Livro reúne textos das Jornadas Teológicas a partir do legado de Dom Helder Câmara

Dom Helder, precursor da Igreja em saída foi o título da mesa redonda que marcou o lançamento do livro Semeando a Esperança de uma Igreja Pobre, Servidora e Libertadora. O debate foi mediado pelo professor do curso de Direito e integrante do Instituto Humanitas Unicap (IHU), Manoel Moraes, com a participação do Frei Aloísio Fragoso e do Padre Marcelo Barros. O evento aconteceu na noite desta quinta-feira (30), no auditório Dom Helder Câmara.

As intervenções giraram em torno da Teologia da Libertação defendida por Dom Helder. Frei Aloísio destacou que a luta por justiça social fez o Dom da Paz buscar um caminho politizado. “Foi a capacidade de unificar o homem da terra e o homem do céu, que levou Dom Helder a assumir uma mensagem radical do evangelho porque a fé sem obras é morta. E a compreender a seguir uma outra radicalidade não menos evangélica: que a pobreza voluntária, o desapego dos bens materiais, o despojamento é uma virtude cristã. Mas a pobreza compulsória, a miséria imposta é uma das mais graves ofensas ao Criador”.

Frei Aloísio também chamou a atenção para o tom profético do legado de Dom Helder. “Como todos os verdadeiros profetas, Dom Helder foi amado e odiado. Teve seguidores apaixonados e perseguidores implacáveis. Por isso, ele pagou o mesmo preço de Isaías, Amós, Jeremias, Oseias, Gandhi, Luther King, Che Guevara e tantos outros”.

Ao final de sua fala, ele conclamou o público presente a fazer desse legado não só uma memória, mas uma herança. “A herança de Dom Helder em nossas mãos tem que ser uma bandeira de frente que nos leve aos lugares onde, com toda certeza, ele estaria hoje se fosse vivo: nas ruas e praças da cidade, em toda parte onde se volta a lutar em defesa dos direitos de um povo espoliado contra os ataques de uma quadrilha de usurpadores que se apossou do poder criminosamente. Em suma, Dom Helder está vivo se o fizermos viver”.

O outro debatedor da noite, Padre Marcelo Barros, relacionou a missão profética de Dom Helder com o direcionamento dado pelo Papa Francisco que, segundo ele, quer uma Igreja em Saída. “Dom Helder tinha uma outra maneira de dizer isso, uma Igreja Pascal. Mas qual a diferença de uma Igreja Pascal e uma Igreja de Saída? É a mesma coisa. Uma Igreja pra fora, o tempo todo em mudança. Mas como é que se concretiza essa pascalidade, essa saída? É na opção pela libertação. Traduzindo: uma Igreja revolucionária”.

Livro – Semeando a Esperança de uma Igreja Pobre, Servidora e Libertadora reúne textos de 50 palestras realizadas durante as 13 Jornadas Teológicas promovidas pela instituição Igreja Nova, editora da obra. A confraria reuniu leigos num movimento que entrou para a história da Arquidiocese de Olinda e Recife na década de 1990 que questionava posicionamentos e algumas medidas do então Arcebispo Dom José Cardoso, sucessor de Dom Helder. “O grupo promovia cursilhos, encontros, as jornadas eram ecumênicas. Foi um fenômeno teológico e político muito rico, algo muito forte na cidade do Recife”, pontuou o professor Manoel Moraes.

A jornalista Rejane Menezes foi uma das fundadoras do movimento Igreja Nova. Ela contou que a mobilização começou a partir da edição de um jornal com textos que questionavam mudanças na Paróquia de Boa Viagem. A publicação inspirada nos ideais de Dom Helder ganhou tanta repercussão que foi a primeira publicação do tipo a ter um site na Internet. O jornal tinha assinantes em várias regiões do Brasil e em países como Canadá e Portugal.

 

Ela relembra ainda que Dom Helder chegou a participar da primeira Jornada Teológica realizada em 1998. As edições contaram com a participação de Frei Beto, Leonardo Boff, Dom Gaillot, Giulio Girard entre outros. “As jornadas representaram um marco na história da Arquidiocese porque não deixamos o nome de Dom Helder ser esquecido”.

Publicado originalmente em Boletim Unicap | Daniel França | Últimas

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