Autonomia e comunhão na Igreja e serviço para mais vida no mundo são as tônicas da 52ª Assembleia Geral da CNBB, que está reunindo cerca de 350 bispos católicos de todo o país nas dependências do Santuário Nacional de Aparecida (SP), de 30 de abril a 9 de maio de 2014. O tema central da Assembleia é a renovação paroquial: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. Mas a pauta envolve também discussões sobre liturgia e catequese, as questões agrária e indígena e os desafios políticos dos trabalhadores, bem como o tema prioritário dos “cristãos leigos e leigas”.
A elaboração do texto sobre o tema prioritário, que começou a ser discutido na Assembleia, sobre o protagonismo do “leigo” como sujeito na Igreja e no mundo, foi de responsabilidade da Comissão Episcopal para o Laicato, presidida pelo bispo de Caçador (SC), dom Severino Clasen, e formada pelos bispos Pedro Conti, Giovane Melo e Milton Kenan, contando com participação de Marilza Schuina (presidente do Conselho de Leigos do Brasil) e assessoria dos teólogos Décio Passos (PUCSP), Lúcia Pedrosa (PUCRio) e Gilbraz Aragão (UNICAP).
Antes da apresentação do texto ao plenário, no segundo dia do encontro em Aparecida, dois leigos foram convidados para falar sobre as expectativas com relação ao debate do tema pelos bispos brasileiros. “Ao trazer o tema do laicato para esta Assembleia, não sabem os senhores a alegria que gerou em nós. É como a primeira chuva que cai no sertão, e quando a chuva cai precisamos correr e jogar as sementes para que possam germinar”, explicou a animadora Sônia Gomes. Para o professor César kuzma, a CNBB, ao falar sobre os leigos, “reconhece aqueles e aquelas que estão em maior número no corpo eclesial e que não querem mais ser tratados de maneira passiva, como os que sempre ouvem e recebem, ou como o povo conquistado”.
O texto, então, que continuará sendo estudado e melhorado por um ano em todas as comunidades católicas do Brasil, até se tornar documento e diretriz da CNBB, pretende fomentar uma Igreja mais participativa, através de Conselhos em todos os níveis, e também mais engajada na transformação da sociedade que se desumaniza por individualismos e comunitarismos fechados. Para fundamentar essa compreensão do sujeito cristão, ele lembra que no cristianismo primitivo toda a comunidade tinha um caráter “sacerdotal”, na medida em que sua vida comunitária devia participar da “obra sacerdotal” de Cristo. Não simplesmente na celebração litúrgica, mas no empenho amoroso da vida de cada um e de todo cristão, devido ao poder transformador do único sacrifício de Cristo.
Mas como a Igreja foi crescendo, já no século III tornou-se mais comum distinguir entre os cristãos ordenados para as celebrações públicas (o clero) e os não ordenados (os leigos). Depois, o aparecimento do monaquismo aprofundou a distinção, entre leigo e monge, o qual devia se devotar à espiritualidade e compor também o clero. Com isso a liturgia passou a ser privilegiada e se tornou assunto clerical, ficando os leigos reduzidos a espectadores e deixando até de receber a comunhão. Essa ideia de classes tornou-se forte na eclesiologia católica, até que o Concilio Ecumênico Vaticano II recordou que a vida de todo cristão é sacerdotal, na medida em que ele se entrega ao poder da caridade, encarnado na auto-doação salvífica de Jesus. E o ministério cristão ordenado só pode ser entendido como uma chamada para servir e coordenar esse sacerdócio de todos os batizados, com os seus diversos carismas e ministérios. Juntos, todos formam o mesmo Povo de Deus, que deve ser sinal e instrumento de amor para o mundo, através das liturgias sacramentais mas também da vivência fraterna e das pastorais sociais.
Que consequências essa teologia, ainda nova após 50 anos do Concílio, deve trazer para a vida das comunidades católicas (já se fala por aí na possibilidade de homens casados presidirem extraordinariamente a eucaristia) e quais os desdobramentos desse catolicismo mais comunitário para o diálogo ecumênico com as outras tradições cristãs? Essa discussão deverá ganhar corpo a partir de agora em todos os rincões eclesiais, conforme informa o professor Gilbraz para os colegas da Católica de Pernambuco. E completa: “No momento em que o papa Francisco convoca toda a Igreja a sair de si mesma para chegar às periferias existenciais e sociais através do diálogo e do serviço, cada cristão deve sentir-se chamado a se renovar em sua condição e missão de batizado”.
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