Integrantes do Instituto Humanitas Unicap participam de peregrinação na Região do Baixo São Francisco em Sergipe
|Por Artur Peregrino
O Instituto Humanitas da Unicap (IHU) e o Grupo de Peregrinas e Peregrinos do Nordeste (GPPN) realizaram, de 1 a 8 de julho, uma peregrinação no Baixo São Francisco, no Estado de Sergipe. participaram 10 peregrinas e peregrinos que caminharam cerca de 100 quilômetros em direção a foz do Rio São Francisco. Do Instituto Humanitas Unicap participaram Artur Peregrino e Carlos Vieira.
Um dos objetivos da caminhada foi dar um mergulho na realidade que envolve a questão socioambiental da região. “O foco foi ver e conviver de perto com o Rio São Francisco e com as populações ribeirinhas. Foi uma experiência rica em humanidade e espiritualidade. A mesma possibilitou fazer um diagnóstico da religião. Ao mesmo tempo descobrir caminhos alternativos para os desafios encontrados”, relatou Artur Peregrino.
No trajeto, passaram por várias cidades e povoados, com destaque para duas comunidades quilombolas: Comunidade Quilombola Brejão dos Negros e Comunidade Quilombola Resina, ambas no município de Brejo Grande-SE.
Um ponto alto da peregrinação foram as Assembleias Populares. Em cada cidade, vila, povoado e sítio o grupo realizou uma roda de conversa para conhecer a realidade local e a partir daí aprofundar os desafios. Em cada Assembleia Popular o assunto era a vida do Rio São Francisco e do povo que vive em torno do Rio. “Esse momento foi de grandeza extraordinária. Acontecia sempre uma roda de conversa com o objetivo de construir um processo político de democracia direta e ser também um espaço de celebração das lutas da região visitada. Tinha um caráter de apoiar, fortalecer as iniciativas de cada lugar”, destacou Peregrino.
“Percebemos que existe uma controversa sobre a CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales de São Francisco e do Parnaíba) entre os trabalhadores do Baixo São Francisco-SE. Uns lembraram que a CODEVASF tirou o julgo dos trabalhadores em relação aos fazendeiros. Outros acham que aconteceu uma piora na vida do povo do Baixo São Francisco e evocava a memória de Dom José Brandão de Castro (primeiro bispo da diocese de Propriá) quando tinha uma postura crítica em relação a mesma”, completou Artur.
Segundo Ciana Maria, pescadora e liderança política do povoado de Saramem, “há 3 problemas graves na Região do Baixo São Francisco: a. o envenenamento do Rio São Francisco através dos agrotóxicos disseminados na região proveniente dos arrozais e dos criatórios de camarão; b. a baixa consciência socioambiental dos habitantes da região; c. a grave situação da falta de água para o consumo humano, porque a água do Rio se tornou salobra com o avanço do mar. O abastecimento com carro pipa traz muitos problemas de saúde para a população”. Segundo dona Elza Souza, liderança da comunidade Quilombola de Brejão dos Negros: “nós estamos numa situação difícil porque não podemos beber água do rio e também tem pescador pegando peixe do mar que é de água salgada no Rio São Francisco que é de água doce, a exemplo do peixe bagre”.
Foi muito forte perceber as ricas expressões culturais de resistência do povo dos Quilombos. As comunidades apresentaram coreografias de danças afro como também músicas diversas de resistência. Demonstraram para nós que uma dança de coco pode se tornar em algo revolucionário quando relembra a luta dos antepassados.
Foi chocante perceber que a memória de uma Igreja da Libertação, que foi implantada com muito suor em tempos idos, está caindo no esquecimento em pleno papado de Francisco que pede uma Igreja em saída. “Uma Igreja que deve sair de si mesma, rumo às periferias existenciais”.
Por fim, a peregrinação acontecida no Estado de Sergipe em julho de 2018 afirmou a centralidade na pessoa humana. O estilo peregrino resgatou a inteireza do ser em todos que participaram da peregrinação. Com essa iniciativa a UNICAP se fez presente, através do Instituto Humanitas Unicap, em estradas poeirentas do Nordeste, criando novos espaços pedagógicos.
Parabéns para os peregrinos! Refontizar a espiritualidade e a experiência do por-se à caminho, trás novos alentos à esperança e abre perspectivas no caminhar. Vamos caminheiro, o caminho é caminhar.