Scott Brodeur: “Estou impressionado com a produção científica da Teologia e Filosofia da Unicap”
|O Padre Scott Brodeur é um renomado teólogo da Universidade Gregoriana de Roma. Ele esteve na Católica pela segunda vez para participar de duas conferências voltadas para os cursos de Teologia e Filosofia. O jesuíta abriu espaço em sua agenda para conceder uma entrevista especial ao Boletim Unicap. Na conversa com o jornalista Daniel França, Scott falou sobre suas impressões sobre o cenário político brasileiro, crise de representatividade e produção acadêmica. Confira os principais trechos da entrevista.
Boletim Unicap – Como o senhor está vendo o atual momento brasileiro?
Padre Scott Brodeur – Estou muito preocupado com a situação do Brasil. Estive aqui pela primeira vez há mais de dez anos. Estive em São Paulo e no Rio de Janeiro estudando gramática portuguesa. Já naquela época me chamou a atenção os contrastes. Mas o espírito do povo brasileiro é fantástico. Vocês têm uma energia, uma paixão pela vida que é muito especial. É muito bom estar de volta. Mas as notícias que vêm de Brasília são muito tristes.
B.U – Em meio a este contexto político é possível perceber uma luta entre progressistas e conservadores, este representados, em parte, por líderes de igrejas cristãs. Em sua opinião, qual o papel das religiões num possível apaziguamento dessas tensões?
Pe. S.B – Os representantes das igrejas no Brasil têm uma imensa responsabilidade. Eu acho que eles devem promover políticas que incentivem mais justiça no País, ajudando, dessa forma, os mais pobres. É muito triste ver níveis tão altos de desemprego. Problemas semelhantes aos da Itália e da Grécia. As igrejas devem incentivar decisões políticas que ajudem os trabalhadores, criar mais trabalhos para os mais jovens.
B.U – Boa parte da imprensa internacional está criticando o comportamento da mídia brasileira em relação ao processo de Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Quais são suas impressões já que, aparentemente, há uma certa contradição entre a maioria da mídia brasileira e a estrangeira na cobertura desta crise?
Pe. S.B – Este tratamento um tanto imparcial de alguns fatos políticos acontece também no meu país, os Estados Unidos. Lá também as empresas de mídia têm seus interesses financeiros, já que vendem comerciais para políticos.
B.U – Há quem diga que a Operação Lava Jato tem similaridades com a Operação Mãos Limpas. O que o Brasil poderia aprender com a operação italiana?
Pe. S.B – Infelizmente a corrupção não acabou por lá com esta operação. Outros segmentos da máfia apareceram. Mas isso significa que a luta deve continuar. Isso envolve as pessoas, a polícia, os políticos e os juízes.
B.U – O mundo ocidental parece viver uma crise de representatividade, o que denota um sentimento de falta de esperança em algumas sociedades. Como o senhor enxerga a atuação do Papa Francisco diante deste cenário?
Pe. S.B – Nem todo mundo ama o Papa. Mas ele tem uma grande sensibilidade cristã. O Papa Francisco é um homem muito simples e autêntico. Tem uma capacidade espetacular de se comunicar. Ele é um teólogo brilhante que tem mostrado e focado aspectos diferentes de Deus. As mensagens dele têm sido muito bem recebidas. O Papa Francisco é um grande líder porque ele dá exemplo.
B.U – Agora um questionamento acadêmico- institucional. Como o senhor tem percebido a produção científica da Unicap nas áreas da Filosofia e Teologia?
Pe. S.B – Esta é a minha segunda visita à Unicap. Estou muito bem impressionado com a produção científica da Teologia e da Filosofia da Unicap. Há professores-pesquisadores muito bons. São muitos alunos desenvolvendo pesquisas e isso é fantástico. Todo país precisa de escolas bíblicas, teólogos e filósofos porque é um campo importante de pesquisa. Isto é importante até para se combater a intolerância religiosa.
B.U – Isso significa que a relação institucional entre a Unicap e a Gregoriana de Roma será ainda mais estreitada?
Pe. S.B – Nossa ideia é desenvolver intercâmbio estudantil. Quem sabe, num futuro próximo, já na graduação, os alunos possam passar dois semestres letivos lá na Gregoriana. Estamos trabalhando também na perspectiva de mão dupla, de poder enviar nossos alunos para a Unicap e Faje (Faculdade de Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte). Meu trabalho é ajudar os professores daqui a elevar o nível da produção científica ao patamar da Gregoriana. Vocês têm um potencial incrível para isso porque há muitos bons estudantes, os professores têm credenciais suficientes, portanto, a Unicap é um importante centro acadêmico intelectual.