Um dia histórico para a memória e a verdade de Pernambuco
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A Comissão da Verdade de Pernambuco apresentou, na manhã desta terça-feira, dia 27 de maio, na Capela São José dos Manguinhos, no bairro das Graças, o relatório oficial sobre o caso da morte do Padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto, que conclui que o assassinato do Padre Henrique, como era mais conhecido, foi “eminentemente um crime político”.
Estavam presentes ao evento o Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido; o Arcebispo de Palmares, Dom Genival Saraiva; José Paulo Cavalcanti, membro da Comissão Nacional da Verdade; Fernando Coelho, coordenador geral da Comissão da Verdade de Pernambuco; Henrique Mariano, secretário geral da Comissão da Verdade de Pernambuco e relator do caso do Padre Henrique; senhora Isaíras Padovan, irmã do Padre Henrique; Pedro Eurico, secretário da Criança e da Juventude do Governo do Estado, na ocasião representando o governador João Lyra; Geraldo Julio, prefeito da Cidade do Recife; Aguinaldo Fenelon, procurador geral de Justiça; Padre Pedro Rubens, Reitor da Universidade Católica de Pernambuco; professor Degislando Nóbrega, Diretor do Centro de Teologia e Ciências Humanas da Unicap e os professores de Teologia Sérgio Douets e Artur Pelegrino e de Direito Padre Caetano Pereira e Mirian de Sá Pereira, que também é a Ouvidora da Unicap. Estiveram presentes também políticos, imprensa e interessados no assunto.
Há exatos 45 anos, no dia 27 de maio de 1969, o corpo de Padre Henrique foi encontrado com marcas de tortura e execução em um terreno baldio, na Cidade Universitária, no Recife. Na época, a versão oficial foi de que tratava-se de um “crime comum, supostamente cometido por toxicômanos, sem motivação política”.
Segundo o relatório, o crime foi praticado por agentes do Estado de Pernambuco, em aliança com civis integrantes da chamada extrema direita, com a intenção de aterrorizar, amedrontar e coibir o incontestável foco de resistência ao regime militar, exercido por parte considerável da Igreja Católica no Estado de Pernambuco, sob a liderança do então Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Camara.
O relator do caso e secretário geral da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Camara, Henrique Mariano, falou com a reportagem do Boletim Unicap sobre o relatório. “Hoje nós apresentamos as provas documentais, testemunhais, no sentido de desqualificar integralmente a versão estatal, que foi dada sobre o caso do Padre Antônio Henrique, em 1970, no sentido que ele teria sido vítima de um crime comum. Nós provamos hoje que o assassinato dele foi um crime eminentemente político, que visou à época atingir o clero pernambucano, liderado pelo Arcebispo Dom Helder Camara, onde todos sabem que tinha uma postura de confronto contra as forças de repressão da época. Nós mostramos também que houve uma interferência absoluta do Ministério da Justiça no trabalho que foi desenvolvido pelo Ministério Público Estadual, no sentido de exigir que o procurador da época não pronunciasse os verdadeiros responsáveis pelo assassinato do Padre Antônio Henrique. Então hoje nós apresentamos também a relação das pessoas que cometeram propriamente a execução do sequestro e do assassinato do Padre Antônio Henrique e esta data 27 de maio é uma data muito emblemática porque registra os 45 anos do sequestro e da morte do Padre Henrique.”
Em seguida, Dom Saburido anunciou a reinstalação da Comissão de Justiça e Paz, instituída por Dom Helder Camara em 3 de março de 1968 que, na época, defendeu presos políticos e perseguidos pela ditadura militar. Anunciou também o nome do presidente da Comissão, o Bispo emérito de Palmares, Dom Genival Saraiva de França, que assumirá também a função de Vigário Geral da Arquidiocese. Outro anúncio importante que Dom Saburido fez foi a assinatura de uma carta dirigida à Congregação Para Causa dos Santos, em Roma, pedindo a para iniciar o processo de canonização de Dom Helder Camara. Neste momento, Dom Saburido foi aplaudido de pé pelos presentes.
Antes de finalizar, Dom Saburido convidou o Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, para dar uma boa notícia a todos. Padre Pedro cumprimentou aos presentes e disse da importância do trabalho do Arcebispo de Olinda e Recife em restabelecer o diálogo entre a Igreja e a sociedade pernambucana. “Diante disso, quero colocar à disposição, diante de tantas boas notícias, a Universidade inteira naquilo que nos compete. Nós temos o curso de Direito e nós criamos, a pedido de Dom Helder, a Cátedra Dom Helder de Direitos Humanos, ainda pouco conhecida, mas tem o selo da Unesco. Colocamos, também, à disposição, a nossa Faculdade de Teologia, que em 2010 recebeu um pedido de Dom Fernando Saburido e Dom Genival Saraiva de reinserir a formação dos seminaristas na Universidade aonde são formados os outros jovens. Por isso, a Teologia volta um conjunto no debate, no convívio com outros saberes. Nós estamos muito felizes que os seminaristas da Arquidiocese e de mais 5 dioceses daqui de Pernambuco estudem Filosofia e Teologia na Universidade. Por conta disso, nós encaminhamos um processo a Roma e eu recebi a carta de aprovação da afiliação do curso de Teologia da Universidade Católica de Pernambuco à Faculdade da Pontifícia Universidade Gregoriana. A partir de hoje, os estudantes do curso de Teologia da Unicap, além do diploma civil, dado pelo governo brasileiro, também poderão requisitar o diploma canônico que virá diretamente da Universidade Gregoriana, sem dúvida, a mais prestigiada Universidade Católica do mundo. Somos a única Faculdade de Teologia afiliada à Gregoriana do Brasil”, finalizou Padre Pedro.