Quem disse que ciência não tem sabor? Larissa Guerra e Isadora Vasconcelos são estudantes de Direito da UNICAP que acabaram de estagiar no Observatório da gente, exercitando com nosso grupo a partilha de conhecimento, de convivência e até de sorvete (veja mais por aqui). Elas vieram através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPQ. Esse PIBIC visa apoiar a política de Iniciação Científica desenvolvida nas Instituições de Ensino e/ou Pesquisa, por meio da concessão de bolsas de Iniciação Científica a estudantes de graduação integrados em grupos de pesquisa. A cota de bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico é concedida diretamente às instituições e estas são responsáveis pela seleção dos projetos dos pesquisadores orientadores interessados em participar do Programa.
Os estudantes tornam-se então bolsistas a partir da indicação dos orientadores e os objetivos desse Programa são: despertar vocação científica e incentivar novos talentos entre estudantes de graduação; contribuir para reduzir o tempo médio de titulação de mestres e doutores; contribuir para a formação científica de recursos humanos que se dedicarão a uma atividade profissional; estimular uma maior articulação entre a graduação e pós-graduação. Larissa e Isadora, pois, envolveram-se na pesquisa do professor Gilbraz, sobre “Lógica, diálogo, religiões”, através do Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife. Elas colaboraram especificamente, e por um ano, no mapeamento das tradições religiosas do Recife, no que diz respeito às suas (in)disposições para o diálogo e os direitos humanos emergentes. Esse projeto, intitulado “Tradições religiosas no Recife: identidades e alteridades”, tem como palavras-chave: Diálogo Inter-religioso; Religiões e Direitos Humanos; Religiosidade no Recife.
Destacamos aqui alguns dados desse levantamento. O município do Recife possui 835 mil católicos e 384 mil evangélicos, mas também 55 mil espíritas e 224 mil pessoas sem religião (além de 11 mil de outras igrejas). A Região Metropolitana do Recife é palco de uma grande diversidade religiosa, que agrupamos assim: religiões tradicionais, com ênfase nos antepassados, como Umbanda, Xamanismo, Xambá, Xucuru, Jurema, Xangô; religiões da Ásia e Extremo Oriente, que possuem como foco a reencarnação, como Hare Krishina, Budistas, Espírita e Messiânica; religiões do Oriente Médio, que fazem variações na crença da ressurreição, como Judeus, Cristãos e Muçulmanos, todos eles com diversos matizes confessionais; por fim, os “sem religião” e suas variadas apostas em um nada além.
O objetivo da pesquisa, até aqui, foi então levantar informações sobre os principais grupos religiosos da região, focando as suas (in)disposições culturais e teológicas para o diálogo e os direitos humanos. Os procedimentos metodológicos envolveram a procura em sites e publicações de igrejas, além de visitas e entrevistas com animadores religiosos, sobre as dimensões de Crenças/Celebrações, História na região, principais Endereços físicos e virtuais, (In)Disposições com respeito aos Direitos Humanos (participação social, situação da mulher, consideração da moralidade e sexualidade, posição sobre homossexualismo) e Obstáculos e potencialidades para o ecumenismo/diálogo inter-religioso.
As diferenças encontradas na pesquisa não foram tanto entre um grupo religioso e outro, mas entre pessoas mais escolarizadas e as não escolarizadas de todos os grupos. Felizmente, com a colaboração de espaços de educação onde as pessoas podem tomar consciência da relatividade histórica das suas experiências absolutas do sagrado, tem crescido, junto com episódios violentos de intolerância, também o diálogo inter-religioso e intercultural. Na verdade, os direitos humanos têm uma origem no próprio discurso religioso. Porém, o avanço da sociedade e o desenvolvimento da liberdade moderna promoveram uma ruptura com o passado religioso. Ainda assim, alguns núcleos religiosos já convivem com novos costumes familiares e compreensões de gênero, buscando conhecer e respeitar o pluralismo – também religioso.
Mas, para nossa preocupação, percebe-se um crescente movimento de grupos, em diversas igrejas, cujas atitudes são bastante conservadoras e restritivas: evocam a “lei natural do Criador” como interdito à criatividade moral e sexual, reprimem o empoderamento cultural e a diversidade religiosa pela demonização simbólica. A doutrina desses grupos resiste a reinterpretações de suas tradições, apelando para uma leitura fundamentalista e pré-moderna, acreditando que os costumes da civilização agrária são os únicos desejáveis por deus e que a sua experiência do divino é a única verdadeira. Em sua segunda fase, de aprofundamento teórico, a pesquisa agora vai contar com a colaboração de duas novas estagiárias que selecionamos e já estão participando do nosso Grupo de Estudo das quartas-feiras: desta feita da área de Comunicação, Rayane Marinho e Luísa Farias, do curso de jornalismo da UNICAP. Desejamos boas-vindas às meninas e esperamos uma profícua iniciação em nosso meio, à pesquisa científica e à arte de viver.
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Veja por aqui apresentação do primeiro relatório de Rayane
Veja aqui estatísticas das religiões e aqui publicações sobre religiões
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