Boletim Unicap

Clínica de Fonoaudiologia lança projeto para atender pessoas com implante coclear

Para muitas pessoas com surdez, a cirurgia de implante coclear pode representar uma nova vida de inclusão. A audição é o primeiro canal de interação com o mundo e é por meio dele que o ser humano adquire a habilidade de fala. No entanto, o implante requer um acompanhamento pós-cirúrgico para o resto da vida: manuseio, limpeza, substituição de baterias, consertos periódicos e programação dos aparelhos fazem parte da manutenção que, assim como a cirurgia, também são obrigações do Sistema Único de Saúde (SUS) em garantir esse direito.
“O SUS é obrigado a substituir ou consertar o implante após os três anos de garantia”, explica a professora e fonoaudióloga Cristiane Zilbermintz. De acordo com o último censo do IBGE realizado em 2010, Pernambuco tem 4,7% da população surda, ou seja, quase meio milhão de pessoas. “A surdez é um problema de saúde pública no Estado”, aponta a especialista.
O desconhecimento desse direito faz muitos pacientes implantados não recorrem ao SUS quando os aparelhos se quebram e por isso voltam a ter dificuldades em escutar. Numa tentativa de ser uma alternativa ao serviço público, a Clínica de Fonoaudiologia da Universidade Católica de Pernambuco está oferecendo um novo serviço de acompanhamento para pessoas com implante coclear.
Podem ter acesso bebês, jovens, adultos, crianças e idosos com um ou dois implantes. Há a cobrança de uma taxa bem abaixo dos preços praticados pelo mercado mas, dependendo das condições socioeconômicas do paciente, o atendimento pode sair de graça. São quatro sessões por mês (sempre uma vez por semana).

“O atendimento é integral porque envolve alunos dos cursos de Enfermagem, Medicina, Psicologia, Pedagogia e Fonoaudiologia. Vamos ter até um grupo musical durante as sessões porque o ritmo e a melodia são as ferramentas mais ricas de estimulação cerebral. A nossa meta é promover a inclusão plena dando todo o suporte para que o paciente não fique sem ouvir”, explica Cristiane que é a coordenadora do serviço.
Ela conta também que pretende montar um banco de peças a partir de doações para que eventualmente possam ser usadas nos consertos dos aparelhos. “Estamos buscando parcerias com empresas de implante”. O serviço da Clínica de Fonoaudiologia da Unicap vai promover ainda oficinas de cidadania “para informar sobre os direitos no ambiente escolar e dos usuários de planos de saúde”, complementa a professora.
Uma das usuárias e entusiastas dos benefícios do implante é a estudante do ensino médio Maria Eduarda Melo Medeiros, 17 anos. Ela fez o primeiro implante ainda criança, aos quatro anos, no ouvido esquerdo. Aos 13, foi a vez do lado direito. Ela conta que é preciso ter paciência para enfrentar as dificuldades de uma sociedade que ainda não está preparada o suficiente para conviver com pessoas que usam o implante coclear.
“Na infância foi muito difícil. Meus amigos tiravam onda com meu sotaque. Conversei com muitos psicólogos. Minha mãe foi diversas vezes ao colégio conversar com os professores”, relembra. Ela conta que o relacionamento com os amigos só melhorou a partir dos 10 anos de idade. “Ainda havia preconceito, mas aos poucos as pessoas foram entendendo e melhorou”.
Eduarda  ressalta que leva uma vida absolutamente normal, só tira os aparelhos para tomar banho e para dormir, que é quando recarrega as baterias dos implantes. Ela se queixa de sofrer preconceito de outras pessoas surdas que, segundo a estudante, se recusam a receber o implante alegando que perderiam um importante traço de identidade. “Acho que isso não tem nada a ver porque. Certamente elas não receberam as informações adequadas e perdem esta oportunidade de inclusão”.
Outro jovem que está sendo acompanhado pela Clínica é José Andrey Rodrigues Souto, 14 anos. A mãe dele, dona Regilene Rodrigues Moisez, conta que percebeu que o filho não escutava aos cinco dias de nascido.  “Ele não emitia nenhum tipo de som e quando ele fez a primeira cirurgia começou a emitir sons”, diz. Aos 2 anos, ele fez o primeiro implante no ouvido esquerdo e aos 8 anos foi a vez do ouvido direito.
Dona Regilene conta que um dos maiores desafios está em garantir integração e inclusão do filho no ambiente escolar. “É preciso acompanhar sempre”. Tímido, o estudante do 8º ano do ensino médio fala do que mais gosta na escola. “O que mais gosto é computação, meu relacionamento é bom. Só não consigo entender muita coisa em inglês”, pontua.
Serviço
Clínica de Fonoaudiologia da Unicap
Bloco C – 4º andar
Atendimento para implante coclear: sextas-feiras, das 13h às 16h
Vagas limitadas
Informações: 2119-4137
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