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Mineração, demarcação de terras e sustentabilidade dominam tarde da 1ª Semea

img_2491A programação da tarde desta quarta-feira (26) da 1ª Semana de Estudos Amazônicos (Semea) foi bastante intensa com a realização de rodas de diálogo, palestras e rituais indígenas. Pesquisadores discutiram, na sala 102 do bloco G e nos jardins da Unicap, temas ligados à demarcação de terras, expansão da mineração e problemas urbanos de Manaus.

A integrante do Serviço Amazonense de Ação, Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), Mary Nelys, começou a roda de diálogo fazendo o que ela chamou de “mística”. Depois de exibir um vídeo com imagens do encontro das águas dos rios Solimões e Negro, a ativista misturou duas amostras das águas amazônicas entre os participantes.

Cada um foi convidado a gesticular da forma como achasse melhor. Alguns cheiraram, outros tocaram e alguns se benzeram com as águas. “Isso representa a troca de saberes dos povos do Norte e Nordeste, que não se misturam mas se complementam”, disse Mary.

img_2489Ela abordou as problemáticas urbanas de Manaus. A cidade é a sexta capital mais rica do país, mas de acordo com Mary, a sociedade sofre com a distribuição ineficiente dessa riqueza. “Apesar de estarmos de frente para o rio Amazonas, falta água nos bairros e não temos saneamento básico. Nossos igarapés recebem os dejetos. As mulheres, que passam o maior tempo em casa e sofrem com a falta d’água, são vozes fortes nos protestos por meio de entidades como o Sares porque não temos a quem recorrer”, destacou Mary.

A degradação ambiental da região amazônica também foi o eixo da explanação do Padre Paulo Tadeu Barausse, o mestre em Teologia Pastoral pelo Instituto Teológico Pastoral para a América Latina chamou a atenção para o crescimento desordenado da mineração. A atividade suprime a camada vegetal do solo, além de usar grandes quantidades de água.

Ainda de acordo com Paulo, as mineradoras violam direitos e invadem terras ocupadas por indígenas. “Há um incentivo do governo federal para a mineração porque o setor contribui no equilíbrio da balança comercial do Brasil. Só que o modelo utilizado é o de commodities, ou seja, o produto exportado tem baixo valor agregado e vive dependente do mercado internacional”.

img_2503A riqueza mineral da Amazônia foi exposta em dados apresentados por uma outra convidada. A mestre em Botânica Tropical pela Universidade Federal Rural da Amazônia e Museu Paraense Emílio Goeldi, Fernanda Leal, afirmou que a Amazônia é rica em ferro, bauxita, níquel, cobre, manganês e ouro. Ainda de acordo com números mostrados pela pesquisadora, a região concentra 1/5 da água doce do planeta, além de ter o maior estuário e a maior floresta tropical do mundo.

Esses aspectos foram discutidos sob o tema O Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Brasileira. “O desafio da sustentabilidade é mudar o estilo de vida, repensando o consumo em busca da sustentabilidade ecológica, que é a capacidade de uma população em ocupar uma área sem por em risco os recursos”.

Já a demarcação de terras indígenas foi o ponto abordado pelo Padre Vanildo Pereira. Graduado em Direito, Filosofia e em Teologia, ele integra o Conselho Indigenista Missionário – CIMI Norte 1. De acordo com números apresentados por ele, a população indígena brasileira é de 896.917 e deste total, quase a metade (42%) vive fora de territórios demarcados.

img_2508De acordo com o pesquisador, os interesses econômicos exercem uma forte influência nas regras que regulamentam essa questão. Há vários Projetos de Emendas Constitucionais (PEC), patrocinados pela bancada ruralista, que buscam transferir o poder de decisão do governo federal para o Congresso Nacional. “É direito originário (anterior à Constituição de 1988) dos povos indígenas de demarcar a sua própria terra ancestral”.

A programação da tarde foi encerrada em mais uma roda de diálogo. Direto do Coração da Amazônia: os saberes femininos tradicionais foi o tema que norteou a conversa entre a psicóloga Aramita Prates Greff, mulheres indígenas da região do Alto Solimões e o público presente. O grupo interagiu na oca monta nos jardins da Biblioteca.

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