Boletim Unicap

Padre Antônio Mota homenageia Santo Inácio de Loyola em texto

O professor do curso de Teologia e coordenador da Divisão de Ação Pastoral da Unicap, Padre Antônio Mota, fez um texto para homenagear o Santo Inácio de Loyola. A primeira leitura foi realizada no lançamento de seu livro “Discernimento Vocacional, à luz da espiritualidade Inaciana”, que aconteceu na tarde desta quinta-feira (17) no Salão Receptivo. Para saber como foi o lançamento, clique [aqui]

Atualidade da Mística de Santo Inácio de Loyola numa sociedade e cultura secularizadas

Prof. Dr. Pe. Antônio R. S. Mota, SJ

Inácio de Loyola, após sua conversão de vida, como um peregrino de Deus, experimentava Deus na diversidade de situações que viveu: no silêncio e na ação apostólica, na oração e no estudo, no êxito e nas perseguições, na solidão e no meio dos homens e mulheres que estiveram tão próximos na sua vida.

Deus está entre nós: temos que busca-lo sempre. E quem acredita que já o tenha encontrado, está muito longe Dele.

Ele transcende todas as ideias que nós fazemos Dele. Temos que estar dispostos a ir mais além, no seguimento de Jesus, do contrário todas as coisas se convertem em ídolos encobridores do verdadeiro rosto de Deus de Jesus Cristo. Somos interpelados a transcendermos, sempre, todas as realidades com as quais trabalhamos, pelo Reino de Deus, para confiarmos nossa esperança, unicamente, em Jesus Cristo por quem precisamos ter uma louca paixão espiritual.

A experiência de Deus não está longe de nós; encontra-se, no meio da nossa vida, às vezes, desconcertante.Inácio de Loyola desfez duas tensões: a tensão entre fidelidade a Deus e a tarefa em favor dos homens; e de outro lado a tensão entre vida interior, necessária para uma vida verdadeiramente humana, e as ações, exigidas para transformar o mundo.

Também podemos viver essa mística, descobrindo as grandes possibilidades e as grandes esperanças, ocultas no centro da humanidade, escutando o clamor de nossa sociedade e, em consequência, dirigindo todas a nossa energia e atos para a libertação integral do humano, desde a humanidade que clama, com gemido de parto, por uma vida mais plena.

Nosso caminho deve ser um caminho de busca, em constante discernimento.O discernimento evangélico tem um significado muito forte para o cristianismo de hoje, que deseja ser mais personalizado, mais adulto na fé e mais pluralista no diálogo das culturas religiosas.

Discernimento é quando o cristão escuta a Palavra de Deus e capta o eco dos clamores dos homens e mulheres, quando participa do diálogo comunitário e bebe das fontes da água viva da Igreja. Inácio representa a referência clássica do discernimento cristão.

Dentro desse mundo tecnologicamente avançado e de tanta superficialidade, há tantas zonas escuras: a solidão, a falta de sentido da vida, a dor moral, a frustração, a violência, o terrorismo, que é o preço cruel a pagar pelos milhões de pobres, refugiados, marginalizados, oprimidos.

Diante disso, como ensinam os Exercícios Espirituais, podemos encontrar a Deus em todas as coisas abrindo um panorama admirável entre a negatividade de fugir do mundo e de tudo e a ingenuidade do tudo permitido.

Trata-se, portanto, de viver como autêntico cristão, contemplando o mundo, sob a perspectiva da Fé, integrando, no mesmo olhar o conjunto das realidades humanas, o humano e o divino. Isso exige também um relacionar-se com o mundo, promovendo tudo o que leva à vida e transformando tudo o que necessita ser renovado (sem, claro, deixar-se conduzir por afeição desordenada).

Transcorrendo os anos, Inácio aprendeu a reconhecer seu caminho mais pessoal, no chamado a ajudar as almas e se lançar a formar um grupo de companheiros de Jesus.  Inácio nos diz que, sempre, e, em qualquer hora que queria, encontrava a Deus. A vida cristã para ele era uma paixão ardente por Jesus.

Talvez, em nossa sociedade, tão intercomunicada, mas anônima e fria, os cristãos pudessem colaborar com o calor de um amor que, também, na Igreja, se apaga, sob as cinzas de um planejamento frio. Faz-nos falta um coração apaixonado, como Inácio ou como os discípulos de Emaús, para responder às exigências de vida cristã hoje, no desafio da luta por uma sociedade mais justa e fraterna, com abertura e sensibilidade para amar, sem fronteiras, a qual nos impulsiona, hoje à mais variada participação possível, em todos aqueles campos e atividades da vida humana, aos quais nos convoca a causa do Reino de Deus.

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