A EDUCAÇÃO DA RELIGIÃO

Formamos o cidadão,

Dotado de criticidade

Que respeita o diferente,

Base da alteridade.

E dentro dessa cultura

Ele só ganha altura

Nas asas da liberdade.

Num ensino plural

Não vamos montar palanque

Pra líder religioso

Só porque é bem falante.

Sala de aula não é lugar

De ninguém doutrinar

Numa prática ignorante.

Não posso ser

Sem que o outro seja.

Não posso usar a sala

Pra montar minha igreja.

Num estado laico

Esse modelo arcaico

Não cabe na mesa…

(Cícero Alves)

Estes são trechos do cordel que foi distribuído no credenciamento do mais importante encontro brasileiro e continental sobre educação e religião. De 19 a 21 de outubro, o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso promoveu em Natal – RN, o IX Congresso Nacional do Ensino Religioso e I Congresso Latino-americano de Educação e Ciências da Religião, que reuniu cerca de 400 professores na UERN.

Nas últimas décadas, o Ensino Religioso (ER) avançou consideravelmente no desenvolvimento de concepções emancipadoras e práticas inovadoras, constituídas por saberes pedagógicos que mobilizam conhecimentos religiosos para um ensino não-confessional, voltado ao acolhimento e respeito da diversidade religiosa e cultural brasileira.

A formação específica dos professores, realizada em cursos de Licenciatura em  Ciência(s) da(s) Religião(ões) para o ER, produziu novas formas de pensar e agir no ambiente da sala de aula, alterando o status de uma disciplina presente na educação brasileira por séculos, mas que vai deixando de formar fiéis para as igrejas e passando a formar cidadãos sobre as espiritualidades humanas.

Dentre as práticas educativas inovadoras destacam-se a aprendizagem colaborativa (pela criação de cenários de estudo participativos, com suporte em tecnologias de redes sociais), o processo prazeroso (pela construção de roteiros interativos de estudo, com ajuda de jogos e recursos audiovisuais) e a pedagogia de projetos (pela organização de pesquisas transdisciplinares, por grupos ativos de estudantes, a partir de questões da vida).

O diálogo entre Educação e Ciência(s) da(s) Religião(ões) vem permitindo a inovação no âmbito das práticas pedagógicas no cotidiano escolar, mas também nutre o surgimento de uma epistemetodologia fundada na administração de controvérsias e atenta aos desafios do contexto contemporâneo, cada vez mais complexo e diverso.

O evento em Natal tratou, justamente , de “Conhecimentos religiosos, culturas e educação: tecendo práticas inovadoras”. Teve uma Mesa sobre a atual conjuntura brasileira do Ensino Religioso, realçando que o julgamento da modalidade de ER pelo STF, permitindo variações do confessional ao não-confessional, a depender das regulações dos sistemas de ensino em cada estado, exige mobilização dos animadores culturais e educadores republicanos para garantir diretrizes curriculares do Ensino Religioso como tradução pedagógica das Ciências da Religião e professores licenciados na área.

Teve também outra Mesa, com o tema “Rumo à decolonialidade do saber e do ser no ER”, mas o forte do encontro foram os 18 Grupos de Trabalho que se reuniram concomitantemente no campus da Universidade. O prof. Gilbraz, do nosso Observatório, esteve na coordenação do GT sobre “Direitos Humanos, Interculturalidade e Diversidade Religiosa”, junto com Eliane Freitas (PUCSP), Edivaldo Bortoleto (UNOCHAPECÓ) e Nicolás Panotto (FLACSO). Do Observatório das Religiões no Recife participaram ainda nas comunicações científicas: Maciel, Lúcia Prazeres, Rafael, Thaís e Valter.

Aproveitando o ensejo, espalhamos a boa notícia do Curso EaD em Ciências da Religião – Licenciatura para o Ensino Religioso, que deve começar proximamente na UNICAP, colaborando para uma educação sobre a religião na escola através de eixos pedagógicos problematizadores das experiências humanas de sagrado e transcendência, dos símbolos das espiritualidades religiosas e não-religiosos nos tempos e espaços socioculturais, das ideias místicas e práticas éticas das tradições em suas diversas matrizes. Segue firme a caminhada contra o obscurantismo e a instrumentalização das religiões!

 

 

Saiba mais:

Observatório colabora para o Ensino Religioso

Debate sobre Ensino Religioso

Religiões no espaço público

 

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