CATÓLICOS MAIS CATÓLICOS

Convento São Francisco em Olinda

A palavra “católico” vem do grego kata (junto) e holos (todo), isto é, universal, que abrange tudo e reúne a todos. Ela passou a ser adotada como um dos atributos da Igreja a partir do Concílio de Constantinopla no século IV, atestando a vocação e abertura do cristianismo para uma missão universal. A palavra “ecumênico” também vem do grego, oikouméne (todo o universo habitado), e significa que todas as pessoas são habitantes do mesmo planeta e experimentam a mesma realidade humana. Ecumenismo tem a ver, então, com a unidade da humanidade. Nos começos do cristianismo, a Igreja usou tal palavra para designar a reunião de seus representantes vindos do mundo então conhecido, chamando-a de “Concílio Ecumênico”.

As doutrinas da fé cristã, os credos que foram desenvolvidos no século IV nos Concílios de Nicéia e Constantinopla, também são chamados “símbolos ecumênicos”, porque expressam a fé universal e comum a todos os cristãos. Depois das divisões no cristianismo, com a estruturação das Igrejas em comunidades diversas, os que são sensíveis ao apelo de Cristo – “Que todos sejam um… Para que o mundo creia” – chamam de movimento ecumênico aos esforços para a construção da unidade da fé na diversidade institucional e/ou cultural. E chamam de macroecumenismo ou diálogo inter-religioso ao movimento de busca para descobrir, por meio de preces e ações fraternas e solidárias, uma experiência espiritual comum com as outras tradições religiosas e convicções filosóficas da humanidade.

Então, é de se esperar que todo católico seja bem “católico”, universalsalmente aberto a tudo que é bom e belo em toda busca espiritual, e seja “ecumênico” mesmo, cultive uma abertura para o mundo habitado e para a defesa da habitabilidade do mundo. Essas atitudes de envolvimento com as verdades espirituais presentes nas culturas e religiões, em vista do cuidado com a Casa Comum, vêm sendo muito estimuladas na Igreja desde o Concílio Vaticano II. Porém, tem crescido por aí um tradicionalismo cristão, em que evangélicos fundamentalistas e católicos integralistas, que são concorrentes no mercado religioso, unem-se “ecumenicamente” contra o ecumenismo e o diálogo entre as religiões e filosofias de vida, contra imigrantes (sobretudo muçulmanos, que se tornam numericamente significativos como o cristianismo), contra os processos modernos e democráticos de emancipação humana, unem-se pela doutrinação cristã nas escolas e contra o “ensino religioso” laico e republicano, pela “liberdade religiosa” entendida como direito ao proselitismo intolerante e à ocupação do espaço público pela “bíblia” (desconsiderando e combatendo os textos sagrados dos outros).

Por isso, é importante a formação e articulação de pessoas e grupos para a animação do ecumenismo e diálogo nas Igrejas. Nesse sentido, a Comissão Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso do Regional NE 2 da CNBB promove, de 18 a 20 de março de 2020, mais um encontro sobre a criação de comissões diocesanas de diálogo (veja a programação por aqui). O evento formativo acontece no Convento de São Francisco, em Olinda, envolvendo mais de 30 padres e leigos que pretendem trabalhar com iniciativas e equipes de promoção do ecumenismo e do macroecumenismo, de todas as dioceses do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. A assessoria está sendo feita por Fábio Potiguar e Marcelo Barros, Gilbraz Aragão e Margarida Mendonça, tratando das grandes religiões e da diversidade religiosa no Nordeste, dos documentos e das organizações ecumênicas e de diálogo, dos eixos e formas para se fomentar a coexistência intra e inter-religiosa. O encontro, que foi aberto por Dom Fernando Saburido, bispo responsável pela Comissão, já teve entre seus momentos celebrativos uma oração inter-religiosa em torno da fraternidade humana, com presença de representantes das principais tradições espirituais da região.

Como disse o Papa Francisco, “Hoje a fraternidade é a nova fronteira da humanidade. Ou somos irmãos ou nos destruímos uns aos outros. Hoje não há tempo para indiferença. Não podemos lavar nossas mãos. Ou somos irmãos ou tudo desmorona. É a fronteira. A fronteira sobre a qual devemos construir; é o desafio do nosso século, é o desafio dos nossos tempos. Fraternidade significa mão estendida, fraternidade significa respeito. Fraternidade significa ouvir com o coração aberto. Fraternidade significa firmeza nas próprias convicções”. Tamos juntos, colaborando para que os católicos sejam, pois, mais “católicos”.

Cartilha pro diálogo

Recife desponta como polo do diálogo

3 comentários Adicione o seu

  1. Munetsi Ruzivo disse:

    This is a thought provoking endeavor. Yes either we are brothers or we destroy each other. I am reading this from Zimbabwe here in Soufhern Africa

  2. Caro Gilbraz, parabéns pelos ‘católicos mais católicos’. Só uma pequena nota filológica. A expressão grega recorrente no século IV, na época de Constantino, era: ‘kat holèn gèn’, ou seja: ‘por toda terra’. Um termo que denota uma geopolítica, que está na origem da adoção, pela igreja cristã, do sistema romano de ‘dioceses’, subdivisões do Império para facilitar a cobrança de impostos e controlar as populações. Achei a recorrência à ‘catolicidade’, na iniciativa de vocês (que, aliás, merece aplausos) bastante benevolente. Mas duvido que corresponda ao sentido original do termo. Afinal, a introdução do sistema ‘diocesano’ no cristianismo ocidental resultou na criação do sistema clerical verticalista. Sabemos que a reviravolta constantiniana resultou, na igreja, na adoção de sistemas organizatórios do Império romano. O catolicismo ‘real’ (não o de nossas aspirações) é de origem imperialista. Desculpe minha ‘intromissão’.

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