Nesta manhã de 5 de abril o Papa Francisco e lideranças da Igreja católica amanheceram sabendo que, em Olinda e Recife, tem um grupo de pesquisadores das religiões que cultiva o esclarecimento das tradições de fé, mas também promove o diálogo entre as religiões, em vista do cuidado fraterno com a Casa Comum. É que o professor Riccardo Burigana, da Pontifícia Faculdade Teológica da Itália Meridional e do Centro de Estudos para o Ecumenismo na Itália, que também é colaborador do Programa de Ciências da Religião da UNICAP e fez a sua aula inaugural no mês passado, escreveu sobre o assunto no Osservatore Romano, que é o jornal oficioso de religião e política do Vaticano (com edição completa em italiano e resumida em várias línguas). Segue a matéria traduzida, apresentando entrevista com o professor Gilbraz sobre o nosso Eco Parque das Religiões (na foto à esquerda, plantio da árvore inaugural)…
Parque das Religiões está sendo construído em Olinda: fé na Casa Comum
por RICCARDO BURIGANA
“Um lugar onde se aprende sobre as religiões e se dá continuidade ao diálogo para a Casa Comum”: é assim que Gilbraz Aragão, professor da Universidade Católica de Pernambuco (Recife-Brasil), descreve o Eco Parque das Religiões que está sendo construído em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, e de cuja coordenação ele participa. Fizemos-lhe algumas perguntas sobre esse projeto, que é apoiado por vários atores acadêmicos, religiosos e civis.
De onde surgiu a ideia de um Parque das Religiões?
O interesse pelo diálogo inter-religioso é um ponto central na vida da Universidade Católica no Recife: há anos existe um Observatório Transdisciplinar das Religiões que fomenta o conhecimento das espiritualidades ativando o diálogo por caminhos científicos e pedagógicos; e com este equipamento cultural do Parque quisemos também retomar no presente o legado de Dom Hélder Pessoa Câmara, arcebispo de Olinda e Recife de 1964 a 1985. A encíclica Laudato Si provocou um amplo debate sobre o que as religiões poderiam fazer juntas, ao denunciar a exploração da Criação e formular propostas para remover a desigualdade e a pobreza, promover a ecologia integral. A publicação do documento sinodal para a Amazônia também despertou novo interesse no campo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, tanto que a questão do que fazer juntos para apoiar reflexões e ações para uma ecologia integral tornou-se premente. Nesse momento, a colaboração dos franciscanos com os jesuítas foi fundamental, e eles relançaram, também à luz de sua história, a exigência de que se buscasse um diálogo amplo capaz de envolver as religiões e a sociedade com esses desafios ecológcos e ecumênicos. Assim surgiu a ideia de criar um Eco Parque das Religiões, que teve desenvolvimento significativo com a decisão da Província Franciscana do Nordeste de disponibilizar o sítio do convento de Olinda, o mais antigo no Brasil.
Qual o objetivo da criação do Eco Parque das Religiões?
O objetivo é promover um conhecimento crítico, transdisciplinar, da dimensão espiritual de homens e mulheres na história, por meio da identificação de experiências místicas compartilhadas, em exposições que aliem arte, tecnologia e natureza, dando especial atenção à tradição de diálogo que tem caracterizado a vida religiosa no Nordeste brasileiro, sem esquecer as páginas que falam de intolerância e conflitos. Trata-se de compartilhar um patrimônio religioso a partir do conhecimento de textos escritos, representações e memórias orais, fugindo da lógica de comparações depreciativas, mas na busca das riquezas espirituais das tradições de cada grupo e na descoberta de uma mística comum. No centro desta reflexão foi colocada a relação das religiões com a “Casa Comum” precisamente porque, desde a primeira formulação do projeto, houve uma forte necessidade de educação no cuidado da Criação num espírito de fraternidade, como tantas vezes exortou o Papa Francisco. Gostaria de lembrar que para o avanço desse projeto também houve inúmeras contribuições de estudantes do curso de Ciências da Religião da Universidade Católica de Pernambuco, onde se cultiva a referência ao Papa Francisco, mesmo com não católicos.
Em que fase está a implementação do projeto?
Na definição do projeto, um passo particularmente significativo foi o Simpósio que decorreu em 10 e 11 de outubro de 2023, no qual se fez um balanço das várias propostas; O projeto do Eco Parque formulado pelo pessoal de arquitetura e urbanismo da Universidade foi discutido e os órgãos para a gestão da estrutura foram definidos: um conselho gestor formado pelos fundadores, um conselho científico de estudiosos de religiões e um conselho consultivo formado por representantes de tradições religiosas e espirituais. Nos últimos meses, também graças à contribuição de especialistas na museologia do sagrado, começamos a avaliar as opções expográficas na criação dos caminhos do Parque, a fim de apresentar as diferentes experiências espirituais, contextualizadas historicamente, em um mesmo sítio, museu e parque. O Parque das Religiões, em Olinda, testemunhará o acolhimento e o compromisso com a promoção de um conhecimento que apoie o diálogo pela paz no cuidado da Criação.
parabens pela iniciativa da UNICAP e que ela floresca e inspire eco parques semelhantes Brasil afora.