A trajetória acadêmica de Carlos Fernando Gomes do Nascimento é impecável. Aos 25 anos, o concluinte do curso de Engenharia Civil já teve 55 trabalhos publicados entre artigos em revistas nacionais e internacionais, capítulos de livros e em congressos, sendo citado por pesquisadores dos Estados Unidos e Irã.
Desde o primeiro período, ele se destacou nas monitorias das disciplinas de Desenho Técnico, Geometria Descritiva, Topografia e Materiais. Daí para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) foi um salto. Foram três anos de pesquisa numa rotina incansável. Estágios em empresas públicas e privadas pela manhã, aulas à tarde e mais estudo à noite. Nesse meio tempo, ele ainda encontrou brecha para dar aulas particulares a colegas e estudantes de outras instituições de ensino.
Mal pegou o diploma na colação de grau realizada mês passado, no Centro de Convenções de Pernambuco, e Carlos já colheu mais conquistas fruto de seu desempenho. Ele foi aprovado em dois mestrados ao mesmo tempo: segundo lugar no Programa de Pós-graduação em Engenharia e Ciências dos Materiais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em quarto lugar no mestrado em Engenharia Civil da Universidade de Pernambuco (UPE). “Vou fazer os dois e ver até onde essa loucura vai dar certo”.
Só ouvindo ele falar para perceber que a determinação do rapaz é tão grande quanto sua timidez. Engana-se quem pensa que o senso de responsabilidade de Carlos só começou na vida universitária. Pelo contrário. “Descobri que a única maneira de mudar a minha vida era através dos estudos”. A tal descoberta veio aos oito anos de idade quando os pais se separaram. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, Carlos é de uma família moradora do bairro de Socorro, em Jaboatão dos Guararapes. O padastro é jardineiro. A mãe dele, Severina Edite dos Santos, trabalhou como manicure para incrementar a renda e ajudar o filho.
Ao ver uma reportagem na TV sobre profissões, já na adolescência, Carlos descobriu a vocação para a Engenharia Civil. O esforço para conseguir uma vaga no ensino superior aumentou com a chegada ao Ensino Médio, feito na Escola Estadual Poeta Mauro Mota. “Eu assistia às aulas e depois estudava por dez horas em casa, revisando e aprofundando o conteúdo”, relembra.
Tanta dedicação e aí veio o resultado. Em 2013, ele fez o Enem e passou no bacharelado em Física da UFPE e na tão sonhada graduação de Engenharia Civil numa faculdade particular. Carlos optou pelo curso de seu sonho, mas resolveu transferi-lo para a Unicap depois que conheceu a estrutura da Universidade no Católica In (evento anual de informação profissional). “O ambiente foi muito receptivo comigo e observei a estrutura. Tudo isso de um modo geral me encantou e eu disse: ‘Meu Deus, eu quero estudar nessa Universidade. E a única maneira de conseguir entrar aqui foi estudando. Eu não tinha condições de pagar um pré-vestibular”.
Foi aí que ele fez Enem outra vez, em 2014, e com a nota conseguiu uma bolsa 100% do Programa Universidade Para Todos (Prouni) para finalmente vir estudar na Unicap. “Eu quase não fiquei de pé quando a DAS me ligou (Divisão de Ação Social da Unicap). Foi uma felicidade muito grande pra mim e para a minha mãe também. Foi uma emoção muito grande. Todo o esforço, a estafa que eu tive, tudo valeu a pena”.
Mas como tudo na vida de Carlos, a adaptação não foi fácil. Ele conta que sofreu preconceito por ser bolsista. “Algumas pessoas não me compreendiam pelo fato de eu ser bolsista, mas com o passar do tempo eu consegui mostrar que ser bolsista ou não não me diferenciava de ninguém. Somos todos iguais”, conta Carlos, emocionado. “Tive que lutar muito para ser respeitado como pessoa. Por isso, eu dediquei a minha vida à universidade. Independentemente de você ser negro, vir de uma comunidade carente, ser bolsista, isso não impede de você ser quem você é. Isso que me fez ter força para continuar. Eu sou muito grato por tudo o que aconteceu na minha vida”.
De acordo com ele, essa gratidão se deve em grande parte pela acolhida de professores e funcionários, em especial os docentes do Centro de Ciência e Tecnologia (CCT) e os setores de estágio, tesouraria e admissão. “Sempre me deram muito apoio, muita ajuda. Construí uma grande amizade com essas pessoas. Consegui me integrar e eles torcem muito por mim”, afirma o ‘xodó’ das ‘meninas’ da Diretoria de Gestão Escolar, área responsável pelo processamento dos dados acadêmicos dos alunos.
Carlos também faz questão de agradecer a sua orientadora, a professora Eliana Cristina Barreto Monteiro. “A minha madrinha na Universidade que me deu muitas oportunidades e acreditou no meu potencial”.
Carlos não tem dúvidas de que a relação com a Unicap mudou a sua vida para sempre. “Nunca pensei em desistir porque eu sabia que a minha formação me daria um norte e me trouxe realmente um caminho. Vou levar o nome da Católica para outros lugares. É o que mais me dá prazer, contribuir para a Universidade assim como ela contribuiu comigo porque além de me formar enquanto profissional, a Católica me formou para a vida”, resume o pesquisador que planeja fazer doutorado e sonha em voltar para a Unicap como professor, “se Deus quiser”.