Consequências do aquecimento global marcam abertura do 6º Encontro das Águas
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As consequências do aquecimento global dominaram os debates da noite de abertura do 6º Encontro Internacional das Águas (EIA), realizada nesta quarta-feira (11) no auditório G2 da Universidade Católica de Pernambuco. O Prof. Dr. Leandro Calado, do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM-RJ); e a coordenadora do Laboratório de Meteorologia de Pernambuco (Lamepe), Francis Lacerda, foram os palestrantes.
Ao dar as boas-vindas, a Pró-reitora Acadêmica, Aline Grego, justificou a ausência do Reitor da Unicap, Padre Pedro Rubens, que está representando a Universidade no encontro da Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus (Ausjal) no Chile. Mas ele gravou um depoimento em vídeo que foi exibido num telão instalado no auditório. Na mensagem, Padre Pedro destacou a importância da temática do evento. “Esse tema é fundamental para a nossa existência. Espero que o EIA possa interferir de alguma forma nas atitudes da nossa sociedade em relação ao meio ambiente”.
Ainda no depoimento, ele revelou que está em fase de elaboração um projeto para tratar da temática água que envolve cinco universidades ligadas à Federação Internacional das Universidades Católicas (Fiuc). A ação foi motivada pelo sucesso das edições anteriores do Encontro das Águas realizado pela Unicap.
A primeira explanação da noite ficou a cargo do professor Leandro Calado. Graduado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e com mestrado e doutorado em Oceanografia pela Universidade de São Paulo, ele abordou um tema no qual se especializou: modelagem numérica oceanográfica. Segundo Calado, tais modelos são equações matemáticas e físicas que representam um oceano. “É uma ferramenta que permite reproduzir os oceanos no computador. A partir disso, podemos simular o comportamento das temperaturas, funcionamento das correntes e relevo marinho. Com esses modelos, pode-se testar hipóteses e teorias”, detalha.
Leandro destacou um fenômeno chamado de Ressurgência Costeira de Cabo Frio, processo no qual águas ricas em nutrintes do fundo do mar são levadas à superfície. Tal fenômeno influencia diretamente a vida marinha desta região fluminense e, consequetemente, na produção pesqueira. O professor explicou que as temperaturas dessas águas sofreram elevações, mas ele não precisou se isto tem relação com o aquecimento global.
A outra convidada da noite, a meteorolgista Francis Lacerda, falou sobre o impacto das mudanças climáticas no suprimento de água. Com 22 anos de carreira, ela formou-se pela Universidade Federal da Paraíba, onde também fez mestrado. Atualmente, é doutoranda em Recursos Hídricos pela Universidade Federal de Pernambuco. Francis representou o Brasil na última Conferência do Clima da ONU, realizada em Copenhagen, na Dinamarca, em 2009.
Ela apresentou dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês). Os cientistas têm 90% de certeza de que o aquecimento global registrado no últimos 50 anos é causado pela atividade humana. No Brasil, as regiões da Amazônia e Nordeste são as mais vulneráveis a essas mudanças, segundo o instituto. “Nós não sabemos o que nos espera. A humanidade nunca presenciou mudanças climáticas bruscas, talvez os dinossauros”, explicou.
Os gráficos mostrados por Francis ilustram o aumento considerável da emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera gerado pelos continentes. América do Norte, Europa e Ásia contribuem com a escala industrial. Já a América Latina interfere na emissão do gás por conta do desmatamento para uso desordenado da terra para fins agrícolas. Nesse contexto, o Brasil é um dos maiores poluidores do planeta. “As consequências de uma atmosfera aquecida são chuvas isoladas e intensas; ondas de calor; solos empobrecidos; e assoreamento dos rios”.
Francis destacou que as consequências do aquecimento global já estão em curso e fazem parte da nossa realidade atual. Ela comprovou com dados das últimas chuvas em Pernambuco, que provocaram enchentes na Zona da Mata Sul. O ano de 2011 registrou o segundo mês de abril mais chuvoso dos últimos 100 anos. Só choveu mais em 1973. “Em Jaboatão dos Guararapes houve precipitação pluviométrica de 760 mm, quando o normal nesta época fica em torno de 200mm.” Apesar da intensidade, Francis prevê que a quantidade e a distribuição das chuvas sofrerão diminuição. “No Sertão do Pajeú, já há registros de 8,3mm de redução de chuva ao ano. A tendência é de que o semi-árido nordestino se torne árido”.
Segundo a coordenadora do Lamepe, as populações rurais sofrerão com perdas de colheitas, falta de alimentação e migrarão para os centros urbanos costeiros, “agravando problemas sociais já existentes nas grandes cidades”. Para Francis, a pesquisa científica pode nos ajudar a enfrentar tudo isso. “É preciso investir nas redes de pesquisas, na elaboração de mapas de vulnerabilidade para que possamos nos atencipar às consequências das mudanças climáticas”.
O evento do 6º Encontro Internacional das Águas (EIA) acontece em parceria com o Instituto Humanitas Unicap – IHU.
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