EDUCAÇÃO PARA A CASA COMUM

De 11 a 13 de setembro o Centro Cultural de Brasília recebeu a reunião do Conselho de Coordenação do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida – OLMA. Vinte e três grupos participam do Conselho, entre eles o nosso Observatório das Religiões no Recife. O OLMA é um núcleo dos jesuítas do Brasil, que articula e apoia instituições e iniciativas em rede focadas nas temáticas comuns ligadas à promoção da justiça socioambiental. É um serviço de informações, análises, ação educadora e incidência na realidade brasileira, em vista à promoção da justiça socioambiental – para a qual o diálogo inter-religioso e intercultural, como o que desenvolvemos na UNICAP, é chamado a criar ambiência mística de compromisso, entre e para além das tradições de fé, com essa frente ecumênica e ecológica de cuidado com a “Casa Comum”.

A principal pauta do Conselho foi cartografar um itinerário educativo para os animadores que trabalham com justiça socioambiental junto aos jesuítas, entrelaçando fundamentos da educação popular, da pedagogia inaciana e da ecologia integral. A base foi a concepção de educação popular e transformadora, que deve empoderar pobres, negros e índios: “A educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Caso contrário, continuará a perdurar o modelo consumista, transmitido pelos meios de comunicação social e através dos mecanismos eficazes do mercado” (Laudato Si). Para essa promoção da consciência crítica, concorrem também os exercícios espirituais traduzidos no paradigma pedagógico inaciano, que requer estar atento ao contexto, reviver as experiências, aprofundar a reflexão, agir em consequência e avaliar sempre. Essas coordenadas modelaram processos e conteúdos que vão ser formalizados por grupo de trabalho em um curso comum para os colaboradores dos jesuítas.

A plenário do Conselho deliberou ainda que a próxima reunião acontecerá na Católica de Pernambuco, em Recife, dias 21 e 22 de abril de 2020, para favorecer a participação de todos no Seminário de diálogo inter-religioso que será promovido justamente pelo nosso Observatório. Nos dias 23 e 24 de abril a UNICAP deve acolher cerca de sessenta pessoas no III Seminário “Espiritualidades Contemporâneas, Pluralidade Religiosa e Diálogo”, que vai tratar dos “Desafios dos Fundamentalismos”. O evento é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa Espiritualidades, Pluralidade e Diálogo, que está sob nossa coordenação, com apoio do OLMA, da Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação, do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas e do PPG em Ciências da Religião da UNICAP. O Seminário vai contar com três palestras, proferidas por Cláudio Ribeiro, Ivo Follmann e Marcelo Barros, e vai se organizar com partilhas de casos de pesquisas  (aprofundando alicerces conceituais e lógicos para um Princípio Pluralista na compreensão do mundo religioso) e de experiências (tirando lições de casos exitosos e/ou traumáticos na promoção do respeito à diversidade cultural e religiosa), bem como de mesas de conversas sobre religiões afro-indígenas e sobre cristianismos e fundamentalismos, além da programação mística e cultural.

Vamos preparando os espíritos para somar e multiplicar nesse mutirão em defesa do pluralismo e da diversidade, para fazer frente a uma onda de religiosidade reacionária entre nós, em que inclusive evangélicos e católicos fundamentalistas, que são concorrentes no mercado religioso, unem-se “ecumenicamente” contra o ecumenismo e o diálogo entre as religiões e filosofias de vida (sobretudo com as tradições afro-indígenas), contra imigrantes e especialmente muçulmanos, contra os direitos reprodutivos e a diversidade sexual, unem-se pela catequese cristã nas escolas e contra o “ensino religioso” laico e republicano, pela “liberdade religiosa” entendida como direito ao proselitismo intolerante e à ocupação do espaço público pela “bíblia”. A religião está sendo manipulada por grupos poderosos, que se aproveitam do medo das transições culturais para tentar manter dominação política (e exploração econômica) sobre “deus e o mundo”!

Saiba mais:

Caminhos da justiça

Diálogo e causa socioambiental

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