Boletim Unicap

Repórter do Jornal do Commercio participa de Seminário sobre Joaquim Nabuco na Católica

Padre Clóvis ao lado de Fabiana Moraes e Jayme Benvenuto

A tarde desta segunda-feira (4) foi dedicada à discussão sobre o preconceito e desigualdade racial em sua forma mais contemporânea, tomando como ponto de partida o caderno especial sobre Joaquim Nabuco “Quase brancos, quase negros”, elaborado pela repórter Fabiana Moraes, do Jornal do Commercio. O encontro aconteceu no anfiteatro do terceiro andar do bloco G4 e estavam presentes a própria jornalista; um dos personagens de sua reportagem, o jesuíta e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Unicap, Padre Clóvis Cabral; e o mediador da discussão, responsável pela Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos e diretor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Católica de Pernambuco, professor Jayme Benvenuto.

Com a intenção de seguir uma linha mais dialética, Fabiana gosta bastante de traçar perfis de grandes personalidades como já fez com Machado de Assis e Euclides da Cunha. No entanto, suas coberturas têm uma particularidade: sempre tenta fugir da opinião cristalizada da sociedade em relação a esses personagens. No caso mais recente, de Nabuco, ela tenta mostrar o autor não como “um grande abolicionista”, mas como um homem que contribuiu com a abolição, apesar de alguns estudiosos recentes, também enxergá-lo como reprodutor do preconceito de sua época.

Em registros fotográficos, por exemplo, Nabuco aparece sendo empurrado por negros. “Tentei não santificá-lo. Penso que quando a gente se atém aos mitos criados pela sociedade, muito se perde do personagem. Quis desconstruir os esteriótipos já cristalizados, mostrando que existe uma minoria negra de prestígio, que continua sofrendo preconceito, assim como existe uma minoria branca pobre, sendo discriminada apenas pelo seu status social”, afirmou.

Para isso, a jornalista entrevistou 10 personagens, em pleno século XXI – isto é, 122 anos depois da abolição da escravatura – nessas condições: 5 “brancos quase negros” e 5 “negros quase brancos”. O “quase” já mostra como a escravidão, o preconceito e a desigualdade raciais continuam vigentes. Ou seja, apesar de ser “um negro quase branco”, ele ainda sofre discriminação por ser negro. É como se ambos nunca fossem se igualar.

Padre Clóvis Cabral foi dos exemplos de negros quase brancos que conseguiram adquirir status social, sobretudo, através da educação, assim como também aconteceu com o primeiro ministro negro do STF, Joaquim Barbosa, outro personagem da reportagem. Depois de traçar essas realidades, Fabiana dedicou um tabloide à vida de Joaquim Nabuco, não apenas a intelectual, mas também a social, cotidiana. O que Nabuco combatia, ainda acontece nos dias de hoje. A abolição nunca se realizou, como mostram as matérias “Ainda vivemos em 1800” e “A antiga cor na escravidão moderna” no encerramento do caderno.

Apesar de ser um “quase branco”, Padre Clóvis já sofreu preconceito dentro da própria igreja. No último domingo de eleição, saiu da residência dos jesuítas, rumo ao Colégio Americano Batista para votar. Caminhando pela calçada, na ida, avistou duas mulheres caminhando. Ao perceberem sua presença, seguraram a bolsa para trás. A volta para casa não foi diferente. Assim que passou entre dois homens, percebeu que um deles ficou segurando o relógio.

Situações como essas são reais na vida de qualquer negro, independentemente do status social que ele ocupa. Há 30 anos integrante do movimento negro, Padre Clóvis leva a discussão adiante, para tentar diminuir essa situação de preconceito. “Há um processo secular de enegrecimento da pobreza. Se construiu uma teologia da escravidão, que não se posicionava em favor dos escravizados, e ainda abençoava o sistema vigente. O debate social e racial cresceu muito no Brasil, mas é preciso mais, é necessário que aconteça uma reconstrução positiva da identidade negra brasileira.”

Por último, como Fabiana afirmou: “O que muda é o fenótipo, somos todos da mesma carne.” Ambos defenderam que a colaboração de pessoas com características físicas diferenciadas, nesse processo de desconstrução e reconstrução da imagem do negro é válida. “O contato direto que Joaquim Nabuco teve com o africano escravizado foi fundamental para que ele começasse a refletir sobre a condição daquele ser humano. Se todos nós agíssemos colando os nossos destinos aos sonhos desses milhões de homens e mulheres que querem ser protagonistas de suas vidas talvez se superasse a desigualdade e o preconceito. Esse é um processo longo e de muita luta…”, finalizou Padre Clóvis.

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