As cartas de Santa Paula Frassinetti: origem e evolução da ordem doroteana e a criação do colégio de São José em Recife

Resumo

O artigo analisa a relevância da correspondência de Santa Paula para a fundação e expansão da Congregação das Irmãs de Santa Doroteia, surgida na Itália no século XIX. Em um contexto sem telefone ou meios rápidos de comunicação, as cartas foram o principal recurso para orientar as irmãs, transmitir valores espirituais e manter a coesão da comunidade. Segundo McLuhan (1964), “o meio é a mensagem”, e, nesse sentido, as cartas de Santa Paula não eram apenas registros administrativos, mas instrumentos de diálogo e de pedagogia, fundamentais para a consolidação da ordem. De acordo com Certeau (1994), a escrita pode ser vista como uma “tecnologia do espírito”, e, nesse caso, foi essencial para sustentar a missão educativa doroteana. Esse processo de comunicação à distância favoreceu o crescimento da obra e, além de fortalecer a unidade entre as comunidades doroteanas, as cartas tiveram papel decisivo na sua expansão para fora da Itália. Foi nesse contexto que se deu a criação do Colégio de São José, em Recife, marco pioneiro da presença doroteana no Brasil. A chegada das irmãs e a fundação da instituição revelam como a palavra escrita, impregnada de espiritualidade e visão pedagógica, ultrapassou fronteiras geográficas, inspirando práticas educativas que dialogavam com as necessidades locais. Assim, a análise evidencia que as cartas constituíram um elo vital para a construção da identidade da congregação e para a difusão de um modelo educativo que, como destacou Arendt (1972), participa da tarefa de renovar o mundo por meio da educação.