FLASHES NA FLORESTA E CAPTURA INVERSA

FOTOGRAFIAS DO SPI E PERFORMANCES DE RESISTÊNCIA KULINA-MADIHA NO POSTO INDÍGENA DO RIO GREGÓRIO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25247/hu.2024.v11n21.p50-74

Palavras-chave:

História Indígena, Amazônia, Fotografias, Indigenismo , Seringal

Resumo

O seringal e seu organograma transformaram a Amazônia. No caso dos Kulina-Madiha, entre os séculos XIX e XX, ele se mostrou vorazmente mortífero e explorador. Na implementação do Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e sua defendida “proteção” na floresta amazônica, este povo, na calha do Juruá, tornou-se protagonista no Posto Indígena do Rio Gregório, no Amazonas. O órgão indigenista fotografava os indígenas com o intuito de consolidar as suas imagens como trabalhadores agrícolas e “civilizados”. No ano de 1928, no baixo rio Gregório, eles foram fotografados pelo auxiliar de fotografia, Anastácio Queiroz, um dos atuantes nos trabalhos de registros. Sendo assim, o objetivo do presente artigo é analisar algumas das imagens feitas nesse período e construir, a partir delas, uma reflexão teórica atravessada por bibliografias,  possibilitando tensionar os conceitos de “performance” e “captura inversa”. Nesse sentido,  é possível compreender que, apesar das intencionalidades do fotógrafo, havia o agenciamento Kulina-Madiha por meio da performance, o que culminou em uma “captura inversa”. Quem fotografava realmente esconderia o protagonismo e a resistência Madiha naquelas paragens? Este artigo busca pensar criticamente sobre as imagens no âmbito da História Indígena. 

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Biografia do Autor

  • Andrisson Ferreira da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    Doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), inserido na linha de pesquisa "História Indígena, Etnohistória e Arqueologia"; também é estudante de graduação no curso de Direito pela mesma instituição. Integra o Laboratório de História Indígena (Labhin/Ufsc) e possui aperfeiçoamento em "Ensino de História: saberes e fazeres de matriz africana e indígenas". É licenciado em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac - 2017/2022); foi bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid - 2018-2019) e também do laboratório Observatório de Discriminação Racial do estado do Acre (LabODR/AC - 2018-2020), do Programa de Residência Pedagógica da área de História (2018-2022); foi pesquisador do Programa de Bolsa de Iniciação Científica (Pivic e Pibic - 2018-2022) nos seguintes projetos: "Apontamentos sobre o golpe civil-militar de 1964 no Acre: Ditadura, Intolerância e perseguições políticas" (2018); "Práticas Pedagógicas em Educação das Relações Étnico-Raciais em Escolas de Educação Básica do Estado do Acre" (2019-2021); "Representações dos povos indígenas do Acre nas plataformas digitais brasileiras" (2021-2022). Atualmente é integrante do grupo de Pesquisa "Historia Indígena, Etnohistoria e Arqueologia". Possui experiência na área editorial, tendo atuado como Editor Gerente na "Revista Em Favor de Igualdade Racial" (Refir) e também no corpo editorial técnico da "Revista Das Amazônias - revista discente de História da Ufac" e livros.

     

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Publicado

2024-11-29

Como Citar

SILVA, Andrisson Ferreira da. FLASHES NA FLORESTA E CAPTURA INVERSA: FOTOGRAFIAS DO SPI E PERFORMANCES DE RESISTÊNCIA KULINA-MADIHA NO POSTO INDÍGENA DO RIO GREGÓRIO. HISTÓRIA UNICAP , Recife, PE, Brasil, v. 11, n. 21, p. 50–74, 2024. DOI: 10.25247/hu.2024.v11n21.p50-74. Disponível em: https://www1.unicap.br/ojs/index.php/historia/article/view/2970.. Acesso em: 5 dez. 2025.

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