Carta das organizações da sociedade civil denuncia a falta de atenção do poder público com o atendimento aos Warao

No segundo semestre de 2019 houve um grande processo de migração dos venezuelanos Warao para Pernambuco, que se dividiram por vários municípios do estado. Em Recife, a condição de moradia desses migrantes não se mostrou uma das mais favoráveis, pois inicialmente, eles se alojaram em imóveis abandonados com problemas estruturais e sem o fornecimento de água e energia elétrica. Tendo em vista essa situação de insalubridade, as organizações da sociedade civil assinaram no dia 3 de dezembro uma carta-denúncia cobrando a proteção e garantias dos direitos dos Warao. No documento, eles apresentaram repúdio, além de demandar que as autoridades competentes acionem a Prefeitura do Recife e o Governo do Estado para que possam ser cumpridas todas as medidas necessárias.

Considerando as péssimas condições de moradia dos indígenas Warao no centro do Recife, a Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública do Estado de Pernambuco (DPPE) propuseram uma Ação Civil Pública (ACP) com o intuito de estimular o poder público a garantir o direito habitação digna para esses povos. Com isso, firmou-se um acordo extrajudicial onde a Prefeitura do Recife se comprometeu a depositar mensalmente o valor de 15 benefícios eventuais, totalizando em 3.000,00 reais que seriam destinados a pagar os aluguéis de imóveis com condições adequadas para moradia. O prazo dado para esse depósito era até dezembro deste ano, porém de acordo com a carta “ocorreu de forma mitigada e incipiente, pois não contempla a integralidade dos migrantes indígenas Warao”. Mesmo os grupos que foram beneficiados por este valor, encontram grandes dificuldades para custear os aluguéis, pois a maioria dessa população vive de doações por não possuírem acesso a trabalho. 

Além da falta de emprego e moradia digna, o documento também denuncia problemas como fome, desnutrição, negação do direito à saúde, falta de acesso à água potável e políticas públicas que atendam os migrantes em situação de vulnerabilidade, mostrando a clara negligência das autoridades que ferem os preceitos mais básicos dos Direitos Humanos. 

 

Texto: Deborah Amanda

A vacinação é uma escolha ou obrigação?

No mês de setembro, o atual Presidente da República afirmou que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, em referência a futura campanha de vacinação contra a covid-19. A declaração foi criticada por médicos, infectologistas e constitucionalistas. Segundo eles, desestimular a vacinação é inconstitucional e pode trazer graves prejuízos ao combate à pandemia e outras doenças.

Vacina: saúde, direito e cidadania

Aliadas da população na prevenção de adoecimentos e mortes, as vacinas têm a missão de proteger o corpo humano: elas “ensinam” o sistema imunológico a combater vírus e bactérias. Febre amarela, poliomielite, gripe, sarampo, rubéola, rotavírus, coqueluche, meningite, tuberculose e hepatites são alvos do calendário de vacinação brasileiro, com oferta gratuita de imunização pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em cerca de 40 mil unidades básicas de saúde em todo o país.

A vacinação não beneficia somente a pessoa que recebeu a dose. Com a diminuição da circulação dos vírus e bactérias que causam as doenças, a vacina beneficia a população como um todo – incluindo aquelas pessoas que tenham algum tipo de restrição ao uso da vacina, como alergias ou doenças imunes, e até recém nascidos. Exemplo de êxito da imunização, a varíola se tornou a primeira doença erradicada do planeta. Anteriormente, a doença, capaz de matar cerca de 30% dos infectados, dizimou boa parte da população do Rio de Janeiro no início do século 20.

Vacinação contra Covid-19

Se por um lado a fala do Presidente pode incentivar ainda mais o crescimento do movimento antivacina, por outro ela está equivocada e seria inconstitucional.

A Constituição brasileira permite, sim, que o governo crie mecanismos para obrigar que as pessoas se vacinem — não só pode, como tem o dever de fazê-lo. Isso porque, em casos como esse, a Justiça coloca na balança dois direitos: de um lado, a liberdade individual e, de outro, a saúde pública — e, no caso de epidemias de doenças que são uma clara ameaça à saúde pública, como a covid-19, o direito à saúde pública é prevalente.

Há diversos dispositivos na legislação brasileira que permitem a vacinação obrigatória — da Constituição a uma lei assinada pelo próprio Presidente da República em fevereiro, a Lei 13.979, que autoriza autoridades a tomar medidas como tornar compulsória a vacinação.

