MUDANÇAS NA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA

Próximo 10 de setembro, a partir das 14h, via Canal da Universidade Católica de Pernambuco no Youtube, teremos a transmissão da defesa da Tese de Doutorado de José Artur Tavares de Brito (Artur Peregrino), pelo Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, intitulada À SOMBRA DO JUAZEIRO: as transformações da experiência religiosa popular no Juazeiro do Padre Cícero (1986-2016). Artur participa da equipe do nosso Observatório das Religiões e é um companheiro que sempre ajuda a unir a poeira das estradas com o pó dos livros: dia desses caminhou com o seu grupo, durante um mês, do Juazeiro ao Recife.

O objetivo da pesquisa de Artur foi analisar as transformações na experiência religiosa dos romeiros do Juazeiro do padre Cícero Romão, no contexto de mudanças culturais mais amplas, buscando compreender as estratégias de hibridação como mecanismos de preservação e ressignificação da romaria, no período de 1986 a 2016. Assim, situa historicamente as romarias do Juazeiro do Norte, ressaltando a autoprodução religiosa popular que transformou a região do Cariri cearense em importante centro de peregrinação no Nordeste do Brasil. Identifica a romeira e o romeiro do padre Cícero Romão como protagonistas de uma liturgia própria, que se desenvolve em negociações com poderes públicos, com a Igreja ou o mercado. E analisa o processo de canonização do padre Cícero Romão, pontuando continuidade e descontinuidade do protagonismo dos romeiros e romeiras. Esta pesquisa em Ciências da Religião situa-se dentro do marco teórico e metodológico transdisciplinar, que destaca o conhecimento brotado entre e além das diversas áreas e sujeitos. Com uso de metodologia qualitativa, procedeu-se a observação participante e entrevistas semiestruturadas com 30 romeiros e romeiras de vários estados do Nordeste, como também de 30 estudiosos da região do Cariri. Para a crítica desse material, fundamentou-se nas teorizações da Análise do Discurso (AD) de orientação francesa, que produz seu tecido através de contribuições das ciências sociais.

O estudo mostrou uma realidade que só pode ser compreendida a partir de um cenário religioso mais amplo, no qual também estão inseridos padre Ibiapina, os beatos Antônio Conselheiro e José Lourenço. Os entrevistados e entrevistadas consideraram que a modernização do transporte em “caminhão pau de arara” foi “como se perdesse uma entidade do Juazeiro”, porque ele promovia ambiente de mística solidária e correspondia às condições financeiras dos mais pobres. Além do moderno turismo religioso, o protagonismo dos romeiros e romeiras foi atingido pelo processo de clericalização das romarias, que coincide com o movimento em torno da eventual reabilitação do padre Cícero Romão, contrapondo a religião do Templo à religiosidade da Estrada. Constatou-se que o movimento religioso popular do Juazeiro revela um potencial social subversivo, escondido sob as aparências de passividade alienada, pelo que chamamos de Cristianismo Místico Beato a esse movimento em torno das romarias do padre Cícero, que faz parte de um universo simbólico mais amplo e para além de Juazeiro do Norte, marcado pela inclusão do pobre e da comunhão solidária.

A pesquisa foi orientada pelo professor do PPPGCR/UNICAP, Gilbraz Aragão, que irá presidir a banca de arguição, que será formada também pelos professores Drance Elias da Silva – PPGCR/UNICAP; Benedito Gomes Bezerra – PPGCL/UNICAP; Luiz Carlos Susin – PUCRS; e pelo professor Alder Júlio Ferreira Calado – UFPB. Quanto a Artur, é Mestre em Antropologia Cultural pela Universidade Federal de Pernambuco (1999). Possui Licenciatura e Bacharelado em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1996), Bacharelado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife (1987). É especialista em Educação à Distância (2011) pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). É integrante do grupo de pesquisa Espiritualidades, Pluralidade e Diálogo. Atualmente pertence ao quadro docente da Universidade Católica de Pernambuco e é membro do Instituto Humanitas – UNICAP. 

(Re)veja aí a defesa da tese

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *