No último domingo (29) aconteceu o 2º turno das eleições municipais de 2020, que definiu os prefeitos de 57 municípios. As disputas, no entanto, foram mais uma vez marcadas pelo uso massivo das Fake News, tanto por bots e perfis falsos nas redes sociais, quanto pelas próprias campanhas eleitorais. Apesar da declaração do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, sobre o primeiro turno ter tido a menor circulação de notícias falsas, diversos candidatos apontaram que o uso de informações fraudulentas em campanhas adversárias podem ter prejudicado o resultado das eleições.
“As fake news tem um impacto bastante degenerativo na construção de uma candidatura, e mesmo sobre o resultado de uma eleição. É um fenômeno da corrosão moral e da desconstrução propositada de reputações para fins absolutamente eleitoreiros”. É o que analisa o cientista político Thales Castro, que observa a massificação das notícias falsas como um fenômeno político que pode comprometer tanto o processo eleitoral quanto a democracia. “Hoje, as fake news já podem ser consideradas uma patologia do sistema político e do tecido democrático internacional”, afirma.
Durante o segundo turno das eleições municipais, a desinformação se tornou protagonista. Em Recife, a campanha do então candidato João Campos (PSB), eleito Prefeito no último domingo, elaborou propagandas eleitorais que, entre outras coisas, sugeriam que sua adversária, Marília Arraes (PT), era contra a bíblia e contra a liberdade religiosa dos cristãos com base em uma declaração de Marília em que ela defende a laicidade do Estado.
Diversos outros candidatos foram prejudicados por campanhas adversárias que fizeram uso de fake news para difama-los. Guilherme Boulos (PSOL), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Eduardo Paes (DEM) foram alguns dos mais frequentes alvos das notícias maliciosas no país, dedicando esforços de campanha para esclarecer rumores e tirar notícias fabricadas de circulação.
Para o advogado e cientista político Manoel Moraes, a desinformação está mais potente do que nunca, mas sempre foi parte da política, e sempre influenciou diretamente o desempenho dos candidatos e os resultados. “Desde que a política brasileira existe, nós temos registros de fake news. É uma estratégia muito antiga, mas que se torna mais complexa na medida que temos, auxiliado à mentira nas campanhas eleitorais, as redes sociais como amplificadores”, declarou.
Apesar da quantidade incontrolável de notícias falsas compartilhadas na internet e em outros meios de comunicação, o TSE e as agências de Fact Checking trabalharam em parceria com o Google, Facebook, Twitter, Whatsapp, Tik Tok e Instagram para monitorar e desmentir as maiores fake news em circulação, tanto aquelas que atacam a honra de um candidato, quanto as que visavam prejudicar a continuidade da eleição, como notícias que anunciavam o adiamento de eleições em determinados municípios, ou que sugeriam que urnas estariam sendo fraudadas.
“Fizemos um enfrentamento sem controle de conteúdo, como regra geral, mas com controle de comportamento, e derrubamos uma imensa quantidade de contas fraudulentas nas diferentes mídias sociais”, afirmou o ministro Luís Roberto Barroso em entrevista à Agência Senado.
TEXTO: Guilherme Anjos