ECUMENISMO E JUSTIÇA


Procurarás a justiça, nada além da justiça” (Dt 16, 18- 20) é o tema central da Semana de orações pela unidade dos cristãos em 2019. Cada ano, no hemisfério Sul, a Semana da Unidade se realiza entre o domingo da Ascensão e a festa de Pentecostes. Neste ano, ocorre exatamente nesses dias, promovida pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) e pelo Secretariado da Unidade dos Cristãos, organismo da Igreja Católica. 

De fato, ainda hoje, muitos cristãos e mesmo ministros de Deus não se deram conta da importância do movimento pela unidade cristã (Ecumenismo). Já em 1964, há 55 anos, todos os bispos católicos do mundo, reunidos no Concílio Vaticano II afirmaram: “a divisão do Cristianismo em Igrejas separadas uma da outra é totalmente contrária à vontade de Jesus Cristo. Essa divisão é consequência e expressão do pecado humano e é um escândalo para o mundo. Os cristãos, aos quais Jesus mandou pregar ao mundo o mandamento do amor e da unidade, eles mesmos estão divididos. Por isso, o trabalho para recompor a unidade das Igrejas é essencial à fé e à missão de toda Igreja cristã” (Decreto Unitatis Redintegratio, n. 1).

O caminho para reconstituir a unidade é um trabalho de conversão interior e comunitário de todos os cristãos das mais diversas Igrejas. Trata-se de conversão a Jesus Cristo e ao seu projeto de amor e justiça. Essa unidade não se fará como uniformidade institucional e sim no respeito à diversidade e autonomia das Igrejas. Em 1898, o papa Leão XIII propôs a todas as comunidades católicas prepararem a festa de Pentecostes através de uma semana de orações pedindo a manifestação da vinda do Espírito Santo. E o papa indicou que essa semana especial de orações deveria ter como tema central a unidade das Igrejas. Como a unidade é dom gratuito de Deus, é muito importante orar pela unidade entre as Igrejas cristãs e, sempre que possível, orar juntos.

De fato, orar pela unidade supõe que tenhamos no coração essa angústia que foi a de Jesus. Até na noite em que iria ser preso, antes de partir para o horto das Oliveiras, ele orou: “Pai, te peço por todas as pessoas que, algum dia, ainda crerão em mim. Que elas todas sejam Um, como Tu e eu somos um. Que os meus discípulos sejam Um para que o mundo possa crer que Tu me enviaste” (Jo 17, 19 – 20).

Exatamente, nessa semana, se completam 56 anos do dia 01 de junho de 1963, quando o papa João XXIII entrava em agonia. Em meio a dores fortíssimas e uma agonia que durou três dias, o santo João XXIII declarou que queria oferecer a sua vida e os seus sofrimentos pela unidade dos cristãos. Em 1998, na preparação do solene Jubileu do ano 2000, o papa João Paulo II escreveu a encíclica “Ut unum sint” (Para que sejam um). Era a primeira vez em que um papa dedicava uma encíclica ao tema da unidade dos cristãos. Ali ele afirmava que o ecumenismo não é apenas uma das tarefas da Igreja Católica, mas é o coração de toda a sua missão (UUS 1). 

 Infelizmente, embora a maioria dos católicos e mesmo dos padres se diga de acordo com a preocupação pela unidade, até hoje esse assunto ainda não parece central na vida das comunidades paroquiais e das Igrejas. Mesmo dioceses abertas costumam apenas nomear uma comissão ecumênica: encarregam seus membros de participarem das relações com outras Igrejas, em nome da diocese. Pronto. Depois disso se sentem descomprometidas com o assunto. Como se a comissão de ecumenismo fosse para substituir e não para representar o conjunto da Igreja que deve ser todo envolvido nesse caminho.

Já em 1968, a coordenação da CNBB publicou um documento preparatório ao Diretório Ecumênico proposto pelo Vaticano. Ali os nossos bispos ensinavam que a pastoral ecumênica e a abertura para outras Igrejas só acontecem se se basearem em uma “ecumenicidade” de toda a pastoral e de todas as atividades eclesiais. Isso significa: ou toda a Igreja se compromete nesse caminho e vive uma abertura espiritual para a unidade, ou a pastoral ecumênica terá sempre poucos resultados positivos. 

Atualmente, esse assunto é fundamental não somente para cada Igreja em si, mas para a sociedade contemporânea. Em um mundo no qual, como diz o papa Francisco, milhões de pessoas vivem como descartáveis, governos se colocam a serviço da economia que mata e propõem reformas trabalhistas, da previdência e outras que vão contra a vida dos mais pobres, é preciso que as Igrejas se unam na defesa da justiça.

O Conselho Nacional de Igrejas cristãs propõe que nesta semana da unidade de 2019, as comunidades orem especialmente em solidariedade às muitas vítimas dos crimes ambientais e, especialmente às pessoas afetadas pela ação predadora das empresas mineradoras. A unidade que pedimos a Deus é também comunhão com a natureza ameaçada e especialmente com os rios destruídos pela mineração como estão o rio Doce, o rio Paraopeba e mesmo o grande São Francisco.

Que, nessa celebração de Pentecostes, o Espírito Santo nos ilumine para que busquemos a unidade visível das Igrejas, no trabalho comum pelo direito dos pobres, e demos testemunho de que Deus é Amor e Justiça.

Marcelo Barros

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