A GÊNESE DA DEFINIÇÃO DE MARIA THEOTÓKOS NO HORIZONTE DE NICEIA
DOI:
https://doi.org/10.25247/paralellus.2025.v16n39.p385-407Schlagwörter:
Concílio de Niceia, Controvérsia ariana, Mariologia Patrística, TheotókosAbstract
Este artigo analisa o título Theotókos (Mãe de Deus) à luz da teologia cristológica, situando-o no contexto do Concílio de Niceia (325 d.C.), convocado por Constantino. Embora a formulação oficial do termo tenha ocorrido somente no Concílio de Éfeso (431 d.C.), suas raízes remontam à tradição patrística anterior, sobretudo à escola alexandrina. A pesquisa, de caráter bibliográfico, demonstra que Ário, protagonista da controvérsia nicena, não confrontou diretamente o uso do título, havendo indícios de que o empregou de modo compatível com sua cristologia subordinacionista. Eusébio de Cesareia, simpatizante de certas teses arianas, também o menciona de forma pontual, enquanto Nestório, mais de um século depois, acusa Ário e Apolinário de uso herético do termo. Embora o Concílio de Niceia não tenha tratado explicitamente de mariologia, o título Theotókos sintetiza o conteúdo cristológico ali afirmado: a plena divindade do Filho encarnado. No período pré-niceno, o termo possuía caráter principalmente devocional e litúrgico; após Niceia, passou a adquirir densidade doutrinal, tornando-se expressão do mistério da economia salvífica. Na contemporaneidade, sua relevância permanece heurística para reflexões teológico-pastorais de modo que reconhecer Maria como Theotókos funciona como critério de ortodoxia: afirmá-lo implica professar a unidade hipostática do Verbo encarnado e a plena divindade de Cristo, enquanto negá-lo aproxima a cristologia de modelos arianos ou nestorianos, comprometendo a integridade da pessoa de Cristo. Assim, o estudo evidencia que o título não se limita a uma expressão devocional, mas constitui núcleo articulador entre mariologia, cristologia e soteriologia, refletindo seu papel na história do pensamento teológico cristão.
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