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Debate sobre a expressão religiosa na internet movimenta o Colóquio Internacional Fé na Internet

A mesa foi composta por professor Gilbraz Aragão, coordenador do Mestrado em Ciências de Religião e pelo professor
A mesa foi composta pelo professor Gilbraz Aragão, coordenador do Mestrado em Ciências de Religião e por Moisés Sbarelotto

No encerramento do Colóquio Internacional Fé na Internet, nesta quarta-feira (6), o professor Moisés Sbardelotto abordou o tema “E o verbo se fez bit: a experiência religiosa na internet”. Inspirado na sua pesquisa de mestrado, defendida em 2011, Moisés discutiu a experiência religiosa e a comunicação entre internautas em sites católicos. A relação de uma pessoa, mediada pelo computador, com uma experiência sagrada.

Confira abaixo uma entrevista com o professor Moisés Sbardelotto:

IMG_6847Como foi dividida a sua pesquisa?

O primeiro ponto seria a questão da inferface. Em uma experiência religiosa, que se dá pelo computador e pela internet, o que significaria, por exemplo, ter uma tela. Qual a funcionalidade e o que é que ela interfere ou não nessa experiência religiosa. A hierarquia que as informações estão distribuídas e a composição gráfica desses sites também foi pesquisada, assim como que tipo de linguagem e imaginário religioso está presente nesses sites.

Em segundo lugar, seria como se dão as interações discursivas. O que as pessoas estão escrevendo nesses sites católicos, como é que esses sites convocam os fiéis para fazerem uso desses rituais, dessas experiências, e que tipo de textualidade sobre o religioso está presente.

Por fim, as interações rituais. O que o internauta comum tem que fazer, na prática, nesses sites. Onde é que ele tem que clicar, que tipo de ação tem que fazer, onde e o que ele tem que escrever . Em resumo como é que se dão essas conexões nesses sites. Como é que a liturgia, que era vivida no templo, é transposta para o âmbito comunicacional da internet.

Quais foram as conclusões que você chegou?

Uma metamorfose da expressão da fé na contemporaneidade ou, como eu chamei, uma midiamorfose da fé. A atual manifestação vem sendo modificada pela presença da mídia. Abordei isso como novas espacialidades, temporalidades, materialidades, discursividades e novas ritualidades. Como é que essas cinco dimensões da expressão do sagrado estão se transformando.

Na pesquisa, teve alguma situação prática que chamou a sua atenção?

Foi exatamente como a pesquisa começou. Em um dos sites pesquisados, encontrei um link que se chamava Padre Online, onde as pessoas poderiam entrar em contato com essa liderança religiosa. Na página, havia um depoimento de um rapaz, que morava no interior de São Paulo, relatando que morava muito longe da igreja mais próxima, bem na zona rural, não tendo condições de participar das missas do domingo.  O rapaz então comprava hóstias e colocava uma taça com vinho, juntando a família na frente da televisão para assistir a missa, ao vivo. Enquanto o padre celebrava, ele também fazia a sua missa familiar. Só que ele é uma pessoa comum, não é padre nem nada. Ele escrevia então para esse Padre Online perguntando se essa cerimônia que ele fazia era válida. Para a Igreja Católica, seria uma coisa completamente herética, impossível e não válida. Mesmo assim, o site respondeu que eles estavam abrindo perspectivas para uma igreja do futuro. Que hoje esses ritos não sejam permitidos, mas como a tecnologia avança cada vez mais, pode ser que no futuro isso seja normal. Isso me chamou atenção porque são formas de viver o sagrado que as pessoas vão inventando e criando, por causa da presença da mídia.

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