PARQUE DAS RELIGIÕES

No dia 10 de agosto de 2022, franciscanos e jesuítas vão se unir a educadores de Pernambuco para a construção do Parque das Religiões. É um projeto que vem sendo sonhado e trabalhado há mais de uma década, mas que ganha grande impulso com o acordo que será firmado no Convento de São Francisco de Olinda, em cujo sítio será justamente construído o museu Parque das Religiões. Às 10h, na presença de autoridades públicas e animadores culturais da região, assinarão o documento o padre Pedro Rubens S.J., reitor da UNICAP; o frei João Amilton, provincial dos franciscanos; e Sérgio Ferreira e Pedro Pereira Cavalcante Filho, pelo Instituto Museu Parque das Religiões. E um baobá, árvore sagrada do Povo de Santo, será plantado como marco inicial dessa iniciativa, ao mesmo tempo ecológica e ecumênica.

Em verdade, inspirados pela encíclica “Laudato Si” (Louvado Sejas) do Papa Francisco e pelo “Documento do Sínodo para a Amazônia“, franciscanos e jesuítas têm se unido para empreender reflexões e ações voltadas à luta pela justiça socioambiental, contra toda forma de exploração e desigualdade socioeconômica, contra toda expressão de racismo e em defesa da democracia, entendendo que essa causa da ecologia integral é também a maior motivação para o ecumenismo e macroecumenismo, para o diálogo entre as religiões e convicções.

Há 800 anos, São Francisco questionou a estratégia das cruzadas católicas e buscou dialogar com o Sultão muçulmano Al-Malik. Há 400 anos, na China, Matteo Ricci e os jesuítas começaram um diálogo intercultural e inter-religioso buscando colaborar com tudo o que leva a humanidade “para frente e para cima”. Tais experiências motivaram a abertura desses religiosos para o estudo científico das tradições de fé e para a meditação mística sobre os dados das ciências, levando-os a acolherem e promoverem o mais amplo ecumenismo entre os grupos espirituais e filosóficos que defendem a justiça e a compaixão, o mais sincero diálogo com as pessoas que amam a vida e a liberdade.

Por isso, especialmente os franciscanos e os jesuítas abraçaram o movimento internacional “Laudato Si Revolution”, que se reveste de grande simbolismo por aproximar os carismas e as forças dos dois grandes santos fundadores, Francisco e Inácio, que se refletem na imagem do Papa Francisco, personificando os dois enquanto jesuíta que escolheu o nome de Francisco. Essa união propõe uma “revolução” que incorpora profunda mudança de paradigma no relacionamento com a Terra, nossa “casa comum”, convidando as religiões para a promoção da fraternidade contra as injustiças e a favor do cuidado com o meio ambiente.

Entrando nessa ciranda ecológica e ecumênica, os franciscanos de Olinda resolveram abrir o sítio do seu Convento, o mais antigo do Brasil e que abriga a primeira biblioteca pública do estado, para acolher o Parque das Religiões: projeto de educadores da sociedade civil que vem sendo desenvolvido com suporte dos estudos de religião cultivados pelos jesuítas na Universidade Católica de Pernambuco, assessorado desde o início pelo seu Observatório das Religiões. Em pleno coração do Sítio Histórico, Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, com apoio do poder público e financiamento de empresas parceiras, vai surgir, então, um jardim para meditação sobre a mística que se desenvolve entre e além das tradições religiosas, para contemplação e envolvimento com a natureza, em torno de uma secular fonte de água e com vista para o mar verde da “Marim dos Caetés”.

Aí, nessa área de quase 3 hectares, serão construídos também, em harmonia com o ambiente natural e histórico, um espaço receptivo, anfiteatro e um conjunto de salões expositivos com apoio em tecnologias de interação, procurando educar para a interpretação das linguagens simbólicas e o diálogo entre as religiões e destas com as ciências, desenhando assim um museu dinâmico para acolher jovens que desejem conhecer o desenvolvimento das religiões, seus personagens divinos e palavras inspiradoras, os espaços, calendários e rituais sagrados, as visões da vida para além desta, a vivência comunitária e ética nas tradições, seus conflitos, sincretismos e diálogos místicos e culturais. Em meio aos sinos misteriosos de Olinda, o Parque das Religiões de Pernambuco começa a surgir como equipamento cultural e pedagógico para mostrar que outro mundo, com um pacto entre as espiritualidades para a paz com justiça, é desejável e é possível.

A missão do Parque das Religiões é desenvolver aprendizagens críticas e transdisciplinares sobre as experiências espirituais da humanidade, constituindo um ponto importante de atração turística para Pernambuco, um sítio de educação humanista para o mundo. O museu quer estimular a busca de significados mais profundos para esse patrimônio cultural da humanidade que são as espiritualidades, tanto religiosas como também não ou pós-religiosas. Será um polo de fascinação, um farol diferente em Olinda: em meio ao crescimento de fundamentalismos político-religiosos muito intolerantes no Brasil, vai acender a luz da educação científica sobre a religiosidade.

E, juntos, somos todos convidados a entoar o Cântico das Criaturas e a trilhar o caminho da “Laudato Si” (n.244): “Na expectativa da vida eterna, unimo-nos para tomar a nosso cargo esta Casa que nos foi confiada, sabendo que aquilo de bom que há nela será assumido na festa do Céu. Juntamente com todas as criaturas, caminhamos nesta terra à procura de Deus, porque, ‘se o mundo tem um princípio e foi criado, procura quem o criou, procura quem lhe deu início, aquele que é o seu Criador’. Caminhemos cantando; que as nossas lutas e a nossa preocupação por este planeta não nos tirem a alegria da esperança”.

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Imagens do espiritual

Espaço das religiões

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