Direito coletivo à saúde

O governo não pode criar uma vacinação em que as pessoas sejam fisicamente forçadas a se vacinar. O esforço de uma vacinação obrigatória é feito através de mecanismos (para que elas se vacinem), como o condicionamento do exercício de certos direitos à vacinação. Ou seja, é possível criar normas que restrinjam o acesso a direitos — como viagens, benefícios do governo etc. — caso a pessoa se recuse a se vacinar.

Isso, na verdade, já é previsto na legislação brasileira em diversos casos. As normas que regulam a distribuição do Bolsa Família, por exemplo, determinam que para entrega do benefício é preciso algumas condições, entre elas manter a vacinação das crianças em dia.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 14, também estabelece que os pais têm o dever de vacinar as crianças, e podem ser multados caso não o façam.

Acreditar em teorias da conspiração (como a de que vacinas causam autismo, algo falso, de acordo com a ciência) não é um motivo legítimo para pôr a saúde das outras pessoas em risco.

E eventualmente, quando as autoridades de saúde brasileira aprovarem a vacina contra a covid-19, recomendarem seu uso e garantir sua segurança, não há nenhum motivo para um indivíduo argumentar que a vacina fere seus direitos individuais.

📝 Maria Luna

📸 Allan Stephen – AFP

 

 

DIA DOS DIREITOS HUMANOS – Sessão ao vivo do Facebook com Martin Luther King III – DIA: 10/12 às 13h (horário de Brasília)

No Dia dos Direitos Humanos deste ano, 10 de dezembro de 2020, convidamos você a participar de uma sessão do Facebook Live que esperamos que seja esclarecedora e segura para todos os envolvidos:

Sessão ao vivo do Facebook com Martin Luther King III, um ativista e defensor global dos direitos humanos, para discutir os desenvolvimentos e políticas que visam as disparidades raciais e socioeconômicas em todo o mundo.

Para participar, acesse a página da UNESCO no Facebook em 10 de dezembro de 2020 às 17h (horário de Paris) / 11h (horário de Nova York). 13h (horário de Brasília).

https://en.unesco.org/commemorations/humanrightsday

Minicurso LITIGÂNCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS – SIDH, COM NATÁLIA DAMAZIO – 15 E 17 DE DEZEMBRO

MINICURSO SOBRE LITIG NCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS – SIDH, COM NATÁLIA DAMAZIO – 15 E 17 DE DEZEMBRO, 18H ÀS 20H, PELO GOOGLE MEETS (Link para inscrição na bio)
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Para fechar o ano de 2020, o Observatório Popular de Direitos Humanos de Pernambuco – OPDH, com o apoio da Cátedra de Direitos Humanos Dom Helder Camara Unesco/Unicap, traz o Minicurso sobre Litigância no Sistema Interamericano de Direitos Humanos – SIDH com a advogada, militante e pesquisadora Natália Damazio e mediado por Thaisi Bauer, advogada e membra do Observatório. A proposta do curso é apresentar a possibilidade de incidência do SIDH nas violações de Direitos Humanos que atingem nossa população e aproximá-lo à nossa realidade e à nossa atuação, abrindo as portas dessa litigância para lideranças comunitárias, militantes, pesquisadores e estudantes interessados no tema. O minicurso oferecerá certificado de participação equivalente a 04 horas/aula condicionado à presença nos dois encontros e será ministrado pela plataforma Google Meets, mediante inscrição e vagas limitadas.

Sobre a palestrante: Natália foi advogada da Justiça Global atuando em diversos casos sobre Violência Institucional e Segurança Pública na CIDH, lecionou cursos de formação e pós-graduação sobre litígio estratégico e sistema interamericano(pesquisou no Doutorado o litígio para casos de sistema prisional com base em uma análise decolonial e co-coordenou o Grupo Permanente de Estudo sobre Sistema Interamericano de Direitos Humanos (Simulações e Realidade), do Núcleo de Direitos Humanos, do Departamento de Direito da PUC-Rio entre 2016-2018. Hoje está no Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate a Tortura do Rio de Janeiro.

