Boletim Unicap

16 ªSemana da Mulher na Unicap discute a relação das mulheres negras e o sistema carcerário

O auditório G1 ficou completamente lotado na manhã desta quinta-feira (8) durante o debate promovido pela 16ª Semana da Mulher na Unicap que tratou da relação das mulheres negras, o sistema carcerário brasileiro e a segurança pública. O tema foi discutido pela representante do Coletivo Filhas do Vento, a professora mestra Waneska Andressa Viana de Oliveira. A mediação foi da Prof. Drª da Unicap e UFPE, Manuela Abath, e da mestranda da Universidade de Brasília e integrante do grupo de pesquisa Asa Branca de Criminologia da Unicap, Fernanda Lima.

 

Waneska é mestra em Educação, Culturas e Identidades pela Universidade Federal Rural de Pernambuco e Fundação Joaquim Nabuco. A pesquisa dela teve como foco as mulheres negras presidiárias e as possibilidades de ações emancipatórias. Uma das inquietações que eu tinha era saber quem estava ali. Eu queria dar visibilidade a essas pessoas. O que as levam a estar ali? O que não é falado, não é lembrado”, provocou.

A pesquisadora conviveu durante cinco meses com seis mulheres negras detentas da Colônia Penal Feminina do Recife (antiga Bom Pastor). Waneska chamou a atenção para as precárias condições da população carcerária no que se refere à alimentação, higiene, educação e ressocialização. “A mulher é ainda menos visibilizada nessas condições. A estrutura é toda construída para homens. Se a mulher menstrua, não tem acesso à absorventes, por exemplo”.

Um dos depoimentos que mais chamou a atenção de Waneska foi a de uma detenta com 21 anos que disse que o melhor momento da vida dela aconteceu quando a mãe alcoólatra morreu. “Porque segundo ela, quando a mãe dela faleceu, as pessoas começaram a dar atenção a ela. Começaram a se solidarizar com ela, coisa que até então não acontecia”. Segundo Waneska, a mulher não conheceu o pai.

Ainda de acordo com Waneska, grande parte das mulheres negras detentas é analfabeta funcional ou sequer terminou a 8ª série. Muitas entram para o tráfico por questões financeiras. “É um pensamento machista achar que a mulher só entra para o tráfico por conta dos companheiros. Muitas têm filhos jovens e não têm escolaridade, não conseguem entrar no mercado de trabalho e acabam no tráfico”. Dados apresentados por ela revelam que população carcerária com este perfil cresceu 500% nos últimos 10 anos.

 

 

Waneska também falou sobre as dificuldades de ressocialização devido à falta de políticas públicas. “Ela já é mulher, já é negra, já é presidiária. Imagine o estigma de ser presidiária. Então as possibilidades de elas se reinserirem na sociedade são muito poucas. O que deveria ocorrer era um acompanhamento dessas mulheres pós-sistema penitenciário, mas a gente não vê esse trabalho”.

A pesquisadora destacou a importância de um trabalho interdisciplinar como base de uma política pública eficiente para o sistema carcerário. “Aquilo é uma estrutura complexa e como toda estrutura complexa precisa de interdisciplinaridade para tratar a complexidade daquela ação. Todos os campos da ciência, da academia são extremamente necessários para tratar dessa realidade que afeta todos nós”.

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