Menina vem cá! Já vou!
O que queres que dance?
O sagrado do lugar.
Pelos rios e igapós,
Nosso canto caminhou.
E do tronco da sapopema,
Meu tambor assim ecoou.
Chegou a cunhã de Tupã,
Até o terreiro cantou.
Ao som do curimbó Iaçã se aproximou,
Escutou, alegrou e a saia balançou.
Chamou os povos e ancestrais,
A força e resistência no amor.
No terreiro ou no quintal,
O tambor é nossa cor.
(Márcia Kambeba)
O Observatório Nacional de Justiça Socioambiental dos jesuítas, do qual o nosso Observatório das Religiões participa, está desenvolvendo, junto com o Centro Alternativo de Cultura de Belém do Pará, uma Escola Popular de Justiça Socioambiental. Mais de meia centena de pessoas, em grande parte animadores comunitários, está envolvida em um projeto de formação participativo e transdisciplinar, através de vivências, partilhas e oficinas, para ajudar as pessoas a contribuírem na construção de uma sociedade sustentável e a lutarem pelos direitos humanos no contexto amazônico. Esse empoderamento de lideranças populares realiza-se em módulos mensais de fins de semana, desfiando temáticas como Amazônia de Todos os Povos, Educação em Direitos Humanos, Relação Sociedade e Natureza, Ecologia Integral e Bem Viver, Comunicação Comunitária e Mídias Alternativas, Ação Concreta: Projetos de Intervenção Comunitária.
Nos dias 8 e 9 de março de 2019 ocorreu, então, o módulo Todos Somos Um: o Sagrado e a Diversidade Religiosa na Amazônia. O encontro começou com a citação do Dalai Lama: “Somos todos iguais. Compartilhamos uma só casa que devemos cuidar. As diferenças de língua, de religião ou de cultura devem estar em nível secundário. Primeiro temos de nos considerar irmãos e irmãs”. Na Igreja Evangélica de Confissão Luterana, que foi pioneira na história do ecumenismo no Pará, o dia 8, das 17 às 21h, teve, depois de abertura alegre e mística, um Cine-comunitário sobre Justiça Socioambiental e Empoderamento Feminino na Amazônia, com projeção do documentário Mulheres de Mamirauá e debate com a indígena Carla, a quilombola Yamoro e as professoras Antônia e Rosalinda. No Dia Internacional da Mulher, compartilhou-se o drama das meninas ribeirinhas e afrodescendentes, como também o testemunho das mulheres do Vale Verde: comunidade de catadoras que cuida de quarenta crianças na periferia.
No sábado 9, das 8 às 18h, na Capela católica de Lourdes, dos jesuítas, o professor Gilbraz Aragão, do nosso Observatório, colaborou na assessoria e a parte da manhã foi marcada por uma Ciranda de diálogos sobre Narrativas Cosmopoéticas do Sagrado na Amazônia, contando com as seguintes pessoas convidadas: Mãe Nangetu – Bantu; Yamoro – Afro-indígena; Irmã Téa – Católica; Bispa Marinêz – Anglicana; Roseli Dias – Wicca; Dinailson – Ananda Marga; Aline Lira – Hare Krishna, além da professora Taissa Tavernad – UEPA, e a poetisa Márcia Kambeba.
Destacamos algumas das declarações feitas: precisamos abrir com delicadeza o nosso coração para o sagrado cheio de energia da natureza, o brilho das almas irmãs se reconhece no respeito ao sagrado de muitos nomes mas que sempre cura, várias nações de um mesmo povo: cada um com seu respeito à ancestralidade e sua missão de alimentar o outro humano, Amazônia é mística pelo seu rio e floresta e pela sua diversidade e liberdade, os caminhos sagrados se cruzam no cuidado silencioso e vigoroso pela vida, sagrado não é espaço-tempo limitado: é a vida espiritual que cria mais espaço para a vida, que corre e transforma o mundo assim como as mulheres e as santas da Amazônia…
O almoço foi completado por contação de histórias e visita a feira de economia solidária. A parte da tarde teve ainda apresentação e discussão de pesquisa sobre Diversidade Cultural-religiosa e Ethos Amazônico, pelo mestrando de Ciências da Religião Juscelino Pantoja. O encontro terminou com uma síntese e os apontamentos do professor Gilbraz, realçando que na região houve mais colonização e queimada do que diálogo e enxerto das religiões de salvação com relação às religiões de integração com a natureza. Como conclusão, todos saíram convictos de que, não só a riqueza natural da biodiversidade amazônica, mas também a fortuna cultural e a diversidade religiosa do seu povo devem ser respeitadas e compartilhadas com o mundo!
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