O que o passado ensina?
Lições sobre a memória da ditadura militar em Pernambuco a partir da mídia arcoverdense
DOI:
https://doi.org/10.25247/hu.2022.v9n18.p197-214Palavras-chave:
Ditadura, Mídia, Pernambuco, NarrativaResumo
As narrativas construídas pela ditadura militar brasileira contaram com diferentes espaços e sujeitos como forma de se firmarem. Nesse sentido, a mídia hegemônica brasileira teve relação direta com o exercício do poder ditatorial militar. No entanto, a narrativa acerca da ditadura segue em disputa quanto aos sentidos que foram mobilizados no interior de determinados acontecimentos, os quais ainda necessitam ser problematizados. Assim, o presente estudo possui o objetivo de investigar a narrativa mobilizada por periódicos que circularam entre os anos de 1964 e 1985 na cidade de Arcoverde, sertão pernambucano, à época da ditadura, visando compreender de que modo a repressão contou com o poder simbólico da imprensa para a sua manutenção. Recorremos à crítica ao caráter epistemológico da narrativa sobre o passado e o tempo, de modo a cogitar o narrar enquanto exame do tempo histórico linear. Os resultados obtidos apontam que o discurso midiático foi organizado em prol do controle ideológico forjado pela narrativa ditatorial, seja por meio da defesa explícita do regime ou por agenciamentos sutis. A reconstrução da narrativa em questão pode ser considerada, ainda hoje, um campo em disputa, que interfere decisivamente para a construção da memória e repercute na reprodução de um imaginário social que congrega visões vazias sobre o significou a ditadura militar no Brasil e em Pernambuco. A pesquisa, ao fim, ressalta a necessidade de narrar como forma de refletir o passado enquanto estratégia epistêmica e política de valorização de uma história menor.
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