Artur Peregrino está saindo em mais uma caminhada, junto com seu grupo de peregrinas e peregrinos: de 5 de janeiro a 2 de fevereiro eles estarão na estrada, da Matriz de Nossa Senhora das Dores do Juazeiro, no Ceará, até a Igreja das Fronteiras no Recife, em Pernambuco – provocando assim o encontro de dois santos populares do catolicismo no Nordeste brasileiro, padre Cícero Romão e dom Helder Câmara, ambos compromissados com os pobres por causa do evangelho cristão, seja através de uma aproximação mais devocional lá no Sertão, seja por um envolvimento místico-político aqui na periferia urbana.
Essa peregrinação atende a chamados importantes: a diocese do Crato, pela convocação do seu bispo, dom Gilberto Pestana, está celebrando, neste ano de 2020, 150 Anos de Ordenação do Padre Cícero Romão Baptista, e prepara um grande Simpósio no final do ano com o tema: “Padre Cícero Romão: um sacerdote numa Igreja em saída”; e, além disso, o próprio Artur Peregrino (o professor José Artur Tavares de Brito) está caminhando rumo à defesa da sua tese de doutorado em Ciências da Religião na UNICAP, com orientação de Gilbraz Aragão, sobre “As transformações da experiência religiosa popular no Juazeiro do Padre Cícero (1986-2016)”, onde analisa o fenômeno das romarias no intuito de perceber as suas novas configurações, as explicações antropológicas e os desafios teológicos das permanências e mudanças na fé do povo. O caminho, então, vai abrir o Ano Jubilar do “Padim Ciço” e também arrematar e decantar a pesquisa de Artur sobre os seus devotos.
No momento em que a Igreja católica inteira é convidada pelo papa Francisco para uma atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais e sociais, a disposição do padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores das secas e das cercas, aconselhando-os e abençoando-os “à sombra do juazeiro”, constitui um testemunho eloquente de hospitalidade que continua atraindo muitos romeiros ao Juazeiro do Norte. Ao mesmo tempo, os encontros de irmãos de dom Helder, grupos de estudo bíblico, convivência e ação comunitária dos “pobres que evangelizam os pobres” nos morros e alagados do Recife, sinalizam um cristianismo que se renovou e se renova no seguimento místico e político de Jesus. É sobre esse espectro de desenvolvimentos da experiência religiosa, seus entrelaçamentos, atualizações e contradições, que os peregrinos vão meditar durante essa caminhada de trinta dias.
No percurso, o grupo vai também realizar rodas de conversa sobre a “espiritualidade do caminho” em escolas e sindicatos, igrejas e centros comunitários, com romeiros e pessoas interessadas no tema. E os peregrinos irão compartilhar das rezas e da comida do povo pelas estradas, numa atitude de entrega, caminhando só a pé, sem carregar dinheiro ou alimentação. Trata-se de um grupo ecumênico que busca reanimar sua fé unindo o pó das estradas com a poeira dos livros, a convivência com os pobres e o estudo da Palavra de Deus. Veja o roteiro e acompanhe a passagem do pessoal na sua região. Depois, dia 2 de fevereiro, domingo, 17h, na Igreja das Fronteiras no Recife, venha cantar o Ofício Divino na chegada da peregrinação. E no dia 3 de fevereiro, também às 17h, no auditório dom Helder (térreo do Bloco A) da UNICAP, participe da Partilha da Peregrinação: em um encontro de “Padim Ciço” com “Dom Helder”, incluindo os pobres e/ou romeiros entre e além, quais serão as lições para a vida e para a Igreja da gente?! Se quiser ajudar na resposta, talvez você tenha que pegar igualmente a estrada: “Vai moiando os pés no riacho; Que água fresca, Nosso Senhor; Vai oiando coisa a grané; Coisas qui, pra mode vê; O cristão tem que andá a pé”!
Acompanhe imagens da caminhada por aqui.
Pra saber mais:
2 comentários Adicione o seu