, Dario Paulo Rivera Barrera

A ESPIRITUALIDADE TRANSRELIGIOSA NAS ROMARIAS E PEREGRINAÇÕES: O CASO DO JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO ROMÃO

José Artur Tavares de Brito       

EVANGELIZAÇÃO E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO: APONTAMENTOS NO DOCUMENTO DE PUEBLA E NA EVANGELII GAUDIUM PARA O O CONTEXTO PLURAL BRASILEIRO.

Jefferson Grijo Brasil, Chrystiano Gomes Ferraz

OS UPANIṢADS E O PROJETO SOTERIOLÓGICO DA ESCOLA VEDĀNTA

Dilip Loundo     

A HIPÓTESE DA GRANDE DEUSA ENTRE OS ROMÂNTICOS E ACADÊMICOS

Karina Oliveira Bezerra

O TERREIRO DE RITUAL SAGRADO DA BOA VISTA E SUAS PRÁTICAS HÍBRIDAS E PLURAIS NA RELIGIÃO INDÍGENA DO POVO XUKURU DO ORORUBÁ

Constantino José Bezerra de Melo         

RESENHA

O PRINCÍPIO PLURALISTA

José Pascoal Mantovani

PLURALISMO E TEOLOGIA

Claudio de Oliveira Ribeiro        

NOS CAMINHOS DA TRADIÇÃO CONGO/ANGOLA

José Marcos Brito Rodrigues

3 comentários Adicione o seu

  1. Luiz Telles Cadilhe Da Costa disse:

    Tenho dificuldades de interagir com os católicos , espero que tenham irmãos “protestantes” que consigam interagir com eles para a salvação dessas almas que estão perdidas por essas religiões foram ensinadas a não priorizar a palavra de Deus e nós que a conhecemos a fundo temos nossas dificuldades doutrinária , falo por mim e peço oração pela minha vida para que eu possa vencer esse desafio por que no fundo pra quem conhece a palavra o que interessa é a salvação dessas almas , Deus abençoe a todos.

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