Buscando ressignificar a tragédia da escravidão, a cultura da África vem sendo recriada no Recife e região: um polo importante desse movimento, também espiritual, é o Pátio de São Pedro, no bairro de Santo Antônio, local onde há duas décadas acontece a Terça Negra. Tal é a conclusão a que chegou a educadora Lúcia dos Prazeres, analisando as relações desenvolvidas nesse encontro de grupos representativos do imaginário afro-pernambucano, que foram registradas no livro “Terça Negra no Recife: narrativas sobre dança, música, espiritualidade e sagrado” (Recife: Centro do Educador Popular, 2019). Ele foi lançado no dia 17 de dezembro, às 19h, em edição especial da Terça Negra, no Pátio de São Pedro, com apresentações do Maracatu Estrela Dalva, do Afoxé Omô Inã e do grupo de samba reggae Raízes de Quilombo.
Esse livro resulta da pesquisa desenvolvida por Maria Lúcia Gomes dos Prazeres, sob orientação do professor Gilbraz Aragão, no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião na Universidade Católica de Pernambuco, onde ela defendeu com brilhantismo uma dissertação de mestrado sobre o Projeto Cultural Terça Negra. Lúcia é uma guerreira que trabalha com educação popular para promover jovens pobres no Recife, uma artista que articula grupos de dança e música para empoderar a gente negra da periferia, uma contadora de histórias que resgata com poesia a força telúrica da cultura afro-negro-pernambucana. Então, com essa trajetória, ela se lançou em busca do axé, da “espiritualidade negra”, do sagrado dançante que emerge em um dos mais significativos eventos político-culturais do movimento negro da região.
Dividido em cinco capítulos, o livro alinhava as narrativas de 12 personagens que transformaram a experiência do povo negro no Recife e tiveram suas próprias histórias fortalecidas pelos encontros de música e dança no Pátio de São Pedro. Gente feito Vera Baroni, militante do movimento negro e integrante do Ylê Obá Aganju Ocoloiá; Marta Almeida, militante negra e coordenadora do Movimento Negro Unificado de Pernambuco; e Elza Maria Torres da Silva, sacerdotisa de matriz africana conhecida como Mãe Elza. Lúcia descreve a Terça Negra como um “laboratório de produção, realimentação e disseminação de conhecimentos e saberes artísticos, culturais e religiosos, oriundos da herança africana de nossos ancestrais”. E o livro é tão bonito e tão forte quanto essa experiência, que ele descreve e analisa.
Leia a apresentação do livro por aqui.
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