Boletim Unicap

Reforma midiática foi o foco dos debates no segundo dia do ENDC

Fotos: Rafael Sabóia e Angélica Zenith

Texto: Angélica Zenith e Rafael Sabóia

O segundo dia do I Encontro Nacional de Direito à Comunicação (ENDC) foi bastante movimentado. Vários pesquisadores, estudantes e professores de comunicação de vários estados do Brasil compareceram, sexta-feira (10), à Universidade Católica de Pernambuco para participar do evento. O ENDC, que começou dia 9 e segue até o dia 11 de fevereiro, é promovido pelo Centro Cultural Luiz Freire (CCLF) em parceria com a Unicap.

 Fortalecer as articulações entre movimentos, entidades e indivíduos envolvidos na luta pelo direito à comunicação nos níveis local, regional e nacional. Esse é um dos principais objetivos do encontro. Para o coordenador de Jornalismo da Católica, Juliano Domingues, o ENDC propicia um momento único para os alunos de comunicação. “Nós estamos provocando os estudantes para esse tipo de debate. A Unicap é privilegiada por reunir tantas pessoas boas falando sobre um assunto tão pertinente”, disse.

“A política da política da comunicação no Brasil”. Esse foi um dos temas debatidos na manhã da sexta-feira. Os professores Venício Lima (UnB) e Marcos Dantas (UFRJ) foram convidados para compor a mesa. O debate foi conduzido pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM) da UFPE e professora de Jornalismo da Unicap, Ana Veloso.

“Esse tema incita o debate sobre a questão: Por que as coisas são do jeito que são (referindo-se ao direito à comunicação)?” Foi com essas palavras que Venício deu início à conversa. Vários temas foram levantados com o intuito de ensinar “o público (que participou do encontro) a forma de traduzir para a população as questões de comunicação em termos de direito”, destacou.
Depois de Lima, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marcos Dantas deu continuidade à discussão de forma dinâmica. Com uma apresentação em datashow, o professor mostrou, citando como exemplo o último escândalo que aconteceu no Big Brother Brasil, como a mídia consegue pautar o debate público. “Nós vivemos hoje num mundo completamente agendado pelos meios de comunicação”, reiterou Marcos.

O debate foi encerrado por Ana Veloso, que aproveitou a sua experiência como integrante do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) para passar um pouco de conhecimento aos participantes. A professora ainda ressaltou a importância do evento acontecer na Universidade Católica. “É uma excelente oportunidade para trocarmos conhecimento. Esse contato ao vivo com os autores é muito importante para a formação dos estudantes”, disse.  

O professor de Sociologia da Comunicação da Unicap, Nadilson Silva, endossa o papel da Unicap como uma das promotoras do evento. “A Católica cumpre o papel de manter viva a visão crítica, principalmente no que diz respeito à política. Debates como esse são fundamentais para acabar o conflito entre teoria e prática, desvinculando o que é dito sobre movimentos populares”, concluiu.

“A comunicação é um dos temas menos discutidos pelos meios de comunicação. Os direitos sociais, individuais e coletivos ainda são abordados com certa dificuldade”. A afirmação foi do assessor da Pró-reitoria de Extensão da UFPE, Marcus Silvestre.

Procurar entender melhor a função dos movimentos sociais, dentro das mídias independentes. Esse foi o foco das discussões no debate – “Meios de Comunicação Independentes, Populares e Comunitários, realizado no auditório G1.

Os convidados para esse encontro, José Sóter, da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço); Ayelén Sofía Cabo, da Red Nacional de Medios Alternativos da Argentina; Leilane, do Centro de Mídia Independente (CMI), que coordenou a mesa debatedora, e Ana Emília, representante do Movimento Sem Terra (MST), trocaram ideias entre si e com a plateia formada por estudantes de comunicação e por representantes de outras entidades independentes a respeito de como é o tratamento dado pela mídia aos movimentos sociais e como funciona o trabalho das redes públicas no Brasil.

“Vamos fazer deste debate uma tentativa de convergência midiática e não somente de troca de experiências”. Foi desse jeito, que Leilane, representante do Centro de Mídia Independente, saudou a todos os presentes no debate.

Questões históricas sobre a verticalização das mídias, rádios poste, populares e difusoras, foram trazidas, para discussão. As dificuldades de se usufruir desses tipos de veículos midiáticos, durante os chamados “anos de chumbo”, também complementaram os argumentos. “Todos vocês estão convidados a se associar a uma rádio comunitária. Todos temos esse direito”, convidou José Sóter, membro da Abraço.

Ana Emília, representante do Movimento Sem Terra, fez duras críticas aos meios de comunicação, quanto ao modo como tratam as manifestações do MST.  A líder sem-teto apontou as mídias independentes e comunitárias como uma das saídas para melhor explicar à opinião pública o que de fato é o movimento sem-terra. “Em nossas manifestações defendemos não uma única bandeira, mas três: reforma agrária; luta pela terra e a redemocratização social”, afirmou.

Emília citou como exemplo de mídia independente o Jornal Sem Terra, que tem 30 anos e que é uma das mídias, de acordo com ela, a qual serve como refúgio para manifestar a verdadeira voz do MST. “O papel do jorna, não é somente o de passar informação, mas também assume um poder político. Ele difunde ideologias”, argumentou. Para ela, a mídia omite o verdadeiro valor do significado do termo “agronegócio”.

Segundo ela, a imprensa sempre classifica as ações do movimento como barbárie, desordem e crime,  ocultando o verdadeiro objetivo do grupo, que é o de questionar o senso comum. A formação da sociedade como um todo. “A mídia deve cumprir um papel contrahegemônico dentro da sociedade”, concluiu.

Modos de financiamento autossustentável, para os meios de comunicação independentes, através de discussões políticas, onde se possa tomar decisões concretas a respeito de qualquer tema, de forma coerente. Essa foi a ideia defendida no debate por Ayelen Sofía, representante da Red Nacional de Medios Alternativos da Argentina.

“Todos temos direito à comunicação, em especial os meios de mídia comunitária e alternativa”, defendeu. Sofía explicou como a mídia independente funciona na Argentina e quais os custos para manter em funcionamento uma emissora comunitária dentro do país. O que pode e o que não poder ser feito em relação ao trabalho que é produzido pela mídia tradicional.

Na Argentina, as emissoras são livres, mas devem ser regulamentadas, conforme estipulado o seu limite de frequência de transmissão. Conforme lei estabelecida aos meios comunitários e aos sem fins lucrativos (ONGs).

Antes mesmo que o debate chegasse ao fim, foi aberto ao público, o direito de se manifestar sobre o que tinha sido debatido até então. Em um bloco de uma série de três perguntas para cada integrante da mesa debatedora, a plateia trouxe novos questionamentos dentro do enfoque do que já havia sido dito. Mas como um debate, como o nome mesmo propõe, uma troca de ideias, nem todo o público demonstrou ter saído satisfeito com o que foi proposto naquela manhã.

Foi o caso de Gilberto Rios, representante da Frente Nacional pela Valorização das TVs do Campo Público, que disse ter sentido falta da discussão sobre TVs comunitárias, abordando questionamentos como censura, programação, e o alcance do raio de transmissão permitido à elas. “A precariedade de nossas mídias comunitárias, hoje no Brasil, é devido a falta de conhecimento específico de como elas funcionam. Não há gente preparada ainda no Brasil, que saiba lidar com esse tipo de mídia”, comentou.

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