Citando até o “Samba da bênção” de Vinícius, o Papa Francisco lançou encíclica onde critica o populismo político, defende a fraternidade contra as injustiças do neoliberalismo e a favor da promoção de justiça socioambiental, prega o diálogo e convivência entre culturas e religiões: somos “Todos irmãos” é o título da carta papal. O capítulo VIII dessa encíclica é sobre diálogo inter-religioso e aprofunda o acordo do Papa com o grande Imã muçulmano Ahmad Al-Tayyeb, que é citado cinco vezes. É que o Papa Francisco e o grande Imã Ahmad Al-Tayyeb assinaram no ano passado uma declaração conjunta que marca a história das relações entre o cristianismo e o islamismo, convidando os fiéis das maiores religiões do mundo para um caminho compartilhado de combate à miséria, à exploração e à degradação. Líderes religiosos, acadêmicos e culturais buscam implementar os propósitos desse acordo através do Alto Comitê da Fraternidade Humana.
Nem todo mundo é favorável a esse ecumenismo planetário: já no começo de 2020 ocorreu a conferência “Deus, honra, nação: o Presidente Ronald Reagan, o Papa João Paulo II e a liberdade das nações”. Católicos integralistas e evangélicos fundamentalistas reuniram-se em Roma, na porta do Papa Francisco e levantando a bandeira mal costurada de Papa anterior, para celebrar exatamente o contrário e contrapor à fraternidade humana a honra nacionalista, populista e neoconservadora, pretensamente abençoada pelo “Deus cristão”: uma nova Santa Aliança contra o islã e os muçulmanos, contra as outras culturas e religiões da Terra. É uma expressão do fundamentalismo político-religioso, do tradicionalismo.
Em apoio ao Papa Francisco e sua visão progressista, ecumênica e ecológica, o arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, que é presidente da Comissão Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso do Regional NE 2 da CNBB, convidou lideranças religiosas articuladas no Fórum Diálogos, o fórum da diversidade religiosa em Pernambuco, para uma tarde de meditação na cúria metropolitana, no último 24 de novembro, sobre o capítulo VIII da encíclica “Todos irmãos”. O encontro foi mediado pelo padre Fábio Potiguar, coordenador da Comissão Arquidiocesana para o Ecumenismo, da qual faz parte o professor Gilbraz, do nosso Observatório.
Estiveram presentes, além dos católicos, as lideranças dos judeus, muçulmanos, luteranos, batistas, anglicanos, ortodoxos, candomblecistas ou xangozeiros, umbandistas, juremeiros, espíritas, budistas e bahá’ís. Em meio às conversas, nesses tempos de eleições, foi dito que as religiões devem se articular por baixo, na sociedade civil, para colaborarem no debate e no serviço em torno dos valores humanos, e não se associar por cima em mútuo apadrinhamento com o poder estatal. Em sociedades livres uma religião não deve formar partido político (nem ter concessão de meios de comunicação social), mas sim educar os seus membros para traduzirem os valores de sua fé em uma práxis ética para todos os partidos (e quaisquer programas de TV ou rádio).
Dom Fernando lembrou, a partir da encíclica, que, a despeito das diferenças teológicas, as religiões devem apreciar nas outras o que há de verdadeiro, bom e belo, devem se unir em defesa de todas criaturas de Deus. Com efeito, o evento encerrou com uma “Oração ao Criador”.
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