6º Colóquio Andi abre programação do 13º ENPJ
|Como tradição, o 6º Colóquio Andi abriu a programação do 13º Encontro Nacional de Professores de Jornalismo (ENPJ). O tema deste ano foi Jornalismo e Desenvolvimento: reflexões sobre a agenda das mudanças climáticas. Após a apresentação do presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), Edson Spenthof, foi iniciada a primeira parte do evento.
O coordenador de Relações Acadêmicas da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Fábio Senne; o jornalista especializado em coberturas em ciência e meio ambiente, Carlos Fioravanti; e o doutor em Geociência e professor da Universidade Estadual da Paraíba, Cidoval Morais de Sousa, participaram do primeiro debate. O evento ocorreu nessa quarta-feira (21), no Hotel Atlante Plaza, e contou com a presença de jornalistas, estudantes e professores do curso.
O cientista social Fábio Senne elaborou uma apresentação de um dos trabalhos realizados pela agência. O projeto consiste no monitoramento de coberturas jornalísticas sobre os temas de mudanças climáticas. Segundo Fábio, as atividades são construídas a partir de uma mobilização e contato direto com jornalistas. O foco é identificar como os temas sociais são tratados pela mídia e ter um panorama do espaço que tais assuntos possuem na agenda social e de desenvolvimento.
De 2005 a 2008, a partir da leitura de 50 jornais brasileiros, o grupo organizou a análise. “Não basta discutir o problema de forma isolada. O tema transcende a ideia de ser pauta apenas de uma editoria. Deve expandir nos cadernos de política, economia e os demais”, afirma. De acordo com a análise feita, o dado mais trágico encontrado foi a percepção sobre o fato da discussão de desenvolvimento sustentável não ser atrelado às mudanças climáticas. “Isso talvez seja um salto que nós devemos dar nas coberturas jornalísticas.”
Jornalista da revista Pesquisa, Fioravanti abriu a sua apresentação com uma reflexão: “Só os cientistas fazem ciência?”. Ele abordou duas classificações da ciência. A linear separa ciência da sociedade, restringindo o espaço da elaboração do conhecimento científico a poucos profissionais da áreas. Já a integrada permite que haja uma interação entre diversas instâncias, dando concessão ao debate de assuntos específicos.
Assim como a Andi, o jornalista também construiu um trabalho a partir de uma análise das publicações midiáticas. Na ocasião, ele exemplificou três matérias de sua autoria, que teve como conteúdo mudanças climáticas, de modo que o próprio apontou erros e acertos da cobertura. Uma delas teve sua autocrítica devido à ausência de possibilidade do debate público sobre o tema. “A matéria silenciou. Um especialista falando de um estudo correto e importante, mas que não houve debate, nem interação do público”, explica.
Em tópicos, ele ilustrou possibilidades de estratégias provisórias, como valorizar problemas locais, outros autores e diversificar fontes. “Existem muitos problemas difíceis de lidar, como água e pobreza, portanto, quanto mais específicos nós formos, mais convincentes podemos ser. Temos de defender os nossos interesses, mudar os planos de matérias e as conclusões, podendo seguir mais livremente. Aumentar o diálogo no planejamento de reportagens”, concluiu.
O professor Cidoval Morais de Sousa baseou sua abordagem em um paper elaborado com uma agenda formada por 12 preocupações, que toma por base o levantamento da Andi e outros setores, sobre a reflexão mídia e ciência. De acordo com ele, a superficialidade permeia as coberturas jornalísticas sobre mudanças climáticas. “Ouvimos muitas fontes, mas terminamos ouvindo os mesmos pensamentos.”
Entre os tópicos destacados estava a ênfase dada a trabalhos individuais que provoca a desvalorização de ações coletivas. Assim como Fioravanti, ele também questionou a seleção de fontes. “Especialistas e autoridades constituídas têm espaço, mas as comunidades e o público de modo geral está fora”, enfatizou. Outro enfoque dado foi a definição das pautas locais. O jornalista critica a ausência de problemas regionais nos noticiários, por serem baseadas nos pautas nacionais.