UNIR OS CRISTÃOS: SIM, MAS PARA QUÊ?

O nosso Observatório das Religiões da Universidade Católica de Pernambuco procura assessorar a Comissão para o Ecumenismo e o Diálogo da Arquidiocese de Olinda e Recife. Nessa condição, estivemos envolvidos na programação da Semana de Oração pela Unidade Cristã, que em 2023 teve como tema “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça” e levou a refletir sobre o envolvimento dos cristãos no combate ao racismo. A opressão político-econômica e a intolerância cultural e religiosa sofrida pela maioria do nosso povo é classista e racista, prrincipalmente contra os negros e indígenas. Ela resulta dos processos de escravidão sofridos nos países do Sul do planeta, muitas vezes em proveito de países do Norte, ditos cristãos, em seus projetos de colonização.

roda de diálogo na Universidade
celebração na igrejinha de Dom Helder, nas Fronteiras

O tema da Semana de Oração foi escolhido e preparado por um grupo ecumênico dos Estados Unidos da América, a convite do Conselho de Igrejas de Minnesota. Esse estado caracteriza-se, historicamente, pela profunda disparidade racial. Entre as inúmeras violências racistas, destaca-se a ocorrida do dia 26 de dezembro de 1862, quando 38 pessoas da etnia indígena Dakota foram enforcadas em Mankato. As execuções ocorreram no contexto da guerra travada entre os Estados Unidos e o povo Dakota.

Histórias de crueldade se repetiram na região, a mais recente foi o assassinato de George Floyd, em março de 2020, no contexto da Covid-19. O crime foi cometido pelo policial de Minneapolis, Derek Chauvin. Esse crime, perpetrado por um agente a serviço do Estado, mobilizou a população afro-americana, que denunciou os inúmeros crimes racistas que ocorrem diariamente no país. Esta onda de mobilização e denúncia ficou conhecida como “Vidas negras importam” e contribuiu para a amplificação das denúncias de crimes racistas que ocorrem diariamente em diferentes países, incluindo o Brasil. 

Em nosso país, os indígenas sofreram genocídios em vários processos de colonização e os negros aqui escravizados, sempre por motivações econômico-políticas disfarçadas de evangelização religiosa, sofrem com uma abolição não concluída: o Brasil foi o último país americano a abolir a escravatura, há apenas 135 anos, mas quem saiu da senzala foi parar no mocambo porque não houve reforma agrária nem urbana, os negros não tiveram acesso a políticas públicas reparadoras e tornaram-se os mais empobrecidos entre os pobres. A abolição ainda precisa ser feita, com o fim de polícias e prisões racistas, com políticas de habitação, educação e saúde para todo mundo.

Então, na Semana de Oração deste ano, no debate realizado na UNICAP e nas orações ecumênicas organizadas na Universidade e também na igrejinha de Dom Hélder, além daquelas organizadas em várias comunidades e paróquias cristãs, a tônica foi o compromisso de todos no apoio aos povos negros e indígenas em sua luta por terra e trabalho digno, por alimentação e saúde, contra o racismo. Vamos ajudar na afirmação dos grupos afro-brasileiros e dos povos originários como produtores de conhecimento e como sujeitos históricos, inclusive no tocante ao direito à sua diversidade espiritual e religiosa.

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