Colaboração de Rayane Marinho.
Nos dias 22 e 23 de maio o professor Gilbraz Aragão e o seu Grupo de Estudos sobre Transdisciplinaridade e Diálogo entre Culturas e Religiões, da UNICAP, desenvolveram o Seminário “Educação Transdisciplinar e Diálogo Inter-religioso” na Universidade Federal da Paraíba, em uma iniciativa promovida pelo Programa de Pós-graduação em Ciências das Religiões da UFPB, onde Gilbraz é professor colaborador, e que se abriu para o entrosamento com os estudantes de Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco. Com efeito, 59 estudantes dos dois Programas de estudos da religião se matricularam no Seminário e envolveram-se nas palestras e painéis durante os dois dias do encontro presencial, continuando a interagir através de um grupo virtual de aprendizagem disponibilizado na internet, com apresentações e textos, vídeos e sites sobre a temática.
O evento focou a educação para o diálogo inter-religioso no espaço público, trazendo da área acadêmica a metodologia transdisciplinar para dinamizar a produção de conteúdos no campo de conhecimento das Ciências das Religiões e a sua tradução pedagógica no Ensino Religioso, em vista de subsidiar ações de aprendizagem críticas e criativas sobre os fatos da religiosidade humana e os desafios da (in)tolerância entre as religiões. Três blocos temáticos deram corpo aos estudos: Resgate do método científico transdisciplinar: teoria da complexidade, física e níveis da realidade, lógica do Terceiro Incluído, aplicações às humanidades e à educação; Contextualização das relações entre ciências e religiões e vinculações com a história do diálogo entre religiões e tradições espirituais; Ciências das Religiões, Ensino Religioso e Diálogo entre Religiões: pontes entre epistemologia e política, caminhos do transdisciplinar ao transreligioso.
Como lembra (em inglês, tradução disponível aqui) a introdução à transdisciplinaridade do filminho acima, apresentado no espaço do Seminário na internet, os desafios globais e complexos à humanidade pedem que levantemos a imaginação acima dos limites abafados da postura disciplinar e busquemos uma visão integral e arejada do conhecimento. O que aponta, analogicamente, para a busca de uma espiritualidade transreligiosa, que fomente, sobretudo em espaços comunitários de educação, o diálogo entre tradições de sabedoria e filosofia da nossa cultura globalizada e pluralista. Como estímulo para essa empreitada, a manhã do sábado em João Pessoa começou com o pré-lançamento do livro “Espiritualidades, Transdisciplinaridade e Diálogo” (cuja versão em processo está disponível por aqui): em suas quase duzentas páginas, a publicação partilha o trabalho do Grupo de Estudos do professor Gilbraz, apresentando os seguintes capítulos: Do transdisciplinar ao transreligioso, Fenômenos religiosos tradicionais (Pelas mãos das rezadeiras, Espiritualidade do caminho, Xamanismo no Brasil), Novas configurações da espiritualidade (Cristianismo e espiritualidade pós-metafísica, A expansão da Wicca, Mensagens da internet e novas vias espirituais, Religiosidade e novos mercados), Educação e diálogos espirituais (Diálogo inter-religioso nas escolas pernambucanas, Dançando com os orixás na escola pública, Ensino religioso e cultura audiovisual). Na conclusão, o livro apresenta ainda: Uma teologia transreligiosa e libertadora, Fé cristã e espiritualidade transreligiosa.
No auditório ou entrosando-se com os colegas da UFPB nos corredores do seu belo campus e também na pousada onde a delegação da UNICAP se hospedou e pela praia de Tambaú onde o pessoal caminhou, a discussão do nosso grupo foi grande: a transdisciplinaridade é uma nova forma de ver e entender a natureza, a vida e a humanidade. Ela busca a unidade, entre e além das disciplinas científicas, incluindo a nossa subjetividade e as sabedorias tradicionais para ajudar a encontrar sentido para a existência, reivindicando a centralidade da vida em toda discussão, propondo uma mudança na compreensão do conhecimento: como relação entre sujeitos e objetos, atenta ao contraditório em tudo, mas aberta à sua superação em outros níveis de realidade – pela inclusão de um Terceiro termo. Como consequência, o Ensino Religioso deve tratar das dimensões pedagógicas que existem entre e para além de todas as tradições religiosas, deve resgatar os valores humanos e a abertura mística que as espiritualidades podem trazer para a educação dos nossos filhos. Trata-se, já nas Ciências das Religiões, de comparar criticamente e interpretar os fatos – também religiosos – nos seus contextos históricos, para que as novas gerações possam optar com mais liberdade sobre o significado da transcendência na vida.
Porque religião não se ensina propriamente na escola, mas se pode e deve refletir aí sobre esse fenômeno humano, em busca de significados mais profundos do que é experimentado como sagrado em cada cultura. Assim, o docente de Ensino Religioso precisa interagir criticamente com o contexto concreto das igrejas na vida dos estudantes, também em seus aspectos desumanizadores e opressivos, promovendo uma tomada de consciência desmistificadora das religiões. Com isso, deve promover uma ação educativa esperançosa, em que a utopia desempenhe um papel reconstrutivo e transformador das próprias religiões. Ao final, o pessoal do Seminário levou as seguintes questões para continuar trabalhando essa problemática: Quais as consequências da teoria transdisciplinar para a compreensão da área de conhecimento das Ciências das Religiões? Como uma atitude transdisciplinar pode dinamizar as práticas de Ensino Religioso? Em conversa com o coordenador do PPGCR da Paraíba, Deyve Redyson, e demais professores que passaram pelo evento, já ficou consolidado, todavia, que a troca de experiências e as atividades conjuntas entre as Ciências da(s) Religião(ões) da UNICAP e da UFPB, localizadas nas capitais mais próximas do Brasil, são uma novidade promissora e alvissareira para os estudos de religião e o seu engajamento sócio-educativo no Nordeste.
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Espiritualidade transreligiosa
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