Fui enviada pelo Observatório das Religiões no Recife para participar do Seminário Nacional Artes e Ofícios em Educação Popular, e, de quebra, da Reunião do Conselho Nacional de Coordenação do Observatório de Justiça Socioambiental dos jesuítas, o OLMA, e por isso fiquei de 8 a 12 de abril de 2019 na cidade de São Paulo – SP. Venho do mundo do direito e pouco sabia sobre educação popular, mas me dispus a aprender. De início, verificamos, em comunidade, a existência de um problema social que é a dificuldade para a convivência com a diversidade, por não sabermos que nossas diferenças são, na verdade, aquilo que nos preserva e que nos mantém na busca pela origem da Terra e de todo o gênero humano. Sim, porque é preciso falar da humanidade enquanto unidade na diversidade, uma espécie com muitas culturas. Saímos, todos, da mesma Terra, do “húmus”. Somos integrantes de uma só humanidade, uma coletividade, e o que se torna mais universal em todos nós é a capacidade de sermos diferentes uns dos outros. Cada singularidade humana é uma célula da civilização.
A educação popular, caminho privilegiado pra gente terapeutizar esse distanciamento uns dos outros e para recosturar nossas origens comuns, contribui para ressaltar a dignidade de toda criatura porque manifesta a assunção da causa dos oprimidos, que é sempre mais inclusiva e está para os direitos humanos tanto quanto os direitos humanos estão para a educação popular. Nesse sentido, ela assume um papel importante de proposta pedagógica e política: a construção da igualdade e o reconhecimento da dignidade, em meio ao pluralismo das culturas, das religiões, das pessoas e grupos. Isso porque a educação popular, que pode ser um exercício em nossas relações diárias, torna-se uma construção coletiva que exalta a potencialidade de crianças, de pessoas marginalizadas e de comunidades, de ampliarem suas consciências de gente em relação, de povos envolvidos com os seus ecossistemas naturais e sociais.
Mas dentro da perspectiva da construção da igualdade é preciso refletir, ainda, sobre a alteridade e o reconhecimento de nós mesmos perante o Outro. Assim, a gente se questionou: quando foi mesmo que deixamos de respeitar o nosso próximo? Para responder a essa pergunta torna-se necessária a realização da educação popular dentro de nós mesmos, através do rompimento de paradigmas elitistas e etnocêntricos e do respeito para com as diferenças, o cuidado com a decolonização das pessoas e dos grupos. Necessário, também, o desenvolvimento da escuta sensível, ponto de diálogo, de encontro, de afetividade, no contato com as diferenças, nos entre-lugares da existência.
Após dias de intensa comunhão, de troca de conhecimentos e práticas, de conversas ao redor de chá e chimarrão e de místicas que nos conectavam uns aos outros, às comunidades com as quais e pelas quais trabalhamos, e a toda a criação e ambiente que nos rodeavam, alegrou-me o fato de perceber que há muito o nosso Observatório Transdisciplinar das Religiões no Recife busca aplicar os conceitos da educação popular nas atividades que realiza, e de saber que poderemos estar em constante aprendizado nessa grande partilha de boas experiências que se chama viver com respeito às diversidades. Não se trata de educar apenas os pobres, mas de ter as causas populares e ecológicas como fronteira que reconcilia as diferentes religiões e culturas.
Ao final do encontro, os grupos presentes discutiram e subscreveram uma importante Carta-Manifesto sobre a Situação Socioambiental do Brasil: todo mundo está convidado para essa ciranda de reflexão e engajamento!
Thaís Chianca.