Boletim Unicap

IV Semana da Consciência Negra discute o papel da universidade no combate ao racismo

A IV Semana da Consciência Negra da Universidade Católica de Pernambuco, promovida pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena (Neabi), foi aberta com a execução do Hino Nacional, gravado pela banda mirim do Olodum. Era o sinal de que teríamos uma semana especial. De segunda a sexta, alunos, professores, militantes, pais e mães de santo e todos os interessados na valorização do negro na sociedade puderam participar de mesas-redondas, desfile de moda afro-brasileira, celebração inter-religiosa inculturada em estilo afro-brasileiro, kizomba, além da Sexta em Ritmo e Poesia e da exposição “30 mulheres de raça”, realizada na Biblioteca. O evento fez parte da comemoração dos 60 anos da Unicap e comemorou também os 316 anos do martírio de Zumbi dos Palmares e os 123 anos da abolição da escravidão.

A abertura, na noite de segunda-feira (7), contou com a presença do Pró-reitor Comunitário, Padre Lúcio Flávio Cirne, que estava representando o Reitor, Padre Pedro Rubens, que encontrava-se no Rio Grande do Sul para tomar posse como novo segundo vice-presidente da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc); do secretário executivo do Comitê Estadual de Promoção da Igualdade Etnicorracial, Jorge Arruda; do coordenador do Neabi, Padre Clóvis Cabral; da professora da rede estadual Célia Cabral, mais conhecida como Célia Malunguinho; e do professor do curso de Filosofia da Unicap José Tadeu de Souza, que foi o conferencista da noite.

Padre Lúcio deu as boas-vindas e ressaltou a importância da realização da IV Semana da Consciência Negra e chamou atenção para a coincidência de o evento estar sendo realizado paralelamente ao I Congresso Nacional de Ciências Biológicas, também realizado na Unicap ao longo da semana. “2011 é o  Ano Internacional das Florestas e também o Ano Internacional dos Afrodescentes. Hoje, na Unicap, acontece o início simultâneo do I Congresso Brasileiro de Ciências Biológicas, com o tema  Biodiversidade e Florestas, no auditório GII; enquanto aqui no GI participamos da abertura da IV Semana de Consciência Negra”, ressaltou o Pró-reitor Comunitário, acrescentando que acredita que “a Universidade – este tem sido um esforço da Unicap – deve procurar refletir o real não apenas na “naturalidade” pura dos fenômenos (biológicios, físicos, quimicos) mas, principalmente, em suas interrelações com os fatos sociais. Dito de outro modo, entendemos o ambiente incluindo os dois polos da relação ser humano/natureza. Desse modo, queremos evitar uma tendência – ainda dominante nos meios acadêmicos – naturalizada do ambiente, que enfatiza o chamado entorno natural; tendência exclusivamente biogeográfica que dissocia os componentes físicos e sociais do ambiente”.

Padre Lúcio destacou ainda que  “numa visão mais integradora, o ambiente é compreendido como o resultado da interação da lógica da natureza – o que o pessoal das Ciências Biológicas está refletindo no GII – e da lógica da sociedade, que produz, entre outros males, o racismo e desigualdade racial – objeto de reflexão desta IV Semana. Nesse sentido, ganha força e cresce em importância a realização desta IV Semana da Consciência Negra da Unicap. Mais uma vez, sejam todo(as) bem-vindos! Parabéns aos realizadores. Uma boa semana com muito axé”.

A conferência de abertura, proferida pelo professor José Tadeu de Souza, abordou o  tema central do evento O papel da Universidade no combate ao racismo e na promoção da igualdade racial. Ele começou sua apresentação fazendo uma reflexão sobre como o negro emerge no cenário da história na América Latina e no Brasil. O professor procurou desmistificar a visão de que o processo de colonização foi humanitário e pacífico. “O lugar do negro na colônia foi um lugar de exclusão do espaço de vida e a manutenção do espaço da exploração”, frisou o conferencista. Na sua visão, a história do processo civilizatório é a história da negação da condição do negro como ser humano.

Na segunda parte da sua apresentação, o professor José Tadeu fez uma reflexão filosófica sobre a condição do negro na nossa sociedade. A visão que se tinha e, infelizmente, ainda se tem de alguma forma é de que o negro não é, ou seja, o negro não existe enquanto ser humano; o negro não tem, ou seja, o negro não tem ideias, não tem força de vontade; o negro não pode, ou seja, não tem direito a nada; o negro não sabe, ou seja, tem uma alma rasa, é impotente para o saber, um incapaz.

O conferencista defendeu que a universidade, como um lugar onde se produz o saber, precisa desfazer esses preconceitos levianos e discriminatórios e postular uma nova teoria do ser, do ter, do poder e do saber e afirmar a excelência humana dos homens e mulheres negros como sujeitos que são, têm, podem e sabem.

 fotos: Paulo Maia

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