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Pesquisadora Mary Del Priore analisa a história do sexo e do casamento no Brasil

 
O IV Colóquio de História da Universidade Católica de Pernambuco foi aberto oficialmente na noite desta terça-feira (16) no auditório G2 com a conferência da pesquisadora Mary Del Priore, da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), de Niterói, Rio de Janeiro. “O permitido na História: família, casamento e amor no Brasil” foi o tema debatido.
 
A pesquisadora relatou fatos que retratam a história da intimidade e a transformação da sexualidade da sociedade brasileira desde o Império até os dias atuais. Segundo ela, o período colonial, apesar de não haver tantas fontes oficiais para pesquisa, foi bastante influenciado pelos dogmas da Igreja Católica europeia remanescentes dos séculos 12 e 13. “O casamento era espaço exclusivo para a procriação”.
 
Durante a palestra, Del Priore revelou símbolos e maneiras de como a Igreja ‘vigiava’ a intimidade dos casais.  Cômodas com imagens de santos de frente para a cama, caderninhos nos quais os homens anotavam a frequência das relações foram algumas das informações que surpreenderam a plateia.  

Ainda de acordo com Del Priore, o erotismo no Brasil só passou a ter um papel mais relevante na nossa sociedade a partir do final do século 19, com a influência de hábitos ingleses e franceses. “Os escritores de maior sucesso na época se mostravam mais românticos e críticos a casamentos arranjados. José de Alencar, por exemplo, era um grande crítico dos modos e do comportamento do Rio de Janeiro”, explica ela.
 
Para Del Priore, talvez desse modelo tenha surgido o conceito de dupla moral do homem brasileiro. Em casa, mais comportado. Na rua, uma ‘alegria para ele e para ela’ neste caso concumbinas, amantes e prostitutas. Hábitos que ganharam ainda mais impulso com a vida urbana burguesa do século 19. Engana-se quem pensa que as pessoas eram tristes e angustiadas. “Preencher os papéis sociais era de suma importância naquela época”.
 
No século 20, a prática de esportes com roupas específicas, o crescimento do uso da eletricidade, uso da pílula anticoncepcional e a entrada da mulher no mercado de trabalho provocaram mudanças comportamentais significativas. Uma delas foi a higienização dos corpos. Após a Segunda Guerra, a pasta e a escova de dente foram democratizadas. “Além disso, os beijos de Holywood ensinaram os brasileiros a beijar”. É nesta época que surgem os ‘brotos’, as ‘lambretices’. “Os casais já escapavam e seguiam para locais ermos onde trocavam carícias mais íntimas. Mas havia tempo certo para namorar, noivar e casar. Namorados só iam até o portão. Noivos poderiam ficar na sala da família dela à noite”.
 
Mas a professora Mary ressaltou turbulências enfrentadas pelas mulheres por conta da liberdade sexual. Ela contou que, durante a pesquisa para a elaboração do seu livro, estudou um caso de grande repercussão em Belo Horizonte. Um advogado importante na cidade matou a esposa porque ela usava biquíni, fumava e assistia Malu Mulher (série de grande sucesso da TV Globo nos anos 80 que teve Regina Duarte como protagonista). Ele jogou o corpo dela na Lagoa da Pampulha”, relatou.    
 
Em suas considerações finais, Mary Del Priore fez uma análise da história da sexualidade no Brasil: ”Não quero antecipar conclusões, mas creio que as grandes transformações para a mulher no Brasil vieram tardiamente. No geral, ela ainda adora ser tratada como gostosa, objeto de satisfação do homem. O filho briga com a namorada e a culpada é sempre a nora. O marido não lava a louça. A mulher ainda fabrica patriarcalismo”, define.

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