Faça sua inscrição até o dia do evento ou até acabarem as vagas pelo link (também está na bio): https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdtEIiOmenXP3jNt_b7BS7hNGUCFbyrC16fRuoRbJgyluoEww/viewform?usp=sf_link

Livro: Tutela Multinível de Direitos – Por Gustavo Ferreira Santos e Manoel Severino Moraes de Almeida

A principal característica das democracias constitucionais é a presença cotidiana de direitos condicionando o exercício do poder político. O poder pertence ao povo, que o exerce diretamente ou por seus representantes, na forma definida em uma constituição. A democracia constitucional não é meramente eleitoral. Ela não se basta na observância do princípio majoritário quando da tomada de decisões de temas de interesse público. Nela, tais decisões são tomadas em procedimentos nos quais os agentes são titulares de um conjunto de direitos que os protegem, e estão limitados por uma série de direitos daqueles com os quais interagem. Os capítulos deste livro foram escritos por professores e pesquisadores doutorandos no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica de Pernambuco. Abrangem um conjunto de problemas atuais e que se apresentam como urgentes para os que buscam estudar caminhos para aperfeiçoar essas instituições.

Antirracismo: cartilha lançada pela AMEPE busca erradicar racismo na linguagem dos juízes

A língua brasileira ainda preserva resquícios de uma sociedade com base escravocrata, termos e palavras que espelham o racismo ainda são reproduzidas diariamente, não só pelos cidadãos em conversas rotineiras, mas também por juízes. Com olhar voltado para essa realidade a Associação dos Magistrados do Estado de Pernambuco (AMEPE) lançou uma cartilha de 13 páginas conscientizando o meio judiciário para o uso de termos que não incitem racismo. A cartilha Racismo nas palavras está disponível para todos os juízes e para quem tem curiosidade.

A publicação da cartilha Racismo nas palavras, visa reduzir o uso de expressões racistas como “A coisa tá preta” e indica termos que podem substituir esse palavreado, como “a situação está difícil”, outros exemplos de substituição nas trocas de “mercado negro”, por “mercado ilegal”, “lista negra” por “lista de restrições”, “denegrir” por “difamar”.

A cartilha nasce como resultado do seminário Antirracismo, que aconteceu online durante a semana da Consciência Negra. Diante dos acontecimentos protagonizados nos Estados Unidos e Brasil com a constante violência contra a população negra, o debate sobre
antirracismo tem tomado conta das redes sociais. Nesses debates, também vem a tona em como a linguagem usada pelos brasileiros é racista em sua estrutura, com termos vindos ainda dos tempos coloniais, como “dar de pau”, essa expressão originada nos navios negreiros refere-se a quando os negros escolhiam não comer por preferir morrer durante seu tráfico, no entanto, os marinheiros, com uma colher de pau, atravessavam a comida da boca dos escravos.

O uso de expressões destacadas na cartilha, demonstram os estereótipos negativos relacionados ao povo negro de um racismo estrutural, que está presente na espinha dorsal da sociedade brasileira. Apesar disso, os termos usados para substituição salientam que pode-se evoluir e mudar o sistema racista do povo brasileiro.

Texto: Odara Hana

FAKE NEWS NAS CAMPANHAS POLÍTICAS DEFINEM SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES 2020

No último domingo (29) aconteceu o 2º turno das eleições municipais de 2020, que definiu os prefeitos de 57 municípios. As disputas, no entanto, foram mais uma vez marcadas pelo uso massivo das Fake News, tanto por bots e perfis falsos nas redes sociais, quanto pelas próprias campanhas eleitorais. Apesar da declaração do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, sobre o primeiro turno ter tido a menor circulação de notícias falsas, diversos candidatos apontaram que o uso de informações fraudulentas em campanhas adversárias podem ter prejudicado o resultado das eleições.

“As fake news tem um impacto bastante degenerativo na construção de uma candidatura, e mesmo sobre o resultado de uma eleição. É um fenômeno da corrosão moral e da desconstrução propositada de reputações para fins absolutamente eleitoreiros”. É o que analisa o cientista político Thales Castro, que observa a massificação das notícias falsas como um fenômeno político que pode comprometer tanto o processo eleitoral quanto a democracia. “Hoje, as fake news já podem ser consideradas uma patologia do sistema político e do tecido democrático internacional”, afirma.

Durante o segundo turno das eleições municipais, a desinformação se tornou protagonista. Em Recife, a campanha do então candidato João Campos (PSB), eleito Prefeito no último domingo, elaborou propagandas eleitorais que, entre outras coisas, sugeriam que sua adversária, Marília Arraes (PT), era contra a bíblia e contra a liberdade religiosa dos cristãos com base em uma declaração de Marília em que ela defende a laicidade do Estado.

Diversos outros candidatos foram prejudicados por campanhas adversárias que fizeram uso de fake news para difama-los. Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Eduardo Paes (DEM) foram alguns dos mais frequentes alvos das notícias maliciosas no país, dedicando esforços de campanha para esclarecer rumores e tirar notícias fabricadas de circulação.

