Boletim Unicap

Semana da Consciência Negra discute Angola

fotos: Daniel França
o encontro foi aberto ao som do hino angolano

A 3ª Semana da Consciência Negra movimentou, na tarde desta quinta-feira (11), o primeiro andar do bloco B da Unicap, onde está localizado o teatro da Universidade que serviu de palco para a conferência Angola: uma nova África está nascendo. A data não foi escolhida por acaso. O evento também marcou o 35º aniversário da independência do país africano. O debate foi organizado por jovens angolanos que estudam na Católica por meio de convênios e intercâmbio estudantil. Ao todo são 36 estrangeiros. 

plateia formada por angolanos em clima de descontração

Entre os debatedores estavam o assessor de relações internacionais da Unicap, professor Thales Castro; a representante do consulado e da comunidade angolana no Recife, Madalena Sabonete; e o estudante angolano Wanderlen Candeia. Eles falaram sobre os aspectos culturais, econômicos e políticos de Angola.

“A mídia brasileira só mostra ditadores, Aids e guerras tribais. Queremos, com eventos como este, apresentar uma nova visão da África e de Angola. Há coisas bonitas lá”, disse o coordenador da Semana da Consciência Negra e do Núcleo de Estudos  Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap (Neabi), padre Clóvis Cabral, pouco antes de a aluna Lidinete Helena Dias Elias fazer a abertura do encontro ao som do hino nacional de Angola.

O primeiro debatedor a falar foi o professor Thales Castro, que abordou a relação entre o Brasil, Angola e a Unicap.  Ele introduziu a sua explanação mencionado o abolicionista e primeiro embaixador do Brasil, Joaquim Nabuco. “O Brasil tem um dívida histórica com a África. Antes de mais nada, é preciso desconstruir essa visão monolítica desse continente tão denso e complexo. É importante também combater o afropessimismo. Devemos destacar a pluralidade, os fascínio pela África”, disse. O cientista político especializado em relações internacionais destacou a diferença entre os 53 países que formam a África e os seus sinais de crescimento no mundo. Ele deu como exemplo a alternância de poder na democracia do Sudão; e a realização da Copa do Mundo de Futebol na África do Sul.

professor Thales, Wanderlen e dona Madalena

Thales destacou a distribuição do conjunto de forças políticas e econômicas no continente. ” O Sudão tem a maior extensão territorial. A Nigéria, a maior população; e a África do Sul, a maior economia. Se compararmos com a América Latina, o Brasil concentra todos esses indicadores”. O professor relembrou momentos históricos na relação entre os dois países. O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola. Isso aconteceu em plena ditadura militar brasileira com o então presidente Ernesto Geisel, em 1975. ” Ele foi influenciado por um assessor chamado Azeredo da Silveira.”

Durante a sua explanação, Thales Castro destacou a relação entre a Unicap e Angola, que se dá através de dois convênios: o Programa Estudante Interncâmbio-Graduação (PEC-G), do Itamaraty; e o da parceria entre o Ministério das Obras Públicas, Construtora Queiroz Galvão e a Católica, que traz jovens angolanos para estudar engenharia civil em Pernambuco para depois retornar ao país de origem. “É uma troca cultural muito rica. Enriquece o nosso processo pedagógico”, disse ele sob aplausos da plateia.

Em seguida, foi a vez de dona Madalena Sabonete tratar dos hábitos e costumes angolanos. Ela falou sobre as diferenças entre o norte e o sul do país e as tradições em festas de casamento, nascimento e velórios. Segundo Madalena, quando uma criança nasce, toda a comunidade para e se volta para o acontecimento. “Aquele bebê é um presente para a comunidade toda. Isso valoriza o ser humano, o relacionamento”. Para os angolanos, toda criança é vista como um filho. Lá os vizinhos têm autoridade para repreender o filho do outro. “O pai sempre vai acreditar no adulto em vez do próprio filho. Isso é bastante comum no interior”, explica Madalena.

O casamento é outro aspecto curioso. Em algumas regiões pode durar dias. “Os pais do noivo ‘namoram’ a noiva antes do filho. Eles sempre buscam saber a opinião dos pais”. O hábito do dote em Angola pode agradar muita gente aqui no Brasil. Madalena conta que em algumas comunidades, a família da noiva tem que oferecer caixas de cerveja empilhadas na mesma altura da noiva. “Se ela tem 1,80m, as caixas empilhadas devem ter a mesma altura. Na verdade, as duas famílias casam entre si. Nós valorizamos muito as relações de parentesco. Tratamos os demais parentes como irmãos e pais”. A culinária também foi explicada durante o encontro. No norte, os pratos feitos à base de mandioca; e no sul, à base de milho são a preferência dos angolanos. O calulu (feito com quiabo e óleo de dendê) e galinha ao molho de amendoim fazem parte do cardápio angolano, que é rico em verduras e legumes.  

O último a debater foi o estudante Wanderlen Candeia. Ele abordou os apectos da atual juventude angolana e os desafios do país para o futuro. “A globalização tira um pouco da nossa identidade, dos nossos costumes, dos nossos hábitos, mas por outro lado nos proporciona coisas positivas como esses convênios que nos levam para estudar em outros países mais avançados”, analisou. Após uma rápida introdução, ele mostrou uma reportagem da TV Record que mostrou o atual momento econômico angolano com a reconstrução da infraestrutura; o crescimento da construção civil e as longas filas de carros novos em postos de gasolina que vendem o combustível ao equivalente a R$ 0,50 e é um dos maiores produtores de petróleo da África.

o encerramento teve direito a foto considerada histórica pelo grupo
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