RELIGIÕES E CULTURA URBANA

O auditório Dom Helder (térreo do bloco A) recebeu, dentro da Semana Teológica da UNICAP, na quinta dia 9 de maio, das 16h30 às 18h30, uma roda de conversa instigante sobre como as religiões estão se adaptando à cultura urbana e sobre o papel do diálogo inter-religioso nessas novas socializações das tradições de fé.

Cláudia Lima, representando o candomblé ou xangô, Floridalva Cavalcanti, representando o budismo, e o prof. Gilbraz Aragão (veja aqui sua reflexão sobre a Igreja na cidade), acolhendo os presentes em nome do cristianismo, puxaram o fio do debate. Após uma apresentação dos respectivos caminhos religiosos e de como eles estão se inculturando nas cidades (veja o exemplo cristão da missa cósmica), discutiu-se que a pessoa religiosa antiga, cujo imaginário vinha do mundo rural e da sua natureza, realizava o cosmo a partir de um ponto fixo, a hierofania, que lhe dava poder para fundar a realidade a partir de pontos de ruptura através dos quais o “mais-que-natural” se manifestava. O ser humano contemporâneo, que vive em um mundo urbano artificial e globalizado, no qual as correntes espirituais viajam e se entrecruzam em múltiplos altares (incluindo o secular, o pós ou não religioso), assumiu o relativismo da existência e rejeita, quase tanto quanto a pretensão objetivista e tecnicista do conhecimento científico moderno, a linguagem metafísica das subjetividades religiosas.

Rejeita a princípio, então, o movimento de transcendência, de um toque divino ou uma essência humana, apostando num existir sem pontos fixos. Basta-lhe um conjunto de mapas teóricos para vagar por aí, numa realidade fragmentada e construída, no máximo, com a ajuda da ficção. No entanto, esse apego ao “real” pode ser o começo de uma nova espiritualidade: na sociedade pós-moderna, a dimensão religiosa vem por meio de manifestações culturais que transparecem “algo mais” nesse mundo asséptico e cético. Nossa situação é caracterizada, assim, pela sensação do irreal e pela procura de um senso novo de realidade. Portanto, pela procura de uma nova espiritualidade, certamente transcultural – e trans-religiosa.

O prof. Gilbraz lembrou que nesse contexto o cristianismo, desde meados do século XX, tem esboçado uma renovada pastoral urbana. E propôs que, para aprofundar essa caminhada e evangelizar bem a cidade, seria bom sair pras ruas com uma “Igreja mais Devagar”: trata-se de vertente missiológica inspirada no movimento cultural “Slow Food” (comida lenta) para repensar as maneiras como os cristãos partilham as suas vidas nas comunidades eclesiais e testemunham sua fé. Assim como o mundo anda criticando a cultura da alimentação industrializada e rápida, a Igreja Devagar quer desmascarar os projetos de missão “industrializada” e a busca obsessiva e massiva de conversões, quer estimular uma teologia criativa e holística, que desperte conexão com o que o espírito de Cristo está suscitando como projetos de vida mais sustentável em nossa própria vizinhança, que conscientize para a interdependência com todas as culturas/religiões e toda a Criação. Devagar (e junto) é que a gente chega lá e chega melhor!

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