Para o advogado e cientista político Manoel Moraes, a desinformação está mais potente do que nunca, mas sempre foi parte da política, e sempre influenciou diretamente o desempenho dos candidatos e os resultados. “Desde que a política brasileira existe, nós temos registros de fake news. É uma estratégia muito antiga, mas que se torna mais complexa na medida que temos, auxiliado à mentira nas campanhas eleitorais, as redes sociais como amplificadores”, declarou.

Apesar da quantidade incontrolável de notícias falsas compartilhadas na internet e em outros meios de comunicação, o TSE e as agências de Fact Checking trabalharam em parceria com o Google, Facebook, Twitter, Whatsapp, Tik Tok e Instagram para monitorar e desmentir as maiores fake news em circulação, tanto aquelas que atacam a honra de um candidato, quanto as que visavam prejudicar a continuidade da eleição, como notícias que anunciavam o adiamento de eleições em determinados municípios, ou que sugeriam que urnas estariam sendo fraudadas.

“Fizemos um enfrentamento sem controle de conteúdo, como regra geral, mas com controle de comportamento, e derrubamos uma imensa quantidade de contas fraudulentas nas diferentes mídias sociais”, afirmou o ministro Luís Roberto Barroso em entrevista à Agência Senado.

 

TEXTO: Guilherme Anjos

 

Carta-denúncia à proteção e garantia de direitos e dignidade dos indígenas Warao, migrantes venezuelanos hoje residentes em Pernambuco.

#CartaDenuncia

Organizações da sociedade civil tornaram público nesta quinta-feira, 3, uma Carta com denúncias sobre as condições insalubres de sobrevivência de migrantes do Povo Warao em Pernambuco.

Expressamos repúdio e cobramos providências do Estado brasileiro, e autoridades competentes para que, no bojo de suas responsabilidades, acionem a prefeitura da cidade do Recife e o Governo do Estado para cumprirem as medidas necessárias à proteção e garantia de direitos e dignidade aos indígenas Warao, migrantes venezuelanos hoje residentes, em Pernambuco.

Sem trabalho, moradia adequada e vivendo de doações, este povo enfrenta ainda condições de hipervulnerabilidade, agravado com a negação do direito fundamental à saúde, em meio à crise sanitária causada pelo novo coronavírus.

Além do despreparo estatal para lidar com a diversidade étnica e cultural, o racismo e xenofobia institucional faz com que os migrantes não tenham acesso à atenção primária à saúde, recorrendo aos postos públicos de atendimento apenas em casos de extrema gravidade.

A Carta-denúncia sobre a violação de direitos de migrantes indígenas Warao permanece recebendo assinaturas, para ter acesso e assinar acesse: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdBC8ngsU_U0m_yAr6toHpHmTjVlKJo1v7V8SHTJSI1syptnA/viewform?usp=pp_url

☑ COMUNICARDH👀 Clipping da Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Helder Camara 

Órgãos públicos agem contra Constituição e ignoram casais homoafetivos em cadastros
Brasil de Fato: https://bit.ly/3lIKiY8

Despejo de famílias que viviam em palafitas gera confronto em São Luís (MA)
Brasil de Fato: https://bit.ly/36y53RL

Favela: um quilombo contemporâneo
ANF: https://bit.ly/36BlZXK

Rio inicia ampliação de testes da Covid-19 nesta sexta-feira (4); pacientes precisarão fazer agendamento prévio
ANF: https://bit.ly/37AJQGl

Guedes: PIB veio abaixo do esperado, mas economia está voltando em V
Correio Braziliense: https://bit.ly/33GTTZc

SP: Mulher que protagonizou ofensas em padaria vira ré por injúria racial, lesão e homofobia
Carta Capital: https://bit.ly/3olZU5u

Assalto em Criciúma: Polícia prende suspeitos de participação em roubo
Carta Capital: https://bit.ly/3oe9bwe

Manifestantes se reúnem em frente ao local de julgamento de Sarí e pai de Miguel diz: ‘eu só quero justiça’
Diário de Pernambuco: https://bit.ly/2VAo9QS

Consumidor vai arcar com R$ 19,8 bilhões em 2021 na conta de luz
Diário de Pernambuco: https://bit.ly/36CB9Mh

Com deficiência e empoderadas: refugiadas e migrantes são capacitadas para o mercado de trabalho no Brasil
ONU Brasil: https://bit.ly/3g8SGyW

COMUNICARDH
Clipping produzido pela Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Helder Camara
Recife, 03.12.2020

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