A língua brasileira ainda preserva resquícios de uma sociedade com base escravocrata, termos e palavras que espelham o racismo ainda são reproduzidas diariamente, não só pelos cidadãos em conversas rotineiras, mas também por juízes. Com olhar voltado para essa realidade a Associação dos Magistrados do Estado de Pernambuco (AMEPE) lançou uma cartilha de 13 páginas conscientizando o meio judiciário para o uso de termos que não incitem racismo. A cartilha Racismo nas palavras está disponível para todos os juízes e para quem tem curiosidade.
A publicação da cartilha Racismo nas palavras, visa reduzir o uso de expressões racistas como “A coisa tá preta” e indica termos que podem substituir esse palavreado, como “a situação está difícil”, outros exemplos de substituição nas trocas de “mercado negro”, por “mercado ilegal”, “lista negra” por “lista de restrições”, “denegrir” por “difamar”.
A cartilha nasce como resultado do seminário Antirracismo, que aconteceu online durante a semana da Consciência Negra. Diante dos acontecimentos protagonizados nos Estados Unidos e Brasil com a constante violência contra a população negra, o debate sobre
antirracismo tem tomado conta das redes sociais. Nesses debates, também vem a tona em como a linguagem usada pelos brasileiros é racista em sua estrutura, com termos vindos ainda dos tempos coloniais, como “dar de pau”, essa expressão originada nos navios negreiros refere-se a quando os negros escolhiam não comer por preferir morrer durante seu tráfico, no entanto, os marinheiros, com uma colher de pau, atravessavam a comida da boca dos escravos.O uso de expressões destacadas na cartilha, demonstram os estereótipos negativos relacionados ao povo negro de um racismo estrutural, que está presente na espinha dorsal da sociedade brasileira. Apesar disso, os termos usados para substituição salientam que pode-se evoluir e mudar o sistema racista do povo brasileiro.
Texto: Odara Hana